segunda-feira, 4 de novembro de 2019

PAUTA MUSICAL: DILERMANDO REIS - UM VIOLÃO QUE NÃO PERDE A MAJESTADE

Por Laura Macedo



Dilermando Reis (22/9/1916/Guaratinguetá - 2/1/1977/Rio de Janeiro) é oriundo de uma família numerosa, ocupando na constelação familiar de quinze filhos a terceira posição.

Era uma época em que violão e violonistas não eram bem vistos por ninguém, mas o menino, para desespero da mãe, demonstrava grande interesse por ele.

As esperanças de dona Benedita residiam no porte físico do filho, que era baixinho, gordinho, braços curtos e mãos pequenas e rechonchudas. Mas essas esperanças foram logo dissipadas por sua boa performance no violão, inversamente proporcional ao seu desempenho na escola, para desespero da mãe.

Com 15 anos de idade já era reconhecido na sua cidade como o melhor violonista. Habilidoso em "tirar de ouvido", tocava tudo o que queria.

Em 1931 a cidade de Guaratinguetá recebe para um recital o violonista mato-grossense Levino Albano da Conceição, cego desde os 7 anos de idade. O encantamento recíproco entre eles deu-se de imediato, mas Levino percebeu que o talento de Dilermando precisava ser lapidado e convenceu seus pais a deixá-lo seguir com ele nas suas andanças pelo país afora, aperfeiçoando sua técnica e sendo seu guia. Dois anos depois os dois desembarcam no Rio de Janeiro e instalam-se na pensão onde morava João Pernambuco.

Até hoje não se sabe direito porque Levino, deixando quinze dias de pensão pagos, viaja à Bahia e Campos (RJ), prometendo que mandaria buscá-lo. O fato é que só retornou dois anos depois. Dilermando com 17 anos chegou a pensar em voltar para sua cidade natal, mas criou coragem e relatou seu drama a João Pernambuco que, generosamente, passou a dividir seu quarto com ele.

O primeiro "ganha pão" conseguido foi o de professor de violão em uma das inúmeras lojas de instrumentos musicais que existiam no Rio de Janeiro, firmando-se na loja "A Guitarra de Prata", ponto de encontro dos artistas cariocas.

Mas sua carreira profissional engataria de vez em 1936 quando conhece o radialista Renato Murce, diretor de programas da Rádio Transmissora, hoje Rede Globo. Nessa época o Regional de Pixinguinha (Luiz Americano/João da Baiana/Tute/Luperce Miranda) apresentava-se nessa rádio e Dilermando foi convidado a integrar o regional, um super time de feras.

O primeiro disco só sairia em 1941, pela gravadora Colúmbia, depois Continental Discos, sua única gravadora, onde gravou 35 discos 78 rpm e 25 LPs, até 1977.

Na década de 1950 torna-se conhecido em todo o Brasil, seus discos fazem imenso sucesso, incentivando os novatos a buscar inspiração em sua obra. É o caso de Baden Powell, que aos 10 anos de idade apresenta-se no programa "Papel Carbono", de Renato Murce, na Rádio Nacional, tocando "Magoado", de Dilermando. A imitação foi tão perfeita que obteve o primeiro lugar.

De 1956 a 1969 manteve na Rádio Nacional o programa "Sua Majestade, o Violão", grande sucesso da época, vindo a declinar quando o rádio começa a perder espaço para a televisão.

"Também pode ser um bom artista, exclusivista, tomando com Dilermando
umas aulinhas de violão. Isso é viver como se aprova, é ser um presidente bossa-nova". (Música do cantor e compositor Juca Chaves - "Presidente Bossa-Nova").

Esse trecho da música acima demonstra a popularidade de Dilermando à época e a estreita amizade entre ele e o Presidente Juscelino Kubitschek.

A maioria dos textos que li sobre a vida de Dilermando nos diz que ele teria sido professor de violão do Presidente, fato desmentido pelo próprio Dilermando em depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 1972: "Eu apenas o acompanhei, várias vezes, quando ele cantava. Ele é bom seresteiro. Quem aprendeu violão comigo foi sua filha, Maristela".

O compositor Dilermando nos brindou com cerca de 120 composições, destacando-se: "Se ela perguntar" (a minha preferida), "Conversa de baiana", "Doutor sabe tudo", "Magoado", "Quando vovô dançava", "Tempo de criança", "Terno olhar", "Uma valsa e dois amores", "Vê se te agrada" e "Xodó da baiana".

Dilermando Reis continuou gravando até dois anos antes da sua morte, ocorrida em 02 de janeiro de 1977, antes de completar 60 anos de idade.

Em 2004 a gravadora Revivendo Discos lançou o CD "Dilermando Reis - noite de estrelas", uma coletânea com 21 faixas gravadas pelo violonista entre 1941 e 1951, muitas delas em duo com o grande violonista e professor Jaime Florence, o Meira.

Muitos violonistas brasileiros e também estrangeiros gravaram suas composições, entre eles Turíbio Santos, Rafhael Rabello, Fred Scheneiter, Paulo Bellinati, David Russell e Yamandú Costa.

Mas sem sombra de dúvida, o violonista de mãos rechonchudas foi o grande intérprete de sua obra.


Fonte: Violões do Brasil / organização Myriam Taubkin; fotos Angélica Del Nery. - 2ª ed. ver/ampl. -São Paulo: Editora Senac São Paulo: Edições Senac São Paulo, 2007. Vídeos: Luciano Hortencio.

1 comentários:

Unknown disse...

Meu esposo Antonio Braz Cardoso sempre gostou muito desse violonista e até aprendeu tocar ouvindo as suas músicas

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