Ex-baterista e compositor da banda O Rappa morreu este ano no Rio de Janeiro aos 53 anos.
Por José Orenstein
Depois de ficar paraplégico ao reagir a um assalto, destacou-se como militante dos direitos humanos
Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana era mais conhecido apenas como Marcelo Yuka. Baterista, compositor e ativista político, morreu aos 53 anos de idade no fim da noite de sexta-feira (18), no Rio de Janeiro, em razão de um acidente vascular cerebral isquêmico. O artista estava internado no hospital Quinta D’Or, em São Cristóvão, e havia entrado em coma induzido em 4 de janeiro de 2019. Yuka tornou-se conhecido nacionalmente nos anos 1990, quando fundou a banda O Rappa, da qual era baterista e compositor da maioria das canções. O grupo alcançou grande sucesso a partir do seu segundo disco, “Rappa Mundi”, de 1996, com hits como “Pescador de Ilusões”. Misturando rock, rap e reggae, embalando letras que por vezes tinham teor político, O Rappa tornou-se um dos conjuntos mais celebrados da música brasileira.
O assalto que mudou a vida de Yuka
Na noite de 9 de novembro de 2000, Yuka estava em seu carro, a caminho da casa do cantor Ed Motta, no Rio. Ao sair de seu prédio, no bairro da Tijuca, Yuka notou que uma mulher estava sendo assaltada e tentou impedir ação dos agressores. A mulher saiu ilesa, mas Yuka foi atingido por nove tiros. O caso teve grande repercussão nacional na época. E chamou ainda mais atenção pelo fato de boa parte das letras de Yuka versarem sobre a violência urbana. O artista ficou paraplégico e impossibilitado de tocar bateria. Manteve-se por mais um ano n’O Rappa, mas na sequência deixou a banda. Fundou um outro grupo em 2004, F.UR.T.O., e intensificou o lado ativista, fundando uma ONG. Filiou-se ao PSOL e chegou a concorrer ao lado de Marcelo Freixo à prefeitura do Rio, em 2012. Yuka era vice na chapa que acabou ficando em segundo lugar, com cerca de 30% dos votos. Passou a militar também pelo desenvolvimento de pesquisa com células-tronco e pelos direitos humanos. Em 2017, lançou disco solo chamado “Canções para depois do ódio”, com produção de Apollo 9 e participações de artistas como Céu, Seu Jorge, Cibelle e do congolês Bukassa Kabengele. Com o álbum, manteve a militância política. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, criticou a eleição de Donald Trump, nos EUA, a crise dos refugiados na Europa e a ascensão de Jair Bolsonaro, que à época começava a ganhar popularidade no Brasil.
“É triste ver como os fascistas parecem estar ganhando, então criei um universo pra depois disso. Tudo vale, menos o ódio. Acho que está muito pesado, então fiz um disco contra o fascismo” Marcelo Yuka em entrevista à Folha de S.Paulo em 6 de janeiro de 2017
A carreira e as canções
Com a banda O Rappa, que fundou ao lado de Marcelo Falcão, Xandão, Marcelo Lobato e Nelson Meirelles (e que depois teve formações diferentes), Yuka alcançou sucesso, tendo vendido milhões de cópias de discos. O impacto do grupo se deu principalmente entre o público jovem, em um momento pré-internet, em que a MTV, rede de televisão voltada para difusão musical, tinha grande influência na indústria fonográfica.
Discos com a banda
“O Rappa” (1994)
“Rappa Mundi” (1996)
“Lado B Lado A” (1999)
“Instinto Coletivo” (Ao Vivo) (2001)
Abaixo, relembre cinco músicas que dão uma mostra do trabalho de Yuka como compositor e baterista junto ao grupo que lhe rendeu projeção nacional. As letras trazem a veia crítica de Yuka, que faz uma espécie de crônica social de um Rio permeado por violência, tráfico de drogas, desigualdade.
01 - “Todo Camburão tem um Pouco de Navio Negreiro”, do disco “O Rappa”, de 1994
02 - “A feira”, do disco “Rappa Mundi”, de 1996
03 - “O Que Sobrou do Céu”, do disco “Lado A, Lado B”, de 1999
04 - “Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero)”, do disco “Lado A, Lado B”, de 1999
05 - “Me Deixa”, do disco “Lado A, Lado B”, de 1999
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