APRESENTAÇÃO
Entre muitos comentários e olhares sobre a música popular brasileira, poucos atentam especificamente à loucura de suas histórias. Nesse contexto, a trajetória das adições é convenientemente apagada, ou naturalmente esquecida. Temas focados no desenvolvimento específico dos vícios são raríssimos, por mais que, em vida, porres, escândalos e quedas tenham rendido farto material para a construção de mitos. A ousadia de se debruçar sobre o lado escuro da vida na música brasileira partiu de Nelson Motta. Foi ele quem, preciso como Juliet Taylor, elencou essas dezessete figuras, misturando medalhões e malditos, todos gênios, para traçar um panorama etílico da música popular brasileira moderna. Nunca mortos em vida, mas todos ainda vivos depois de mortos. A zombie walk da MPB. Dezessete figuras que não contemplaram qualquer barreira entre a música e o vício, que mergulharam de cabeça na vida e perpetuaram um testemunho tatuado em cifras que ainda não desapareceram de nossos ouvidos, mesmo depois de mortos. Mergulhei nessas vidas por meio de consultas a biografias, teses acadêmicas, revistas de fofoca, programas de rádio, histórias de ouvido, notas de jornais, vídeos no YouTube, e por aí vai. Investiguei um ponto de repetição. Uma mesma nota na polifonia dessas vozes. Haverá um lugar – ou um devir – onde todas essas vidas loucas se encontram? Além de geniais, são todos etílicos. Todos bebendo o último copo, talvez já sabendo que o último copo será sempre o próximo. Nessas vidas loucas, permanece a fuga arquitetada a partir da bombástica combinação entre bebida e talento. Apesar da quantidade de pó, heroínas pontuais e caixas e mais caixas de comprimidos, o que persevera neles é o fascínio pelo álcool. Todos fizeram questão de escolher o mais traiçoeiro dos cavalos. Impossível dizer quem venceu a batalha, se o homem ou o bicho. Mas quem mais saiu ganhando foi, sem dúvida, a música. E nossos ouvidos. Gênios, fixaram novos paradigmas na cultura brasileira. Todos inventaram um novo jeito de cantar: o seu. Mergulhar nessas vivências é acompanhar o processo de luz, sempre com uma atenção especial às sombras. Escrever este livro foi catalogar, a partir de uma farta produção já realizada, a hora em que a luz se apaga, o microfone é desligado e DO NOT DISTURB é colocado na porta. Mais do que a dor, fica a delícia dessas dezessete vidas, dessas dezessete obras fundamentais para se entender e pensar o Brasil a partir da sua música e dor. Meu agradecimento especial vai ao amigo Antônio Carlos Miguel, que teve a ousadia de me colocar nesse lugar e a generosidade de acompanhar a escrita. Se Vinicius estava mesmo certo quando disse que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, encontrar Antônio Carlos e, através dele, Maria João Costa e Martha Ribas, foi a confirmação da frase do poeta. Aos leitores, que leiam sem moderação.
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