domingo, 23 de fevereiro de 2014

HERVÊ CORDOVIL, 100 ANOS

Autor de marchas, sambas, baiões e até rock, Hervê Cordovil teve suas canções gravadas em diversos idiomas ao redor do mundo


Por Bruno Negromonte


Mineiro de Viçosa, Hervê Cordovil se vivo estivesse estaria completando um século de existência ao longo de 2014. O músico e compositor foi responsável por inúmeros sucessos dentro de nossa MPB, tendo a "ousadia" de escrever canções para os mais diversos gêneros com a mesma eficácia, enumerando grandes hits em ritmos como o baião e o rock e tendo ao longo de sua carreira parcerias com alguns dos nomes mais expressivos da música popular brasileira como Luiz Gonzaga, Noel Rosa  entre outros.

De família musical, Hervê desde a infância se viu em meio a instrumentos e canções junto aos pais e os irmãos. Tocava de tudo um pouco sem prender-se a instrumento algum, até seguir para o Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde entrou aos 10 anos de idade e lá teve a oportunidade de desenvolver aquilo que antes restringia-se apenas a prática. Foi no colégio que Cordovil teve a oportunidade de desenvolver o conhecimento teórico através de professores o desenvolveu através da banda do Colégio Militar tocando piston, sax, baixo tuba entre outros. Posteriormente chegou a formar, junto aos colegas de instituição, uma jazz band onde tocava saxofone até o dia em que um dos integrantes foi visitar sua terra natal e não mais voltou. Este colega, chamado Moreno, era natural do Mato Grosso e tocava piano e ao não mais voltar deixou essa lacuna na jazz band. Hervê assumiu o piano e a partir daí não mais deixou de executá-lo, dando início a sua consagrada carreira em 1931. Não seguiu a carreira militar e consequentemente não veio a tornar-se um militar de alta patente, mas ao final transformou-se além de pianista, regente e um dos mais conceituados compositores do século XX.


Sobre o compositor centenário há algumas histórias curiosas principalmente referentes as suas composições e parceiros. É de autoria de Hervê, por exemplo, a primeira gravação fonográfica do Carlos Galhardo, ocorrida em dezembro de 1933 com a marcha "Carolina", parceria de Cordovil com Bonfiglio de Oliveira. Vale salientar que apesar desta canção ser o primeiro registro de Galhardo ele só veio a ser lançado posteriormente a canção "Boas Festas", de autoria de Assis Valente, e lançada na voz do cantor no mesmo período. Com Lamartine Babo (que o chamava de Hervê cor de ervilha) compôs diversas canções, dentre as quais "Morena Sweepstake", "Menina Oxigené", "Seu abóbora" e "Allô, allô carnaval", canção escrita para uma peça e um filme do mesmo nomeOutro parceiro foi Noel Rosa, com quem compôs dezenas de canções para teatros e sucessos como "Não resta a menor dúvida" (registrada pelo Bando da Lua) e "Triste cuíca" (gravada por Aracy de Almeida). Moravam muito próximos e muitas vezes voltavam juntos das intermináveis noites. Chegaram a compor muitas dessas canções quando retornavam dessas noitadas nos bancos do bondes e trens do Rio de Janeiro. Certa vez  o apresentador Rolando Boldrin revelou que Hervé lhe contara que certo dia estava passando por um centro espírita e sentiu uma imensa vontade de entrar. Durante a reunião, um médium anunciou que o cantor e compositor Noel Rosa estava lhe dizendo que havia um amigo dele ali presente. Solicitaram que ele então se apresentasse. Hervé ficou quieto, achou que não era com ele. Numa segunda vez, passando pelo local, sentindo-se novamente atraído, entrou no centro e escutou a mesma história. O maestro não resistiu e, enfim, se apresentou, inseguro, como parceiro de Noel em algumas canções, quando este ainda estava encarnado. A canção fez muito sucesso na época de sua gravação, em 1964, na voz da cantora Vera Maria. Eis a letra:


Minha “Vila” agora é outra
Muito longe da “Isabel”
Meu papel agora é doutra
Qualidade do papel
Que representei na Terra,
Andando de deu em deu,
Alma voltada pro samba,
Nada voltado pro céu!...

Se eu fizesse agora, um samba
Ia ter mais harmonia
Não teria gente bamba,
Não teria valentia,
Pois valente, nesta vila,
É aquele que perdoa,
Que padece e não estrila,
Não é rei nem quer coroa...

Se eu fizesse agora um hino...
Ah! Se um hino eu compusesse...
Começaria com sino,
Terminaria com prece,
Prece serena, tranquila...
E teria este pedaço:
“ Faça, Senhor, lá da Vila

A Vila Isabel do Espaço!”


Entre os anos de 1940 e 1960 compôs canções como "Cabeça inchada" (composição que ganhou versões em diversos idiomas, dentre eles turco e japonês); "Sabiá lá na gaiola"; "Vida de viajante" e "Xaxado"(ambas em parceira com Luiz Gonzaga)  contribuindo de modo decisivo para fazer de Carmélia Alves a rainha do baião e para a afirmação do Baião como expressivo gênero durante os anos de 1950. Além disso foi responsável por canções como  "Meu pé de manacá" (em parceria com sua prima Mariza Pinto Coelho),  o samba-canção "Uma loura"que foi gravada brilhantemente por Dick Farney em 1951 e o rock "Rua Augusta", deixando sua contribuição para a Jovem Guarda. Lançada por seu filho, Ronnie Cord, a música teve versos censurados pela ditadura, mas mesmo assim alcançou amplo sucesso.

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