quarta-feira, 4 de setembro de 2013

MIMO 2013

Uma década depois um dos maiores festivais musicais do país transforma-se em movimento.

Por Bruno Negromonte




Há exatamente dez anos aportava na cidade de Olinda, em Pernambuco, uma caravana de artistas para dar início a uma série de cinco concertos. Era o começo de um festival que hoje caiu na graça do povo pernambucano: O MIMO (Mostra Internacional de Música em Olinda), onde e que tem por propósito fazer das igrejas construídas no período colonial palco para a apresentação de concertos diversos, podendo tudo isso ser vivenciado de modo gratuito mediante senhas distribuídas na biblioteca pública da cidade. Essa ideia foi tomando corpo nos anos seguintes e este anos chega a sua décima edição levando música não só para as igrejas, mas também para as escolas, praças públicas e outros espaços. Hoje o que antes restringia-se a concertos passou a abranger palestras, etapas educativas, cinema, exposição entre outras atividades.

De início o princípio básico do projeto idealizado pela produtora carioca Lu Araujo era quebrar o estigma de que a música erudita só atende a um público específico, que tal gênero musical é algo para poucos ouvidos. A produtora levou a ideia a então prefeita da cidade Luciana Santos e a mesma adorou o projeto, e logo no primeiro ano o público olindense mostrou que a Lu estava com a razão. Foram cerca de 2000 mil pessoas só em um dos concertos. O sucesso de público e crítica foi tamanho que a partir daquele ano os meses de setembro que viriam se suceder na cidade de Olinda nunca mais seriam os mesmos. O evento estendeu-se a outras cidades e os apoios cresceram substancialmente, contando hoje com patrocínios não só da esfera pública, mas também da iniciativa privada.

Este pequeno retrospecto faz-se necessário para que muitos tenham noção do quanto (o que este ano chama-se de movimento) cresceu. Isso pode ser atestado e vivenciado a partir de hoje na cidade onde foi dado o pontapé inicial para a exitosa trajetória do evento com uma série de concertos que vão até domingo. No entanto vale também ressaltar que o MIMO 2013 já aportou por outras duas cidades no sudeste. A primeira foi a belíssima e histórica cidade de Paraty, onde entre os últimos dias 23 e 25 de agosto o movimento estreou sem fazer alarde, levando para o litoral oeste do estado do Rio de Janeiro uma caravana musical composta por nomes como o do grupo belga MANdolinMAN, do americano Herbie Hancock, do cantor e compositor João Bosco entre outros. A escolha de Paraty para ingressar no roteiro de espetáculos este ano se deu não só pelas belezas naturais e charme do lugar, mas também pela preservação dos bens e valores históricos existentes na cidade. 

A segunda parada do movimento este ano se deu na cidade mineira de Ouro Preto, município localizado a cerca de 90km da capital, Belo Horizonte. O município conhecido por suas belezas naturais e arquitetônicas, além de ter sido cenário para alguns fatos históricos do nosso país também já chegou a ser a capital do estado das Minas Gerais. Durante 04 dias a histórica cidade recebeu diversas atrações nacionais e internacionais, dentre elas artistas Dona Odete, Hamilton de Holanda, Gilberto Gil, além de diversos nomes internacionais como Madredeus, Ibrahim Maalouf, Guillaume Perret e The Electric Epic, Stephan Micus entre outras.

Esta semana finalmente o movimento aporta em seu nascedouro trazendo consigo uma considerável bagagem de uma década de existência e a graça do público pernambucano, uma vez que o movimento já ganhou o gosto popular em Permambuco, fazendo com que muitas pessoas que moram nas cidades circunvizinhas desloquem-se até a cidade de Olinda neste período não por suas ladeiras e arte existente em cada canto do seu sítio histórico, mas principalmente para ter a oportunidade de vivenciar espetáculos únicos com grandes nomes de nossa música e de outros tantos do cenário internacional que aportam sempre no mês de setembro na histórica marim dos caetés. A cidade que foi a primeira a receber o título de capital nacional da cultura, torna-se também por uma semana a capital nacional da boa música apresentando concertos, workshops e palestras; além de uma grande diversidade de filmes voltados para o tema.

Os números do evento impressionam e a tendência natural é que este ano o evento venha a bater novos records como vem acontecendo em todas as edições anteriores. É certo que aos impressionantes números de 95 filmes, cerca de 500 mil espectadores, 200 concertos, 15 mil alunos beneficiados em sua etapa educativa além de centenas de empregos venham a se somar mais algumas significativas estatísticas para atestar em definitivo que este movimento chegou não só para agregar forças a cultura nacional, mas principalmente para difundir valores musicais em um país que infelizmente preza por uma cultura de massa extremamente desnecessária. Torço para que esta década multiplique-se cada vez ao ponto de transformar-se em séculos de perpetuação da boa música, trazendo não só esplendorosos concertos musicais, flimes e tantas outras manifestações culturais, mas principalmente mantendo a ideia de trabalhar a formação de espectadores para uma nova realidade musical daqui a alguns anos, contribuindo assim de modo significativo não só para com as cidades envolvidas, mas também com um novo panorama musical nacional em um futuro não muito remoto.

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