sexta-feira, 13 de setembro de 2013

LUIZ GONZAGA É CEM: A ESSÊNCIA DO BAIÃO

Por Abílio Neto



“Ô baião, faz a gente lembrar, esquecer
Ô baião, traz saudade gostosa de ter
Um triângulo, uma sanfona, um zabumba
Uma cabrocha baionando um balanceio
Quanto vale? Tesouro e meio (Bis)

Uma peixeira, um gibão, um chapéu de couro
Valem um tesouro, valem um tesouro
Mas o gemer de uma sanfona num balanceio
Então isso é baião e baião por si só é tesouro e meio
Tesouro e meio, tesouro e meio, tesouro e meio”
(Luiz Gonzaga)

Luiz Gonzaga foi acima de tudo um artista determinado. Acreditou que o baião fosse um tesouro e fez dele “tesouro e meio”. Aqui nesta música de sua autoria (e sem parceiro algum), gravada em 1956, ele fez a síntese de tudo: do baião que ele aprendeu dos cegos pedintes nas feiras e dos cantadores de viola; do tripé que ele criou e a música regional adotou (sanfona, triângulo e zabumba); de uma cabrocha baionando; da peixeira, do gibão e do chapéu de couro que são típicos do vaqueiro e do homem sertanejo de onde nasceu o baião; e finalmente do gemer de uma sanfona num balanceio.

Quanto vale tudo isso? Um tesouro! O tesouro e meio fica valendo com a incorporação do próprio Luiz Gonzaga nessa sua criação. Se alguns não se conformam que ele tenha criado esse ritmo, há de lhe ser reconhecido pelo menos o grande mérito de que foi quem o transformou num gênero de aceitação universal. O baião estava nu e Luiz Gonzaga o vestiu com as cores dos sertões de Euclides da Cunha, de Antonio Conselheiro, do Padre Cícero, da Beata Mocinha, dos retirantes, da seca e de Lampião, cantando versos de homens ilustres como Humberto Teixeira, Zé Dantas, Miguel Lima, José Marcolino, Onildo Almeida, Nelson Valença, Luiz Ramalho, Rosil Cavalcanti e João Silva, seus principais parceiros.

Gonzaga não foi um simples tesouro. Ele foi isso que diz de forma tão linda sobre o baião: tesouro e meio. Nenhum baião que eu escutei até hoje, mesmo aqueles dos seus parceiros mais famosos, tem essa levada que somente ele conseguia extrair da sua sanfona, acompanhado de zabumba e triângulo. “Tesouro e Meio” está para Luiz Gonzaga assim como “Hô Bá Lá Lá” está para João Gilberto. Aí nesta música está indiscutivelmente toda a essência do baião, uma música tipicamente rural que invadiu as cidades porque seu ritmo era contagiante. Se o próprio Gonzaga, na década de oitenta, acelerou a batida do baião tornando-o alambadado e criando um novo gênero, o forró, isso se deu por uma questão de sobrevivência da música nordestina. Para nós, o que importa é que Gonzaga colocou o baião na santíssima trindade da música brasileira: samba, choro e baião. Isso ficou marcado na História. Isso ninguém apagará!

A série que comecei a escrever desde janeiro do ano passado, LUIZ GONZAGA É CEM, chega ao fim hoje. Sinto-me imensamente recompensado! Espero que ela tenha contribuído de alguma maneira para que a sua grande música nunca seja esquecida pelo povo brasileiro. Ela tem raiz para permanecer viva ainda por três séculos. Que assim seja!

É hora de despedida e de ouvir este que eu acho ser o maior baião de todos porque contém todo o inquestionável talento do seu autor, Luiz Gonzaga e a essência do gênero: “Tesouro e Meio”. É dele, sim, o vaqueiro apaixonado, o sanfoneiro do povo de Deus. Percebam vocês que ele canta, sola e marca o ritmo com a sanfona como se ela fosse também um instrumento de percussão. Somente Gonzaga fazia isso. Primeiro e único.

Salve os 100 anos de Luiz Gonzaga, O Rei do Baião!

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