A cidade, que contou com a hegemonia da música brasileira em sua penúltima noite, foi tomada por milhares de pessoas
Por Bruno Negromonte
Delineava-se cedo aquilo que a premonição de qualquer um presente na noite que antecedia o encerramento da décima edição do MIMO tinha em mente. O público foi tomando conta das ruas da cidade, de modo que era possível analogamente lembrar dos períodos de carnaval, data esta que apesar de longínqua já começa a dar o ar de sua graça nas históricas ladeiras da cidade a partir de uma das mais tradicionais agremiações existentes, a Pitombeira dos quatro cantos. Muitos fizeram jus ao frevo "Pitomba Pitombeira" de Carlos Fernando vindo do Recife e de outros lugares para ver não só prestigiar o bloco mas usufruir um pouco da atmosfera envolvente que o MIMO propicia ao longo dos seus dias.
A noite teve início no Seminário de Olinda com o músico Raul de Souza, que trouxe para a sua apresentação carisma e um know-how constituído por mais de meio século de música. Quase um octogenário, Raul trouxe ao templo religioso o seu 'souzabone', um trombone adaptado com quatro pistões (um normal tem três), que só ele toca para passear por todas as fases de sua carreira de modo contagiante como se pode conferir. Mais um espetáculo para entrar no hall histórico de concertos apresentados no evento. Já na Catedral da Sé o espetáculo ficou por conta do músico Richard Galliano, que acompanhado pelo Quinteto da Paraíba entoou clássicos da lavra de Vivaldi entre outros números para um público que tomou conta não só da parte interna como também da parte externa da Igreja, acompanhando toda a performance dos músicos através dos telões.
Enquanto muitos assistiam a apresentação do acordeonista francês no Alto da Sé, um público substancial já começava a reunir-se junto ao palco montado na Praça do Carmo para as duas últimas atrações da noite: Jards Macalé e Orquestra de Sopros da Pro Arte com participação especial do cantor e compositor Gilberto Gil. A primeira atração a subir no palco foi o carioca Jards Macalé, artista que com quatro décadas de carreira inova-se a cada apresentação. Acompanhado por Ricardo Rito (teclados), Leandro Joaquim (trompete), Pedro Dantas (baixo), Thomas Harres (bateria), Thiago Queiroz (sax barítono e flauta) e Victor Gottardi (guitarra) apresentou várias releituras durante quase duas horas de espetáculo. Entoou canções de sua própria lavra assim como também do músicas do repertório de Walter Franco (Canalha), Luiz Melodia (Farrapo Humano) e uma homenagem ao já saudoso mestre da sanfona Dominguinhos. “Queríamos que fizéssemos uma oração para Dominguinhos”, disse o cantor iniciando a música Eu só quero um xodó. Antes de iniciar a canção Pedreiro Waldemar, de Wilson Batista, Macalé ainda comentou sobre o caso Amarildo. “No Rio de Janeiro sumiu o Amarildo e no Brasil desaparecem todos os dias pessoas.”
A noite de shows foi encerrada pela Orquestra de Sopros da Pro Arte em uma belíssima homenagem a obra do baiano Gilberto Gil. O grupo formado 36 músicos passearam pelo repertório de um dos ícones da música brasileira no espetáculo Ituaçu, sob regência de Raimundo Nicioli. O set-list composto por canções como Drão, Sítio do Pica-pau amarelo, Lamento sertanejo entre outras levaram o público ao êxtase. O show que contou com a participação do homenageado teve também ao palco os músicos convidados Carlos Malta (sopros), Marcelo Caldi (sanfona) e Mariana Bernardes (vocais)
Hoje, último dia do evento, ainda haverá os concertos de Carlos Malta e da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa. O primeiro ocorrerá às 16h no Convento de São Francisco; já a o segundo será na Praça do Carmo, às 18h. O dia ainda contará com a exibição do documentário “Olho nu” dirigido por Joel Pizzini e que mostra o cantor Ney Matogrosso de alma desnuda, sem pudor em mostrar ao mundo detalhes de sua vida e do seu processo criativo às 20h na tenda do mercado da Ribeira e a Exposição fotográfica MIMO 10 anos, no Palácio dos Governadores, sede da prefeitura de Olinda, das 10h às 20h. Todos os eventos vale ressaltar que são gratuitos.
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