Anjo Gabriel Semente de Vulcão e Tagore trazem em seu som marcas da psicodelia pernambucana dos anos 70
Por Valentine Herold
Toda viagem, assim como toda ideia, tem um ponto de partida. Um sentimento, uma sensação, uma necessidade ou até uma obrigação formam geralmente o pontapé inicial de ações não só espontâneas, mas também desejadas. Assim foi com a psicodelia artística dos anos 1970 e voltou a ser ultimamente com novas bandas pernambucanas que se inspiram no movimento udigrúdi que ocorreu há 40 anos para produzir música contemporânea.
Em sua própria origem grega semântica, psicodelia é a junção da psiké (alma) e delos (manifestação). Uma maneira de expressar de forma fora dos padrões sociais da normalidade as inquietações sentidas. Dentre os artistas locais que optaram por essa forma de arte está a banda Anjo Gabriel. A viagem deles não levou o quarteto formado por Chris Rás (guitarra e percussão), André Sette (teclados e flauta), Shanti (baixo e percussão) e Ch Malves (bateria e percussão) ainda para nenhum destino físico; ela é figurada e foi posta em prática num álbum, lançado em LP em setembro de 2013 e, na semana passada, em CD: Lucifer rising.
Semente de Vulcão, Tagore e Feiticeiro Julião são outros artistas locais que bebem da fonte da loucura coletiva e dos desejos dos anos 1970, não apenas nos Estados Unidos dos festivais, da paz e do amor livre, do LSD e da maconha, entre outras drogas, nem só aquela relacionada aos riffs e solos inspirados e contagiantes de Jimi Hendrix, Pink Floyd ou Beatles. Artistas brasileiros que marcaram a época, como Mutantes, Raul Seixas, Ronnie Von e, principalmente, o udigrúdi pernambucano influenciaram os grupos. Tanto Anjo Gabriel, Semente de Vulcão e Tagore têm Ave Sangria, Lula Côrtes e Alceu Valença como suas grandes influências.
Lucifer rising é o nome do segundo disco da banda Anjo Gabriel. Homônimo ao filme de Kenneth Anger, de 1972, mas lançado apenas em 1981, suas faixas foram inicialmente compostas para a mostra Play the Movie (que integra a programação do Festival No Ar Coquetel Molotov), de 2010. A trilha sonora original de Bobby Beausoleil, após o diretor brigar com Jimmy Page, que deveria compor para o filme. “Os dois [Kenneth e Jimmy] tiveram meio que uma briga religiosa. Eles eram ocultistas, seguidores de Aleister Crowley”, conta o baixista da banda, Marco.
“O significado histórico e estético dos anos 70 e do filme nos atrai muito”, ressalta o guitarrista Chris. “Mas não queremos ser pastiches e mofados, repetindo riffs do Jimi Hendrix nas nossas músicas. Nós usamos essas referências para criar o novo.”
Entre a composição da faixas e o lançamento do disco passaram-se três anos. Por que a demora já que tudo estava pronto? “As músicas foram amadurecendo. A gente inseriu algumas partes nos shows porque na verdade nem pensávamos em transformar em disco. Tanto que nesse meio tempo lançamos outro álbum”, explica Marco.
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