O ano de 2016 é marcado pela saudade pontada no tempo, pois completa-se uma década que o instrumentista, cantor e compositor Guilherme de Brito foi para o céu fazer companhia ao seu parceiro mais notório: Nelson Cavaquinho. Nascido no dia 3 de janeiro de 1922, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, Guilherme de Brito Bollhorst. Neto de alemão e filho e um funcionário da Central do Brasil e de Marieta de Brito Bollhorst, Guilherme teve iniciação musical em sua própria casa, pois desde muito cedo demostrava afinidade com a arte. Também não era para menos, pois a família era amante de música (Alfredo Nicolau Bollhorst, seu pai, tocava violão, enquanto sua mãe, tocava piano e sua irmã, como o pai, também tocava violão). O próprio Guilherme quando questionado sobre o seu envolvimento certa vez disse: "Eu sempre me vi envolvido pela música. Meu pai tocava violão. Minha mãe tocava piano mas eu nunca vi a minha mãe tocar, sabia que ela tocava, mas não tinha piano lá em casa. Como meu pai tocava violão tinha reuniões lá em casa, iam compositores, o Synval Silva ia muito na minha casa. E a minha irmã começou a tocar violão também. Eu era muito pequeno naquele tempo e queria tocar também, então eles me deram um cavaquinho". Após ganhar este cavaquinho e apreender as primeiras lições dentro de casa junto aos seus, acabou indo tocar nas ruas do bairro. Neste período, ainda criança, recebe o seu primeiro "cachê" através do quitandeiro da vizinhança, que em troca de músicas dava-lhe frutas. Vagando pelo bairro acompanhado do seu cavaquinho, era comum ouvir o quitandeiro: “Menino, toca um negócio pra mim aqui.” E, após o término do número solicitado, dava ao pequeno Guilherme uma banana, uma laranja.
Ainda sobre esse período de plena liberdade nas ruas de Vila Isabel, o pequeno Guilherme costumava, às vezes, pegar carona no carro do Noel Rosa. Na verdade tratava-se de uma carona não consentida pelo poeta da Vila, pois o Guilherme costumava pegar carona escondido na traseira do carro. Galanteador que era, Noel vivia a paquerar as garotas quando saía motorizado pelas ruas do bairro, e para isso andava em uma velocidade super reduzida (o que acaba oportunizando Guilherme a pendurar-se para pegar caronas em seu carro). Quando o já notória compositor percebia o pequeno dependurado em seu veículo costumava aumentar a velocidade do carro e gritar: “Sai daí, menino!”. Voltando ao seu primeiro instrumento, vale ressaltar que o seu envolvimento com o cavaquinho deu-se porque a sua envergadura não favorecia para o violão, isso talvez tenha influenciado para que o pequeno instrumento fosse substituído pelo violão pouco tempo depois. Ainda na infância, Guilherme começou a desenvolver outra habilidade que o acompanharia por toda a vida: a pintura. De calça curta, o pequeno Guilherme andava pelas ruas sempre com pedaços de carvão nos bolsos (além do cavaquinho, é claro!). Guilherme costumava dizer que não sabia de onde vinha essa inclinação para a música, uma vez que na família a música era a única habilidade desenvolvida. Mesmo um exímio violonista e melodista, um pintor de técnicas refinadas costumava dizer que tudo o que havia feito na vida foi de ‘orelhada’, inclusive na escola, onde nem o primário terminou porque teve que começar a trabalhar pra ajudar a mãe quando perdeu o pai em 1936. Aos 12 anos, com um atestado de que sabia ler e escrever do Instituto Politécnico e uma autorização a trabalhar na Casa Edison.
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