domingo, 17 de julho de 2016

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB


Aos 87 anos, Tito Madi hoje tem como legado maior o ostracismo à brasileira 


Não sei o que há que faz do nosso país ser como é. Em qualquer lugar do mundo nomes como muitos dos residentes do retiro dos artistas estariam vivenciando uma outra realidade, onde os louros de suas conquistas estariam evidenciando-se justamente em sua velhice. No Brasil parece que o que vigora é a cultura da descartável, onde aquilo que não mais é útil para os grandes espaços de entretenimento deve ser jogado fora, esquecido e se possível nunca mais relembrado. Quantos grandes nomes da nossa cultura morreram no total ostracismo? E quando falo do limbo do esquecimento , ele não mira um segmento artístico específico. Pode ser do circo, do teatro, das artes plásticas e de tantas outras formas de manifestação artística, no entanto me deterei especificamente na música, que é a proposta desta coluna. Desculpem-me o desabafo, mas acho inadmissível um nome como o que hoje escolhi relembrar reviver escuso em todos os sentidos. Seus discos fora de catálogo, seu nome lembrado apenas pelos nomes saudosistas amantes da MPB de qualidade produzida outrora, suas músicas longe dos ouvidos da nova geração de ouvintes de nossa música. Um verdadeiro afronto à memória de nossa música, uma vez que seu nome figura entre os grandes compositores e intérpretes ao lingo de uma carreira de mais de seis décadas de existência e sucessos que conquistaram toda uma geração tais quais "Chove lá fora", "Não diga não", "Cansei de ilusões", "Carinho e amor", "Balanço Zona Sul", entre outras de sua autoria ou que ganharam a marca de sua voz em projetos como por exemplo "A fossa", série composta por quatro LP's lançados nos anos de 1970 e que trazem em seu repertório canções como "De onde vens" (Nelson Motta - Dori Caymmi), "Atrás da porta" (Chico Buarque - Francis Hime), "Demais" (Tom Jobim - Aloysio de Oliveira), entre outras.


Tito Madi (que tem por nome de batismo Chauki Maddi, de origem libanesa) nasceu em Pirajuí (município localizado ao noroeste do Estado de São Paulo e que fica a cerca de 400 km de distância da capital paulista), mas radicou-se no Rio de Janeiro ainda jovem e por lá vive até os dias de hoje, quando já encontra-se aos 87 anos de idade. Tito Madi está no time dos grandes nomes de autores do samba-canção brasileiro, ao lado de Antonio Maria, Dolores Duran e alguns outros que ajudaram a escrever a história da música popular brasileira ao longo do século XX. De família bastante musical, Tito também procurou seguir os passos do pai e dos irmãos (que eram músicos que executavam desde o violão até bandolim e alaúdes). Aos seis anos "rouba" o violão do irmão e é flagrado ao fundo do quintal tocando, ao invés de puni-lo o irmão procurou incentivá-lo, e isso acabou por despertar no pequeno Chauki o desejo de se divertir a partir da música fazendo com que aos dez anos de idade já participava de eventos musicais da escola em que estudava. Em 1952 muda-se para São Paulo, mas antes de seguir para a capital paulista cria junto com o irmão um serviço de alto falante, onde trabalha como redator e locutor. Essa experiência acaba por dar-lhe o "know-how" necessário para, ao chegar à capital paulista, trabalhar na Rádio Tupi, onde posteriormente viria a lançar seus primeiros compactos como cantor e compositor. Por falar nessas facetas artísticas, vale o registro de que sua fase de compositor começou no final da década de 1940 quando compôs sua primeira música, intitulada "Eu Espero Você". Como cantor seu primeiro registro vem de 1952, quando pela Continental lançou o samba "Não Diga Não" (canção de sua autoria em parceria com o maestro francês Georges Henry), canção que à época alcançou relativo sucesso.

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