Lançado no dia 8 de março de 1959, o álbum começou a ganhar vida três anos antes no sítio da família de Tom Jobim, em Poço Fundo, na região serrana do Rio
Por André Bernardo
sábado, 29 de junho de 2019
OS BASTIDORES DE "CHEGA DE SAUDADE", CLÁSSICO DE JOÃO GILBERTO QUE COMPLETA 60 ANOS... – PARTE 04
'Quase um sussurro ao pé do ouvido'
O jornalista e crítico musical Tárik de Souza explica que não foi fácil a João convencer a todos de sua proposta inovadora. Principalmente os músicos da percussão. "João não queria a estridência da bateria e, reza a lenda, recorreu a um catálogo telefônico para abafar o ressoar das baquetas", diz.
Aos 72 anos, Tárik pode se orgulhar de ter sido um dos poucos jornalistas a conseguir uma exclusiva com João Gilberto. A proeza aconteceu em 1971, no Hotel Glória, para a revista Veja. "Conversamos por mais de quatro horas, sem que ele me deixasse ligar o gravador ou fazer anotações. Dois dias depois, lá estava eu na redação, em São Paulo, redigindo a mais importante entrevista da minha vida", recorda. Do álbum em si, o que mais lhe chama a atenção é a "transparência vocal absolutamente confidente". "Quase um sussurro ao pé do ouvido", define.
Terminada a gravação, João ainda tinha que posar para as lentes de Chico Pereira, o fotógrafo da Odeon. A roupa que ele usa na capa, a propósito, é de Roberto Menescal. "Um dia, o João me pediu uma ou duas camisas emprestadas. Em casa, levou o armário inteiro e eu fiquei só com a roupa do corpo. Nunca mais devolveu", entrega, bem-humorado, o autor de "O Barquinho".
Fora de catálogo desde 1990, "Chega de saudade" só pode ser encontrado em sebos ou sites de compra e venda. No site Mercado Livre, uma cópia pode custar até R$ 900. Em 2014, o engenheiro de som André Dias foi contratado para remasterizar seus três primeiros LPs: "Chega de saudade" (1959), "O amor, o sorriso e a flor" (1960) e "João Gilberto" (1961). A epopeia, calcula, levou cinco meses. Na dúvida sobre o resultado do trabalho, João ouviu uma segunda e terceira opinião: a dos produtores Moogie Canazio e Shigeki Miyata. Os dois aprovaram a remasterização.
Dias não perde a esperança de, um dia, João Gilberto autorizar o relançamento. "Gostaria que isso acontecesse com o João ainda vivo. Queria muito que ele se orgulhasse e visse que foi feita justiça com sua arte. Será a grande realização da minha vida."
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