segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Por Luiz Américo Lisboa Junior 

A Música de Edu Lobo por Edu Lobo (1964)

Quando no início dos anos sessenta a Bossa Nova já dava seus primeiros passos rumos a uma carreira internacional bem sucedida e alguns de seus componentes já fincavam raízes permanentes ou temporárias nos Estados Unidos, aqui no Brasil o cenário se abria para uma nova geração que surgia no bojo do movimento renovador. Eram jovens compositores que influenciados pelos realizadores da Bossa Nova iriam seguir um caminho próprio mas que revelavam em sua poética e em suas melodias a forte influencia daqueles que modificaram e modernizaram esteticamente a musica brasileira. 

O país vivia um momento de larga produção cultural comandada por rapazes de talentos múltiplos que queriam mostrar sua cara e fazer história, seja no teatro, no cinema ou na música, projetando seus idealizadores. Fazendo um contraponto com o movimento renovador e de redescoberta de nossa nacionalidade ocorrido com a Semana de Arte Moderna de 1922 com seus representantes como Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Heitor Villa Lobos, Manuel Bandeira dentre outros, a nova geração que aparece no cenário a partir de 1964 vem também com uma proposta de discutir e idealizar um Brasil que vivia um momento de vanguarda dentro do cenário cultural internacional. 

Aqui, contudo, não estamos querendo comparar as propostas dos dois cenários, mas apenas demonstrar que foi a partir da força criadora da Bossa Nova que se proporcionou em nosso país o surgimento de uma grande quantidade de talentos em diversas áreas da atividade cultural na mesma proporção ou ate mesmo em número maior do que aqueles pioneiros dos anos vinte. Por outro lado podemos também afirmar que após o período que vai de 1930 a 1945 onde foram revelados os compositores e interpretes que formaram a base da musica popular do Brasil, a nova geração oriunda da Bossa Nova e que adentra os anos sessenta representa outro momento de grande transformação e consolidação da nossa canção popular como veículo de entretenimento e parceira das profundas transformações sociais que o país estava atravessando. Dentre esses realizadores iremos encontrar o jovem Eduardo de Góes Lobo, filho do compositor e radialista Fernando Lobo e que iria se tornar nacionalmente conhecido como um dos nossos mais sólidos criadores na área musical, assinando-se como Edu Lobo. 

Em dezembro de 1964 ele entraria no estúdio da Rio Som no Rio de Janeiro para iniciar as gravações de seus primeiro LP a ser lançado pela gravadora Elenco de Aloysio de Oliveira que estava formando um time de primeiríssima qualidade com novos artistas que se revelavam no cenário nacional. O disco intitulado A música de Edu Lobo por Edu Lobo, revela um compositor notável, de harmonias sofisticadas com um repertório de canções autorais além de parceiros destacados e seria lançado no primeiro semestre no ano seguinte. 

Com Vinicius de Moraes, ele nos brinda com Arrastão, música vencedora do I Festival de Música Popular realizado pela TV Excelsior de São Paulo em 1965 e defendida com brilhantismo pela também estreante Elis Regina. Influenciado pela cultura popular numa visão de engajamento criativo de forte conotação social, une-se a Ruy Guerra e produz canções como Canção da terra, Reza e Aleluia além de Resolução com Lula Freire. Penetrando no universo do teatro que se realizava nos Centro Populares de Cultura ligados a UNE compõe com Oduvaldo Viana Filho para a peça Os Azeredos e os Benevides, a canção Chegança, com Vinicius de Moraes assina ainda Zambi música cujo tema central gira em torno de Zumbi dos Palmares e inspirou a realização da peça Arena conta Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal. O disco traz ainda Borandá, música de protesto incluída com muito sucesso no repertório do show Opinião e as líricas Canção do amanhecer, também com Vinicius de Moraes, Réquiem para um amor e Em tempo de adeus com Ruy Guerra e As mesmas histórias. 

Marco inicial de uma trajetória pessoal que se iniciou timidamente em 1962 este primeiro LP de Edu Lobo acompanhado pelo Tamba Trio, responsável por todos os arranjos e formado por O'Hanna, na bateria, Bebeto, na flauta e Luis Eça, no piano, nos revela o nível artístico e os primeiros passos de um dos mais talentosos e fundamentais autores da música popular brasileira. 


Músicas: 
01- Borandá 
(Edu Lobo) 
02- Resolução 
(Edu Lobo e Lula Freire) 
03- As mesmas histórias 
(Edu Lobo) 
04- Aleluia 
(Edu Lobo e Ruy Guerra) 
05- Canção da terra 
(Edu Lobo e Ruy Guerra) 
06- Zambi 
(Edu Lobo e Vinícius de Moraes) 
07- Reza 
(Edu Lobo e Ruy Guerra) 
08- Arrastão 
(Edu Lobo e Vinícius de Moraes) 
09- Réquiem para um amor 
(Edu Lobo e Ruy Guerra) 
10- Chegança 
(Edu Lobo e Oduvaldo Viana Filho) 
11- Canção do amanhecer 
(Edu Lobo e Vinícius de Moraes) 
12- Em tempo de adeus 
(Edu Lobo e Ruy Guerra)

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