segunda-feira, 16 de setembro de 2013

CASSIANO, 70 ANOS

O cantor e compositor paraibano chega aos setenta anos arredio aos holofotes e tendo como característica uma indelével marca dentro da música popular brasileira. 




No fim da década de 1940 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro (RJ). Foi nessa época que aprendeu com o pai os primeiros acordes de bandolim e violão.

Trabalhou como ajudante de pedreiro.

No início da década de 1960 fundou o conjunto Bossa Trio, mais tarde denominado Os Diagonais (c/ seu irmão Camarão, Hyldon e Amaro), grupo com o qual viajou por cidades mineiras e baianas.

Em 1969, o grupo gravou pela Epic/CBS alguns compactos e um único LP "Cada um na sua", no ano de 1971, no qual o grupo incluiu "Não dá pra entender" e "Clarimunda", as duas de sua autoria. 

Ao lado de Tim Maia, Carlos Dafé, Banda Black Rio, Gérson King Combo e Hyldon, foi um dos precursores da soul music no Brasil. Influenciado tanto pela música negra norte-americana, particularmente Stevie Wonder e Ottis Redding, quanto por Lupicínio Rodrigues. Devido ao comportamento controverso, assim como o do amigo Tim Maia, ambos se auto-intitulavam músicos doidões.



Tocou ao longo da década de 1960 na noite do Rio e de São Paulo. Só viria a se tornar conhecido em 1970, quando participou como guitarrista no primeiro disco de Tim Maia, que gravou duas composições suas em parceria com Sílvio Rochael "Eu amo você" e "Primavera", que logo se tornaram sucessos naquele ano.

Em 1971, lançou pela RCA Victor seu primeiro LP solo "Imagem e som". Neste LP, interpretou "Ela mandou esperar" e "Tenho dito", ambas em parceria com Tim Maia, e ainda "Primavera" (c/ Silvio Rochael) e "Uma lágrima".

No ano de 1973, pela gravadora Odeon, lançou "Apresentamos o nosso Cassiano", disco no qual interpretou dez composições de sua autoria, entre elas "Cedo ou tarde" (c/ Suzana), "Me chame atenção" (c/ Renato Britto) e "Castiçal".

Como cantor e intérprete, fez sucesso em 1976 com "A lua e eu" (c/ Paulo Zdanowski), tema da novela "O grito", da Rede Globo, gravada no LP "Cuban soul". No ano seguinte, obteve novamente notoriedade com a música "Coleção" (c/ Paulo Zdanowski), incluída na trilha sonora da novela "Loco-motivas", também da Globo. No ano de 1978, por motivos de saúde, tendo que retirar um pulmão, foi obrigado a abandonar a carreira de intérprete, porém prosseguiu compondo.

Entre seus sucessos, destacam-se "Mister Samba", gravado por Alcione, e "Morena", por Gilberto Gil.

Em 1988, Cláudio Zoli gravou "Não dá pra entender" (c/ Cláudio Zoli e Ronaldo Santos).

No ano de 1991, participou do songbook de Noel Rosa, editado pela Lumiar, e lançou o disco "Cedo ou tarde", que contou com as participações de Ed Motta, Djavan, Marisa Monte, Luiz Melodia, Sandra de Sá, Karla Sabat e Cláudio Zoli e da banda Dancing Club, formada por ele na guitarra, Silvio da Costa na bateria, Jomar no baixo, Cássia Maria no piano e Júlio Gamarra na percussão. Nesse LP, além de sucessos antigos regravados, constam também novas composições, com destaque para "Know-how".

Em 1998, foi lançada pela gravadora Universal a coletânea "Velhos camaradas" (Cassiano, Tim Maia e Hyldon), disco que reuniu alguns sucessos de cada um dos artistas. No ano seguinte, sua composição "Férias", parceria com Índio, deu título ao disco de Cláudio Zoli lançado pela gravadora Trama.

No ano 2000, pela gravadara Dubas Música, foi lançada a coletânea "Coleções", com várias composições de sua autoria. No ano seguinte, em comemoração aos 100 anos da RCA, a empresa relançou em CD parte de seu acervo, no qual estão incluídos os LPs "Imagem e som" e "Cuban soul". Ainda neste ano, a gravadora Dubas Música, do compositor Ronaldo Bastos, convidou Ed Motta para organizar uma nova coletânea de suas composições. Neste mesmo ano, os Racionais MC's o convidaram para participar do novo disco dos rappers paulistas, e a banda carioca Clave de Soul, em seu primeiro CD, "Dançar é bom", interpretou de sua autoria "Tá dando mole".

Fica aqui, mais uma vez registrada, uma das raras entrevistas concedidas por Cassiano intitulada "Cassiano Vive novo tempo de primavera", entrevista esta publicada no jornal da tarde em novembro de 2001.

Em entrevista concedida ao JT na casa do músico Bernardo Vilhena, dono da gravadora Regatas, na Gávea, Rio de Janeiro, Cassiano desfez a fama de arredio à imprensa. Falou sobre sua carreira, planos para um novo disco, do amigo Tim Maia, e das novas tecnologias de estúdio. William Magalhães também participou.

Por que tanto tempo sem gravar?
Cassiano: Acho que tudo tem o seu tempo. A certeza que eu tenho é que o meu é agora. Antes eu não concordava muito com isso que os caras diziam, que eu era fora do meu tempo, que estava adiantado. Mas agora vejo que tinham razão. Estou me sentindo feliz, os músicos entendem as minhas coisas simples, o que antes diziam que era complicado. O Tim [Maia] era o mais próximo de mim, de dialogar sobre música. O resto dizia que eu era um bicho estranho.

Mesmo longe da mídia e sem lançar discos, vários artistas querem suas músicas ou participações, como os Racionais. O que você acha deles?
Acho legal. Toda essa cultura negra tem muito a ver. Mas os meninos lá são muito fechados dentro dos lances deles. Houve o convite, eles chegaram a dizer que só iam em um programa de TV se eu fosse também.

William Magalhães: O primeiro contato deles com o Cassiano foi em um show da Black Rio no ano passado, no Sesc Vila Mariana. O Cassiano fez uma participação especial.

Houve um boato sobre você ter ficado chateado com um comentário deles, que diziam querer o Tim Maia, mas que o Cassiano serviria...
Não, eu estava à disposição. Eles me ligaram, mas depois acabou esfriando. Aí a gente começou as gravações do disco da Black Rio.




James Brown nunca gostou de rappers sampleando suas músicas, o que você acha?
Concordo em algumas situações. Quando a coisa é bem colocada fica legal. Mas poucas pessoas sabem fazer isso. Não tenho nada contra pegarem trechos de minhas músicas. O que eu gostaria que acontecesse é que desse certo. Tenho vários clipes de rap, gosto muito.

O que você acha desse novo interesse na black music nacional?
Não acho que seja uma volta, é só uma evolução. A soul music é uma coisa usada no jazz para fazer algo popular. E nós não tínhamos no nosso país, pelo menos há 20 anos, as pessoas que pudessem entender isso.

E quando sai seu disco novo?
Vai sair no ano que vem, pela Regatas, com o William e eu na produção, o Sidney Linhares na guitarra [da Banda Black Rio]. Mas um prazo é difícil. Quero fazer coisas com piano acústico, mas algo pop, com todos os aparatos tecnológicos.
William Magalhães: Pop mas com um lance de instrumentação. Mais brusco, mais ao vivo, orquestral também.

Ele vai retomar o que você vinha fazendo no Cuban Soul (76) ou no Cedo ou Tarde (91)?
Não, esse disco de 91 não foi um disco do Cassiano, foi um disco de produtor [Líber Gadelha]. E isso fica assim meio... olha, bota essa música e essa, essa. Mas você é artista, é que nem jogador de futebol: botam uma bola meia murcha, mas você sai jogando. Tinham coisas que não foram a meu contento. O pessoal tinha uma imagem que eu era um cara que não sabia trabalhar. O disco novo não, vai ser bem diferente.

Sempre lembram do Tim Maia, mas não falam de Cassiano. Você se sente desprestigiado?
Olha, a música é uma coisa que toma tanto o nosso tempo que nem... e eu fico pensando, o que é o prestígio. É dinheiro? Fama, respeito? Acho que respeito eu sempre tive.

Você convidou o Tim Maia para gravar nesse disco de 91, não? [Os dois estavam brigados por causa de uma disputa judicial sobre direitos autorais]
Sim, mas ele não quis, tava chateado ainda. Ele era muito grilado. Ele dizia que era o príncipe do grilo e eu era o rei, mas era ele o pior. O Líber convidou, mas ele disse ‘Não, não vou não’. 



Vocês não se falaram mais?
A gente se falou uma vez por telefone. Depois eu estive em um show dele no subúrbio e ele me chamou para cantar Primavera com ele. Quando eu já morava no Jardim Botânico, ele me ligou às três da manhã - aqueles horários dele - me convidando para um show em Manaus. Essa foi a última vez. Aí, quando ele faleceu, todo mundo lá... pela TV eu vi gente que não tinha nada a ver fazendo lobby e pensei: não vou participar disso. Quando ele estava no hospital, eu tomei uma garrafa de Chiva’s, sentado na cama, chorando e pedindo a Deus pra não levá-lo.

Dizem que vocês dois eram farristas...(Risos)
Não, mas ele era muito mais do que eu. Tim era o seguinte: ele fazia questão de ser mais do que qualquer um aqui. Olha, quando nós gravamos Primavera o disco ficou engavetado. Quem descobriu ele, um compacto simples, foi o Nelson Motta. Ouviu em 1969 e disse ‘Nossa, mas é muito bom’. Aí, o Tim ficou sabendo que tava pronto e não tinha sido lançado, foi lá na Polydor, deu um esporro no pessoal, bateu na mesa, aí lançaram e foi aquilo.

Não apostavam na música?
Pois é, quando eu cantava essa música nos corredores das gravadoras, inclusive na própria CBS, os caras diziam ‘Olha, meu, isso aí não dá certo, não. Grava música do Roberto Carlos’. Pôxa, é aquela coisa do compositor, tudo bem, eu posso até gravar do Roberto, mas essa aqui eu fiz. Dois anos depois, foi aquele sucesso...

É verdade que Jackson do Pandeiro frequentava a casa do seu pai, em Campina Grande (PB)?
Jackson era amigo da nossa família e trabalhava pro meu pai, que fazia reformas. Me pegou muito no colo, dizem que uma vez eu dei uma urinada nele.

Há uma história sobre um álbum seu gravado pela CBS que nunca foi lançado...
Existe, isso foi logo que eu saí da Polydor, 1978 pra 1979, e ele não foi terminado. Mas gravamos, mixamos um material bom ali. Nada foi aproveitado disso. Preciso até saber o que foi feito deste tape. Isso aconteceu por causa daquele negócio da gravadora falindo.

E a fama de ser um artista difícil de se trabalhar, você concorda?
Acho que não, tanto que estou aqui trabalhando com os meninos da Black Rio. Eu acho que isso vem, por exemplo, do primeiro disco [Imagem e Som, 71], porque eu briguei com a RCA. Eu dizia que para trabalhar eu queria que eles me alugassem um baixista, um baterista e um pianista. E o meu diretor disse que quando eu fosse gravar, ele me daria uma orquestra, mas que não iria me arrumar os instrumentos. Quer dizer, o que hoje é comum, os grupos treinam, na hora de gravar estão com tudo pronto, é mais barato, mas, na época, acharam um absurdo. E aí eu é que fiquei com fama de complicado, né?

Fonte:
Arquivo JT
Dicionário da MPB


Discografia Oficial


Os Diagonais (1969)
Faixas:
01 - Baby, baby
02 - Na Baixa do Sapateiro
• Helena Helena
03 - Não dá pra entender
04 - Solução
• Cabelos brancos
05 - Meu sonho é você
• Sabe Deus (Sabrá Dios)
06 - Meu Cariri
07 - Clarimunda
08 - Praça Onze
• Bat macumba
09 - O trem atrasou
• Atire a primeira pedra
10 - Terezinha de Jesus
• Cala a boca, Etelvina
11 - Siga
• Célia
12 - General da banda
• Vai, que depois eu vou



Imagem E Som (1971)
Faixas:
01 - Lenda
02 - Ela Mandou Esperar
03 - Tenho Dito
04 - Já
05 - É Isso Aí
06 - O Caso Das Bossas
07 - Eu, Meu Filho E Você
08 - Primavera (Vai Chuva)
09 - Minister
10 - Uma Lagrima
11 - Canção Dos Hippies (Paz E Amor)



Apresentamos Nosso Cassiano (1973)


Faixas:
01 - O Vale
02 - Slogan
03 - A Casa de Pedra
04 - Chuva de Cristal
05 - Melissa
06 - Castiçal
07 - Me Chame Atenção
08 - Calçada
09 - Cinzas
10 - Cedo ou Tarde



Cuban Soul (1978)

Faixas:
01 - Hoje é Natal
02 - Coleção
03 - Ana
04 - Onda
05 - Central do Brasil
06 - Saia dessa Fossa
07 - De Bar em Bar
08 - Salve Essa Flor
09 - A Lua e Eu



Compacto (1984)

Faixas:
01 - Amor Imenso
02 - Tá Dando Mole, Zé 


Cedo ou Tarde (1991)


Faixas:
01 - Eu amo você
02 - Primavera
03 - Salve essa flor
04 - Bye bye
05 - Rio best-seller
06 - Cedo ou tarde
07 - Setembro
08 - Coleção
09 - A lua e eu
10 - Know-how
11 - Intro III



Coleção (2000)

Faixas:

01 - Coleção
02 - De bar em bar
03 - Melissa
04 - É isso aí
05 - Hoje é natal
06 - Salve essa flor
07 - Não fique triste
08 - Cedo ou tarde
09 - Ana
10 - Já
11 - Uma lágrima
12 - A casa de pedra
13 - A lua e eu
14 - Saia dessa fossa

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