Por Carolina Santos
O ano de 2013 segue para o final já como um dos piores da história para o forró. Em um espaço de menos de seis meses, perdemos Dominguinhos, Arlindo dos Oito Baixos e, na sexta-feira, dia 06, João Silva, um dos maiores compositores pernambucanos. O enterro aconteceu na cidade natal do músico, Arcoverde. Ele tinha 78 anos.
Luiz Gonzaga teve a ajuda de três grandes parceiros para construir uma carreira única na Música Popular Brasileira e no imaginário do Nordeste. O primeiro foi Humberto Teixeira, advogado cearense que ajudou Gonzaga a cantar sobre os retirantes e a natureza do Sertão. Logo depois, o médico Zé Dantas deu continuidade aos temas, e adicionou a crítica social ao repertório do Rei do Baião.
João Silva evidenciou a malícia, a “gaiatice”, o duplo sentido na obra de Luiz Gonzaga. Os dois se conheceram em 1962, mesmo ano em que Zé Dantas faleceu, mas a parceria foi aprofundada somente nos últimos discos do sanfoneiro. O auge do trabalho da dupla foi Danado de bom, de 1984, do qual João Silva tinha imenso orgulho, não apenas por ter participado de quatro músicas , mas também pela atuação nos bastidores (colocando polpudos cheques nos discos que a gravadora enviava às rádios, o famoso jabá) , que levou ao primeiro disco de ouro da carreira de Gonzaga. E a sua volta triunfal às paradas de sucesso das rádios.
De personalidade forte, João Silva não tinha papas na língua. Falava o que pensava, o que nem sempre agradava aos forrozeiros. Apontava o dedo contra mediocridade do forró eletrônico, reclamava que não tinha seu legado devidamente reconhecido. Ganhou, claro, algumas inimizades.
Esses críticos falavam que João Silva teria se aproveitado da fragilidade dos últimos anos de Gonzaga para “enfiar” suas composições nos últimos discos dele, para, assim, se tornar, numericamente, seu maior parceiro – foram sete composições em Vou te matar de cheiro (1989), dez em Forrobodó cigano (1989) e mais quatro em Aquarela Nordestina (1989), todos três lançados no último ano de vida de Gonzaga. Um ano anos, em 1988, Aí tem já trazia oito de suas 13 faixas com a assinatura de João Silva.
Ter sido o derradeiro parceiro de Gonzaga em nada diminui a qualidade artística de João Silva. O talento do arcoverdense era agradar as massas, fazer um forró cheio de vida, do tipo para dançar. Adorava o baião e não caía de amores pelo xote, a levada mais romântica do forró. Pagode russo, Vou te matar de cheiro, Nem se despediu de mim e Danado de bom são clássicos gonzagueanos e não podem jamais serem vistas como obras “menores” na carreira de Gonzagão.
João Silva era um dos patrimônios vivos de Pernambuco. Foi um dos três forrozeiros que receberam o título, ao lado de Arlindo (falecido em outubro) e do sanfoneiro Camarão. Detestava cantar e subir ao palco, mas fazia shows porque era o que dava dinheiro. Para 2014, planejava lançar um novo disco, com repertório inédito.
Faleceu em casa. Foi encontrado no final da tarde da sexta-feira pelo produtor Silveirinha, que entrou no modesto apartamento que ele morava em Boa Viagem a pedido da esposa do compositor, que estava viajando e, aflita, não conseguia falar com o marido pelo telefone. João Silva deixou três filhos, esposa e dois enteados: a cantora Thaís Nogueira e o sanfoneiro Mestrinho, que acompanha nomes como Gilberto Gil e Elba Ramalho.
Pernambuco perdeu um dos seus maiores compositores.
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