quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O MP3 MORREU?



Por David Dines 



Nos últimos meses, muitos veículos de imprensa noticiaram a “morte” do MP3, 24 anos depois de sua criação. O que acontece com o formato agora e no que isso implica para os artistas independentes?

O que é notícia, de fato, é que a organização alemã Fraunhofer Institute of Integrated Circuits, envolvida na criação do MP3 e do Technicolor, está parando de licenciar o formato comercialmente, devido à expiração voluntária da patente.

No entanto, isso não significa que o MP3 está morto. Pelo contrário, inclusive: livre de patentes, todos poderão criar produtos com suporte ao MP3 livremente, sem necessidade de pagamento de royalties ou risco de processo judicial. Por ser um formato originalmente proprietário, muitas versões do Linux vinham sem o codec nativo de MP3 por questões de licenciamento até pouco tempo atrás, por exemplo.

Essa expiração voluntária é reflexo de uma mudança na relação do consumo dos fonogramas na era digital. Inicialmente revolucionário na virada dos anos 1990 para 2000, o MP3 perdeu prioridade de mercado com o avanço do streaming e a licença deixou de ser estratégica. O fato de as conexões de Internet hoje serem cada vez mais estáveis e terem bandas maiores permitiu a mudança da relação do público com o áudio gravado. O ouvinte médio hoje prioriza o acesso à música em qualquer tempo por meio de uma plataforma do que possuir um arquivo, que ocupa espaço no disco rígido dos seus dispositivos. Além disso, com o surgimento de serviços como o Spotify, Deezer e Apple Music, é possível conectar-se a um amplo catálogo musical em poucos cliques — muitas vezes, de forma gratuita ou pagando um preço módico. Diante do avanço dessa interação por meio dos smartphones, esse fenômeno fez com que o MP3 player e outros aparelhos afins caíssem em desuso.

Desde 2016, o streaming é o principal meio de interação do público com música gravada em todo o mundo, e os números continuam crescendo. Outros pontos positivos dessa transformação da indústria são o aumento da participação dos independentes no mercado fonográfico oficial, à parte da ilegalidade e da pirataria, e a ampliação das possibilidades de monetização da música para seus criadores.

O MP3 provavelmente continuará sendo a base das algumas plataformas de download e streaming e também um bom tipo de formato para oferecer ao público como opção de download gratuito, dentro da estratégia de divulgação de um lançamento. No entanto, outros formatos de áudio estão ganhando a atenção da indústria por oferecerem vantagens em relação ao MP3.

Um deles é o AAC (Advanced Audio Codec), que também foi co-criado pelo instituto Fraunhofer. Por ser mais eficiente na concentração de informações e oferecer uma compressão de áudio menor do que a do MP3, o AAC vem sendo utilizado como padrão de execução por iTunes, Apple Music e YouTube, entre outros. O Spotify tem trabalhado com outro tipo de formato para execução de áudio: o Ogg Vorbis. E também há serviços de streaming que investem nos tipos de arquivos lossless, como o FLAC, nos quais o áudio permanece em sua mais alta qualidade, mas exige do dispositivo um consumo de memória maior.

Pelo fato de cada uma das plataformas trabalhar seus áudios de forma diferente, continua sendo necessário que as masters originais sejam fornecidas em WAV, 16 bits, 44.1 kHz, que é o padrão do áudio de CD. Arquivos com padrão superior a 16 bits são aceitos por apenas alguns serviços, como o iTunes no caso das “Masters for iTunes“.

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