Em 2014 completa-se meia década sem Ary Barroso e o Musicaria Brasil traz esta curiosidade história de sua biografia
Ele chegou a transmitir jogos em cima de um galinheiro
Um dia, depois de tanto criticar o Vasco da Gama, Ary Barroso foi proibido de entrar no estádio São Januário. E para não deixar os ouvintes na mão, o teimoso radialista simplesmente subiu no telhado de um galinheiro ao lado e de lá fez a locução do jogo. Esta não foi a única transmissão clandestina de Ary. De outra vez, novamente impedido de entrar no estádio num jogo de um campeonato sul-americano no Uruguai (outra emissora detinha os direitos de transmitir a partida), Ary não se deu por vencido e hospedou-se num hotel de Buenos Aires, na vizinha Argentina. De lá, sintonizado na rádio Mayrink Veiga, reproduziu a narração, como se ele próprio estivesse no campo. Mais que isso, a certa altura do jogo, passou a acompanhar a transmissão de uma rádio argentina, e foi "traduzindo" a partida. Com esse truque, conseguiu anunciar um gol antes da rádio carioca. No mesmo campeonato do Uruguai, o brasileiro chegou a desmaiar de emoção durante uma partida.
Em 1944, na decisão do campeonato carioca entre Flamengo e Vasco, Ary estava na cabine de rádio quando aos 41 minutos do segundo tempo saiu o gol que dava o título de tricampeão ao rubronegro. Emocionado, ele abandonou o microfone e foi torcer à beira do gramado.
Na final da Copa do Mundo de 1950, quando o uruguaio Gighia fez o Maracanã emudecer, Ary Barroso emudeceu, chorou e deu por encerrada suas transmissões futebolísticas. Acabou voltando, dois anos depois.
Compositor prolífico, não escondia que sua maior paixão era mesmo o futebol... Flamenguista doente, torcedor fanático, marcou a história da locução esportiva no país por sua personalidade e também por inovações criativas. Exemplo: Ary foi o primeiro repórter de campo, desses de microfone em punho em busca da primeira declaração do goleador. Até então nenhum profissional saía da cabine de rádio.
Sua marca era uma indefectível gaitinha de boca, dessas agudas de criança, que ele adquiriu numa loja de instrumentos, e que tocava sempre que se fazia um gol. Bem, quase sempre...porque, se o gol era do Flamengo, a gaitinha soava forte e musical; o mesmo não acontecia quando era gol contra o seu time do coração. Mas também, ora essa, Ary nunca tinha escondido dos ouvintes sua tendência a torcedor rubro-negro. Quando transmitia jogos de seu time, os ouvintes já nem estranhavam se a figura invadia o campo pra xingar o juiz, abandonava o microfone para incentivar os jogadores ou mesmo emprestava sua gravata pra servir de tala pra um jogador chamado Jaú, que machucou a clavícula num lance contra um time inimigo.
Tem ainda mais uma história bem engraçada, envolvendo uma aposta feita pelo flameguista Ary e outro compositor, o fluminense Haroldo Barbosa. Como conta o escritor Ruy Castro: "Em 1953 ou 1954, os dois apostaram o bigode num Fla-Flu. Quem perdesse teria o bigode raspado pelo outro, com imprensa e tudo. Haroldo ganhou, e a história, anos depois, acabou num samba: "Flamengo já parou de perder por aí / Eu vi o Haroldo Barbosa raspar o bigode do Ary. / Às vezes, com dez homens ele vence / Mas, também com onze, perdeu para o Fluminense".
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