Múltiplo, o artista pernambucano não faz concessão quando trata-se de música pautada na qualidade como se poderá conferir a partir do deste segundo semestre com o show "Porcelana", em parceria com a dama da canção brasileira Alaíde Costa
Por Bruno Negromonte
Se há um substantivo que pode ser atribuído ao cantor e compositor Gonzaga Leal este é multiplicidade. Sempre mergulhado em ousados e distintos projetos, o intérprete por força maior tem por princípio estar à margem do grotesco contexto musical vigente na atualidade, usando dos mais distintos nuances para estar a par da delicadeza e do bom gosto como pode-se conferir em sua trajetória artística e neste bate-papo. Ousado, sua arte pauta-se naquilo que faz-se aprazível aos ouvidos, e isso tem feito dos seus projetos fonográficos (e por conseguinte seus shows) verdadeiros registros daquilo o que é belo em sua essência. Ao longo de quatro décadas de palco, tais singularidades já adornam os mais distintos projetos tais quais "De mim", "Receita de samba", "Para sempre sonhar", "Gonzaga Leal Cantando Capiba ... e sentirás o meu cuidado", "Quando a Dor Não Tem Razão", "Pra Quem Quiser me Visitar..." entre outros. Amanhã, no Teatro Arraial Ariano Suassuna, no centro da capital pernambucana, o artista reitera as suas refinadas características ao apresentar o espetáculo "Coberto de Luar", onde intercalará canções de contexto junino e poemas. O espetáculo que vem sob a direção musical de Aristide Rosa e Maurício César contará também com a participação das cantoras Guadalupe e Nena Queiroga.
Entre um preparativo e outro, Gonzaga (sempre solícito) nos concedeu esta entrevista exclusiva onde fala sobre como se deu a sua aproximação com a dama da canção brasileira Alaíde Costa. Tal aproximação resultou em "Porcelana", seu mais recente álbum já apresentado aqui em nosso espaço a partir da matéria "PORCELANA, ARQUÉTIPO DE DELICADEZA, TÉCNICA E BOM GOSTO". Dentre outros assuntos, Leal nos revela projetos futuros; quais os critérios de avaliação usados para a escolha de seus repertórios; fala-nos sobre a aproximação com a música portuguesa contemporânea a partir de compositores como Tiago Torres da Silva. Trata-se de uma informal, porém relevante conversa para quem pretende conhecer um pouco mais deste artista que tem sua trajetória arrolada em uma grande avidez que não o faz deixar de ser racional e o conduz pelos palcos do país ao longo de tantos anos sem fazê-lo perder a sua verdade e coerência musical. Excelente leitura!
Entre um preparativo e outro, Gonzaga (sempre solícito) nos concedeu esta entrevista exclusiva onde fala sobre como se deu a sua aproximação com a dama da canção brasileira Alaíde Costa. Tal aproximação resultou em "Porcelana", seu mais recente álbum já apresentado aqui em nosso espaço a partir da matéria "PORCELANA, ARQUÉTIPO DE DELICADEZA, TÉCNICA E BOM GOSTO". Dentre outros assuntos, Leal nos revela projetos futuros; quais os critérios de avaliação usados para a escolha de seus repertórios; fala-nos sobre a aproximação com a música portuguesa contemporânea a partir de compositores como Tiago Torres da Silva. Trata-se de uma informal, porém relevante conversa para quem pretende conhecer um pouco mais deste artista que tem sua trajetória arrolada em uma grande avidez que não o faz deixar de ser racional e o conduz pelos palcos do país ao longo de tantos anos sem fazê-lo perder a sua verdade e coerência musical. Excelente leitura!
Acredito eu que a pergunta mais corriqueira após o lançamento desse projeto intitulado “Porcelana” tem sido como você conheceu a Alaíde Costa e como se aproximaram até desaguar em toda essa conjuntura. Você poderia relatar como se deu esse encontro para aqueles que não tem conhecimento?
Gonzaga Leal - Fui apresentado à Alaíde por meu pai que era fã da cantora, possuía seus lp’s e eu, já envolvido com música, fui me afeiçoando por essa artista e nutrindo a convicção de que um dia iria encontrá-la. O disco definitivo que realmente me impressionou foi água viva, um lp de capa branca com a foto dela e de Hermínio Bello de Carvalho em preto. Nesse álbum, ela cantava temas do compositor de quem é amiga. Já músico, procurei assistir Alaíde em São Paulo, Rio e Recife. Mas só em 2004, no projeto receita de samba, capitaneado por mim e por Dalva Torres, é que tive a sorte de tê-la pela primeira vez frente a frente e, como se não bastasse, no palco. A partir daí, consolidamos uma amizade que resultou em muitos shows, culminando com o cd Porcelana.
Longe do convencional, os seus repertórios são pautados em características bastante peculiares. Do mesmo Alaíde também apresenta em seu repertório características semelhantes como, por exemplo, o apreço pela qualidade. A soma de aspectos tão comuns existente entre vocês corrobora em um trabalho como “Porcelana” substancialmente em que?
GL - Somos sagitarianos. Exigentes, determinados e apaixonados. Essas características regem o nosso fazer artístico. Quando decidimos fazer o cd porcelana, além de celebrar os 80 anos da Alaíde, ele celebra a nossa amizade. Da mesma forma, sintetiza a série de shows chamada Porcelana, que realizamos ao longo desses anos todos em comemoração aos nossos aniversários. Eu sou do dia 01 de dezembro e Alaíde, do dia 08. Portanto, o que substancialmente nutriu o conceito do cd foi a amizade, o tempo, a delicadeza.
O repertório do disco traz faixas como “Solidão” (Alceu Valença) e “Quando se vai um amor” (Capiba). Dividindo espaço com estes clássicos do cancioneiro popular brasileiro, há composições de artistas não tão conhecidos do grande público como, por exemplo, o mineiro Sérgio Pererê. Como se deu a escolha desse repertório?
GL - As canções foram chegando pouco a pouco, somando-se a estas, algumas já estavam escolhidas, tanto por mim, quanto por Alaíde. A exemplo de solidão e quando se vai um amor. Tomamos como princípio, para compor o repertório, compositores que nunca havíamos gravado e que fossem de uma geração diferente da nossa, como João Cavalcanti, Socorro Lira, Tiago Torres da Silva e Consuelo de Paula.
Por falar em faixas e compositores, em “Porcelana” é possível encontrar além dos compositores brasileiros, nomes como Tiago Torres da Silva e Armando Machado, compositores ligados à música portuguesa. Recentemente você esteve na Europa para, dentre outros afazeres, tratar de uma edição portuguesa do álbum “Porcelana”. Você poderia nos adiantar um pouco acerca desse pretenso projeto?
GL - O Tiago Torres da Silva é um inspirado compositor português, que dialoga muito com compositores brasileiros com quem tem parcerias. O conheci através de um disco da Jussara Silveira, cantando os seus temas. Logo que ouvi meu amor abre a janela, intuitivamente senti que a Alaíde gostaria de gravá-la, e ela não teve dúvida. Isso nos remeteu a estabelecer contato com o Tiago, que nos recebeu de braços abertos, sem sequer nos conhecer pessoalmente. Realmente, ano passado, indo pra Europa, passando por Lisboa, ele me sugeriu um encontro para tratarmos da possibilidade de produzirmos um porcelana portuguesa, contemplada com suas composições em parceria com vários compositores brasileiros. No momento, ainda não estamos nos encarregando desse projeto, embora seja do nosso interesse. É que precisamos dar conta do porcelana brasileira.
Quem acompanha a sua carreira percebe em “Porcelana” uma perfeita simbiose entre dois distintos artistas sem que haja a perda da identidade de nenhum. Em sua opinião, para que haja essa perfeita equação quais são os elementos imprescindíveis?
GL – É isso mesmo, Bruno. Um trabalho de parceria em cena, em disco, entre dois artistas, tem que ser regido, sobretudo pelas identidades artísticas, construídas através das diferenças, semelhanças e interesses. Encontrar um ponto de convergência resulta em um grande mistério que somente a arte, com todos os seus enigmas, pode explicar. Esses encontros não acontecem por acaso. De minha parte, sinto-me um privilegiado em ter realizado um projeto com uma artista que atravessou, pelo menos, 50 anos de música brasileira no século passado, sem nunca ter aberto mão da sua coerência, da sua verdade, sem se submeter, sobretudo às leis do mercado. Essa faceta de Alaíde me diz, muito de perto, razão pela qual continuamos trabalhando ao longo desses anos.
Ao longo de 2015 você veio apresentando nos palcos por onde andou o projeto “Eu já escuto os teus sinais”, uma homenagem ao Alceu Valença. Já que este ano o cantor e compositor completa setenta anos, há alguma pretensão de manter esse espetáculo em cartaz ou o foco agora passa a ser exclusivamente “Porcelana”?
GL - Produzir um trabalho e mantê-lo apresentando, hoje é um grande desafio para qualquer artista. Apesar das dificuldades todas, tento enfrentá-las. Em 2015 nos encarregamos de eu já escuto os teus sinais. Poderia ter feito mais shows, mas o mercado sempre nos coloca limites. Mas é um show que está pronto e, em qualquer momento, posso voltar a apresentá-lo. O fato é que, 2016 e 2017, verdadeiramente estaremos nos encarregando de porcelana, uma vez que encontra-se inscrito em grandes editais e com 2 produtores no sudeste interessados no projeto. O que não inviabiliza que, nos hiatos da minha agenda, eu possa retomar Eu já escuto os teus sinais, um show que adoro fazê-lo, mesmo porque é para mim um grande desafio.
Seu disco anterior (“De mim”) é caracterizado por uma sonoridade peculiar além de trazer em seu bojo o tempo como égide. Você acredita que “Porcelana” traga algum detalhe que mereça um destaque maior?
GL - Quando avançamos na idade, somos perseguidos pelo tempo. Não podemos nos alienar dele. Em porcelana, ele mais uma vez nos persegue, dessa vez, de mãos dadas com a delicadeza, com a amorosidade, com a cumplicidade e com um entendimento maior dessa dimensão humana. O tempo gera poesia, nos fortalecendo para melhor cumprir uma função no mundo, precipitando férteis fazeres artísticos. Sem nenhuma pretensão, porcelana é feito disso. Um trabalho apaixonado e profundo.
“Receita de samba” e “Teatro – Na boca de cena nasci” são projetos paralelos que você desenvolveu com êxito. Há um sobre a obra do saudoso Manoel de Barros que você vem desenvolvendo ao lado da atriz Ceronha Pontes e que você pretende levar aos palcos. Você poderia nos contar um pouco sobre esse projeto?
GL - É a menina dos meus olhos. Ele já poderia ter acontecido, mas somos três artistas (eu, ceronha e o diretor andré brasileiro), que no ano de 2015, tivemos muitos afazeres que terminou por não ter acontecido. O nome do espetáculo é concerto de assobios, cuja dramaturgia é assinada por Ceronha e a direção cênica por André Brasileiro. juntando-se a nós estão: Cláudio Moura – violas, fabiano menezes – cello e tomás melo – percussão. Já fizemos algumas tantas leituras de mesa, a dramaturgia está pronta e arrematada. Não falta muito para que possamos estrear, mas estrear um trabalho como esse depende, sobretudo, de uma pauta em teatro, hoje, uma das grandes deficiências em nossa cidade. É possível que ainda esse ano possamos colocar concerto de assobios em cima do palco.
“Porcelana” ainda se encontra em fase de pré-lançamento. Recentemente vocês apresentaram-se em Recife acredito que para os últimos ajustes antes de cair na estrada. Já há alguma previsão de quando será o lançamento oficial e quando o espetáculo ganhará os palcos do país?
GL - O show Porcelana adiantou-se ao pré-lançamento do disco quando, em julho do ano passado, fomos convidados pela Fundarpe para abrirmos o Festival de Inverno de Garanhuns e, como se não bastasse, no teatro. nos sentimos muito honrados e sensibilizados pelo convite. Lá, pudemos fazer o show em toda sua plenitude, com uma linda cenografia, uma extraordinária luz, uma banda exemplar e uma produção da melhor qualidade. É esse o show que esperamos que seja contemplado pelos editais já mencionados e que possamos presentear o brasil. É um show caro, sobretudo porque envolve uma equipe artística e técnica não muito pequena. Vamos torcer daqui e vocês torçam daí, para tudo dar certo. Edital, hoje, é uma grande loteria e uma caixinha de surpresa.
Você tem lançado seus últimos projetos solos em intervalos que levam em média três anos. Ao levar em consideração essa observação já estamos nos aproximando de um novo registro fonográfico. Já alguma ideia formulada para o seu próximo projeto?
GL - O artista, para criar, precisa habitar zonas de silêncio e de solidão. É um tempo que é muito mais da ordem subjetiva do que pragmático. Claro que as ideias no decorrer de uma coisa e outra vão se avizinhando, nos empurrando para a criação. Sou um refém e um obediente do tempo. Tenho convites já aceitos para dar conta, entre os quais, a gravação de um disco e shows com a cantora potiguar Cida Airam. Foi um surpreendente convite que não tive como recusar, pois trata-se de uma extraordinária artista que comunga da mesma estética musical e poética que eu. Essas coisas misteriosas que a arte nos proporciona. Sequer a conheço pessoalmente, muito menos sua produtora Laís Pires, de quem partiu o convite. É provável que esse projeto tenha o nome de aproximações, cujo o lance é compor um diálogo musical entre Brasil e Portugal, através de temas da tradição oral brasileira e temas tradicionais da ilha dos Açores. Por isso que reafirmo: com a arte não podemos ter pressa.
Serviço
Show Coberto de Luar
(Gonzaga Leal com participações de Guadalupe e Nena Queiroga)
Teatro Arraial Ariano Suassuna, rua da Aurora, 457, Centro do Recife
Dia 7/7/16 (quinta-feira) - 20h
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
OBS: Os ingressos somente serão vendidos duas horas antes do show, às 18h, na bilheteria do teatro
Maiores Informações:
Leal Produções Artísticas Ltda.
Rua Raul Lafayette, 191 - sala 403
Boa Viagem - Recife - PE
CEP: 51021-220
Fone/fax: (81) 3463.4635 e 8712.5110
Site Oficial - http://www.gonzagaleal.com.br/
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