“CAÇULA” DA JOVEM GUARDA, LENO COMEMORA 50 ANOS DE CARREIRA

Por Nélio Barbosa

Outrora conhecido como o “caçula” da Jovem Guarda, o cantor e compositor Leno comemora os 50 anos de carreira com o videoclipe da música “Poeira Interestelar”. Leno se projetou no cenário do rock nacional quando lançou o primeiro disco em 1966, quando fazia dupla com a cantora Lilian. Participante de um movimento que mexeu com as estruturas da música brasileira, o artista atravessou o período de efervescência política e teve letras de músicas censuradas pela ditadura militar (1964-1985).

A astronomia, as viagens espaciais e os mistérios do universo são alguns dos assuntos preferidos de Leno. O gosto por esses temas começou após a leitura da obra “Viagem ao céu”, de Monteiro Lobato. “Poeira Interestelar” tem a presença de todos esses elementos e a relação entre homem e o meio ambiente, em uma perspectiva existencialista. “As novas e fantásticas descobertas científicas e astronômicas estão chegando cada vez mais perto da origem do Universo, da vida e da nossa existência, o que pode libertar a humanidade de tantas crenças e fanatismos absurdos que através dos séculos têm causado tantas guerras religiosas, intolerância e sofrimento em nome de Deus”, diz.

O cantor Leno é um dos nomes que despontaram na Jovem Guarda; para ele, a música brasileira retrocedeu de qualidade (Foto: Divulgação)

De 1974, a letra de “Flores Mortas” diz: “a ambição faz com que esqueça, quanto vale a natureza”. Essa foi um das primeiras canções de cunho ecológico compostas no Brasil, que também tem espaço em “Poeira Interestelar”. “As mudanças climáticas, infelizmente, estão aí batendo na porta. Que ainda seja tempo de se reverter isso”, afirma Leno.

Em 1971, Leno teve 5 das 12 canções do disco “Vida e Obra de Johnny McCartney” censuradas pela Ditadura Militar. Nesse trabalho, havia a parceria com Raul Seixas. Mesmo assim, a Jovem Guarda era acusada pelo silêncio durante o período. “Sempre me posicionei contra ditaduras de direita ou esquerda. Mas não posso responder pelo silêncio de Roberto Carlos, por exemplo”, diz o cantor.

Nova MPB

Ao longo de cinco décadas de estrada, Leno acredita que os movimentos surgidos no século passado mudaram os rumos da música no Brasil. No entanto, os avanços cessaram e o cantor não acredita que o sertanejo universitário seja a nova Música Popular Brasileira (MPB). Ao contrário, ele a vê de forma distinta e crítica o gênero quando comparado ao sertanejo raiz. “A verdadeira música sertaneja é outra coisa, diferente do que ouvimos hoje. Em minha opinião, de um modo geral, a música brasileira, que foi uma das melhores do mundo, retrocedeu de qualidade”, diz.

Para o cantor, o movimento passou e não existe mais. “Nunca haverá algo parecido com a Jovem Guarda. Não com aquele entusiasmo e autoestima. Eram tempos de esperança, não de cinismo pragmático”, afirma Leno, que não tem previsão de quando lançará um novo álbum.