sábado, 27 de maio de 2017

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Jr.



Antônio Maria - Com Dose Dupla

Antonio Maria: radialista, cronista, compositor


Confesso que Antônio Maria esteve mais presente na minha vida depois que me mudei para São Paulo.

As canções de autoexílio, representadas pelos frevos nº 1, 2 e 3 não me saíam da cabeça quando encarava os primeiros momentos – desafios – da grande metrópole paulistana.

No silêncio de casa, na solidão em multidões, embaixo do chuveiro ou fazendo trilha musical de instantes de alegria infinda ou, mais presentes, de saudades frequentes, o remédio eram os frevos de Maria. Quem de Pernambuco, estando fora, não cantou: “Sou do Recife, com orgulho e com saudades, sou do Recife com vontade de voltar”; ou “Ô, saudade, saudade tão grande, saudade que eu sinto do Clube das Pás, Vassouras, passistas traçando tesouras, nas ruas repletas de lá”.

Mas, Antônio Maria, que viveu apenas 43 anos (nascido em 1921, no Recife, e morto em 1964, no Rio), além dos belos frevos que deixou, foi considerado o “rei do Samba-Canção”, nas décadas de 1940 e 1950; era um boêmio inveterado; foi produtor, radialista, poeta, cronista, compositor e produtor e apresentador de TV.

Muito alto, grande, com alma de criança, Antônio Maria, era conhecido como “Menino Grande”. Embora não fosse um galã, era um grande conquistador. Tirou de Samuel Wainer a bela e inteligente Danuza Leão, que voltou para os braços do jornalista, responsável pelo Última Hora, algum tempo depois.

Antônio Maria compôs diversos sucessos populares, em parceira com vários amigos. Na sequencia, seu maior clássico, em parceria com Luiz Bonfá, “Manhã de Carnaval”, na voz de Nara Leão.


Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás
Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus

Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor


Com Nora Ney, Antônio Maria tomou conta das paradas das rádios brasileiras que tocaram “Menino Grande” e “Ninguém me Ama”.

São também de Maria “Valsa da Cidade” e “Canção da Volta”. Fez parceria magistral com Luiz Bonfá que criaram os clássicos Manhã de Carnaval e Samba do Orfeu, para o filme “Orfeu do Carnaval”, de Marcel Camus, baseado na peça “Orfeu da Conceição”, de Vinícius de Moraes.

Em seu vasto repertório, destacam-se ainda “As suas Mãos”, “O Amor e a Rosa” e “Se eu Morresse Amanhã”. Suas canções foram gravadas por Nat King Cole, Frank Sinatra e Stan Getz.

Entre seus outros parceiros – cerca de 60 músicas – estão Fernando Lobo, Moacir Silva, Vinícius de Moraes, Zé da Zilda.

Muitos gravaram suas músicas, além de Nora Ney, Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Lucio Alves, Agostinho dos Santos, Jamelão, Ângela Maria, Luiz Bandeira e Claudionor Germano.

Ouça agora “Manhã de Carnaval” com Frank Sinatra:



Antônio Maria já era apresentador de programas musicais na Rádio Clube de Pernambuco. Em 1940, muda-se para o Rio de Janeiro no Ita “Almirante Jaceguai”. No Rio, tornou-se locutor esportivo da Rádio Ipanema.

Maria morou no Edifício Souza, na Cinelândia, onde era vizinho dos conterrâneos Abelardo Barbosa (Chacrinha) e Fernando Lobo (Chuvas de Verão). Também moravam ali Dorival Caymmi e o pintor Augusto Rodrigues.

Trabalhou ainda no Ceará e na Bahia, onde foi diretor das Emissoras dos Diários Associados, ocasião em que conheceu Di Cavalcanti e Jorge Amado.

Ao lado de Paulo Pontes e Dolores Duran, é o autor do grande espetáculo “Brasileiro: Profissão Esperança”.

Semana que vem os frevos de Antônio Maria…

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