Cantor lançou oficialmente ontem o Azougue Vapor, juntos aos mestres João Paulo e João Limoeiro
Por Valentine Herold
Siba pode ter saído da Mata Norte, mas ela nunca sairá dele. Nem mesmo quando o músico empunha uma guitarra nas mãos, os ritmos e as melodias da ciranda ou do maracatu ficam de fora. Fazem parte de sua trajetória e identidade musical. Estão, bem dizer, no sangue. Após a volta – cerca de 20 anos depois – do instrumento bem característico do rock em seu trabalho (com o disco solo Avante, lançado em 2012), Mestre Siba dá continuidade às distorções e aos riffs de uma maneira bem peculiar em seu mais novo projeto, o Azougue Vapor.
Acompanhado dos mestres João Limoeiro e João Paulo, dos municípios de Limoeiro e Nazaré da Mata, respectivamente, ele procura sintetizar aí as características da Fuloresta com o último trabalho, cirandando entre o contemporâneo e a tradição, como já é de seu feitio. Junto ao trio estão os músicos Caçapa (guitarra), Leandro Gervázio (tuba), Mestre Nico (percussão) e Antônio Loureiro (bateria). Com o primeiro show já agendado para o Carnaval de Brasília, o grupo é, originalmente, de palco. “Não é um projeto de disco, a princípio. É para acontecer no palco ao longo de 2014 inteiro, meu projeto especial”, pontua Siba.
O repertório de Azougue Vapor é formado por composições dos três mestres. “O ponto de encontro é a reelaboração musical de tudo. É um passo adiante para mim em relação a olhar para essa linguagem musical tradicional de um jeito meu, que tem a ver com meu momento”, continua.
“Azougue” é a bebida típica que os caboclos de lança tomavam – uma mistura de pólvora, azeite e cachaça. Já “vapor”, segundo o próprio Siba, está relacionado a uma não solidificação da poesia e música das festas de rua, que são muito “fluidas na Mata Norte, quase evaporáveis, pois não se mantêm sempre igual” e nem podem ser reproduzidas como são (em termos de energia e sensações) nas gravações.
“Queremos passar o ano tocando, já tem propostas de shows encaminhadas para São Paulo, fora a do Carnaval de Brasília. Mas foi com o coração no Carnaval do Recife que eu imaginei o projeto, só que ainda não temos nada certo. E mesmo o maracatu ainda ocupando um lugar marginalizado durante a festa.”
TRABALHO SOLO - Ao contrário do que vinha se especulando, Siba não deixará de lado sua carreira solo em 2014. Além de planejar outra turnê europeia de Avante (o disco foi lançado na Inglaterra no ano passado e, a partir daquele momento, distribuído na Europa), ele prepara também seu próximo álbum. “Esse meu novo projeto tem a ver com toda essa relação da exploração da música da Mata Norte e a guitarra”, adianta. “Acho que o Azougue Vapor vai me ajudar em termos de mergulho musical para isso.”
Mesmo com duas décadas de incorporação musical da Zona da Mata Norte em sua produção, Siba não se considera um divulgador oficial da cultura da região. “Meu objetivo não é levar a Mata Norte pra lugar nenhum. Ela está comigo e acaba indo, foi a região que me formou”, diz. Mas impossível ignorar a influência que teve e continua tendo, ao absorver a Mata Norte em suas produções, em levar a sua cultura para outros Estados e até para fora do País. “Fatalmente, onde estou e tudo que eu faço acaba tendo a marca inconfundível da Zona da Mata Norte. Mas cabe aos órgãos governamentais divulgar e difundir a cultura local.”
0 comentários:
Postar um comentário