Por Bruno Negromonte
Carlos Fernando resolveu subir encantar-se nas asas da América e foi visitar outras pairagens. Imagino hoje a recepção que deve tá acontecendo lá por cima nesse encontro que junta alguns dos grandes mestres do frevo tais quais Capiba, Nélson Ferreira, Edgar Morais, os irmãos valenças com aquele que não só soube seguir a cartilha direitinho como também teve a ousadia de inovar com o ritmo que hoje é considerado patrimônio imaterial da humanidade. Contrariando o poema Carlos não quis ser gauche na vida, e optou pelo inverso mostrando muita aptidão e desenvoltura para aquilo que escolheu. Optou por ser um anjo avesso e seguir por uma barcarola ao longo do São Francisco ao lado do amigo Geraldo Azevedo. Amigo este que está presente em dezenas de parceria desde o dia em que juntos fizeram a primeira composição de ambos nos idos anos de 1960. Gravada em 1967 por Teca Calazans, a primeira composição da dupla conquistou o primeiro lugar no Festival de Música Popular do Nordeste, promovido pela Revista Manchete e pela TV Jornal do Commercio e talvez ambos não soubessem que "Aquela Rosa" faria tão bem a música pernambucana. A criação da música se deu de modo inusitado, pois Carlos (que almejava o curso superior arquitetura) se deixou envolver com o teatro. Ao escrever a peça de teatro chamada A chegada de Lampião no inferno (baseada no cordel de José Pacheco) houve a aproximação com Geraldo Azevedo. Ele mostrou o texto para Azevedo, que achou parecido com letra de música e lhe propôs a parceria que posteriormente resultaria em Aquela rosa. Depois desta canção viria também em parceria com Geraldinho, canções como "Domingo de pedra e cal", "Em Copacabana", "Juritis e borboletas", "O menino e o carneiro" entre tantas outras que substanciaram e contribuíram de modo fundamental para a carreira de Geraldinho. Não seria exagero comparar a dupla Carlos Fernando e Geraldo Azevedo a outras grandes parcerias dentro da música popular brasileira tal qual Aldir e Bosco, Tom e Vinícius, Vitor e Ivan entre outros.
Vindo de Caruaru (coração do agreste pernambucano como certa vez referiu-se em uma de suas composições) Carlos Fernando (ex-integrante do Movimento de Cultura Popular) transformou-se em um dos maiores responsáveis pela renovação do mais genuíno dos ritmos pernambucanos a partir do projeto Asas da América, que trazia uma nova roupagem ao frevo e, de certo modo, fez-se por si só um divisor de águas para o frevo. O projeto foi responsável por fazer o ritmo deixar de ser uma música paroquial, cultuado fora de sua terra natal apenas por aficionados e especialistas reunindo em um só álbum alguns dos maiores nomes da música brasileira logo no primeiro título da série. Artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jackson do Pandeiro e tantos outros caíram no frevo, sendo o disco o primeiro disco lançado no Brasil reunindo uma seleção de intérpretes de gravadoras concorrentes em sete volumes (incluindo um dirigido ao público infantil, lançados ao longo das décadas de 1980 e 1990). Essa inovada mistura fez com que o frevo adentrasse no contexto da MPB não só modernizando o centenário ritmo pernambucano, mas principalmente expandindo fronteiras e fazendo com que ele não mais permanecesse restrito ao período carnavalesco. A prova maior disto é um dos seus maiores hits, Banho de cheiro, gravado por Elba Ramalho em 1983 e que até os dias atuais é executado nos quatro cantos do País durante os doze meses do ano.
No entanto é preciso dizer que a obra do caruaruense não restringe-se ao frevo. Ele também assinou músicas em outros diversos ritmos, alcançando as novelas globais Saramandaia e Sinhazinha Flor. Além de filmes (como Pátria Amada) e séries de TV (tal qual O Sítio do Pica-Pau Amarelo). Nos bastidores da indústria fonográfica foi um dos responsáveis pelo célebre disco gravado em dupla por Alceu Valença e Geraldo Azevedo, lançado pela gravadora Copacabana em 1972 e projetos como CD duplo 100 anos de frevo - É de perder o sapato, (oportuno lançamento em comemoração ao centenário do ritmo). Além da série de cinco CDs Recife Frevoé, que assim como o Asas da América trouxe uma mescla de músicas inéditas com clássicos do frevo. Tudo isso faz de Carlos Fernando um dos nomes mais expressivos da música pernambucana nos últimos 40 anos, tendo sua obra sacramentada na voz dos mais expressivos intérpretes de nossa música.
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