terça-feira, 29 de novembro de 2016

ANÁLISE: 80 ANOS DE MOACYR FRANCO, DO RISO AO CHORO

Por Raphael Vidigal



Ainda ontem chorei de saudade…
Relendo a carta e sentindo o perfume…
O que fazer com essa dor que me invade?
Mato esse amor ou me mata o ciúme…” (Moacyr Franco)


“Saio da montanha, mas a montanha não sai de mim” é um ditado inventado que poderia facilmente ser atribuído a Moacyr Franco. Embora tenha deixado Ituiutaba, no interior das Minas Gerais, há uns bons tempos, o artista jamais se furtou de carregar certo semblante típico dessas paragens. E isto para quem se especializou em desenvolver mais de uma atividade artística, como se todas formassem os “cinco dedos da mesma mão”, parodiando Jô Soares. Franco surgiu como ator, explodiu como cantor, assentou a carreira de compositor, arriscou-se na apresentação e traçou até passos sérios, como político filiado a diversos partidos. Para as duas condições que mais exercitou, entre a música e a dramaturgia, alcançou sucesso através de características díspares, sendo motivo de riso numa e oferecendo sensações para o choro noutra. Pura arte. Moacyr é contemporâneo da época de ouro do rádio no Brasil, e certamente influenciado por essa vertente levou os ensinamentos aprendidos tanto para a televisão quanto a música. Discípulo do bordão, da marca, da canção narrada.


Interpretou o personagem mendigo na histórica “A Praça da Alegria”, transformada hoje em “A Praça É Nossa”, onde ainda atua na pele do “Jeca Gay”, outra invenção de enorme adesão popular. Foi com esta inaugural figura que Moacyr obteve seu primeiro êxito musical de largo alcance, aparecendo em mais de uma chanchada para entoar os versos de “Me dá um dinheiro aí”, marchinha icônica de 1960, composta pelo trio Homero, Ivan e Glauco Ferreira. Mas Moacyr também escreveu sucessos de próprio punho, ou quase, ao elaborar a versão da “Balada para um Louco”, de Piazzolla, então pouco reconhecido no Brasil. Ao cantar quase sempre trazia a influência grave do bolero, e derramava-se em voz suave, porém carregada. E foi – também nesta seara – regional, sertanejo, autor, por exemplo, de “Ainda ontem chorei de saudade”. Tradicionalista, estreou no cinema em 2011, no filme “O Palhaço”, dirigido por Selton Mello, e saiu premiado como melhor ator coadjuvante por uma cena de três minutos. Provas de que entre o riso e o choro, o começo e o fim, o quintal e o mundo, existem poucas diferenças pra quem é de arte.



Fotos: Divulgação; e Cláudio Augusto, respectivamente.

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