Lançado no dia 8 de março de 1959, o álbum começou a ganhar vida três anos antes no sítio da família de Tom Jobim, em Poço Fundo, na região serrana do Rio
Por André Bernardo
"Vai minha tristeza / E diz a ela / Que sem ela não pode ser...". Sessenta anos depois, a emoção de ouvir pela primeira vez os versos iniciais de "Chega de saudade" continua praticamente indescritível.
O jornalista Zuza Homem de Mello fala em um momento "impactante" e "enlouquecedor". Aos 86 anos, o autor de "João Gilberto" (Publifolha, 2001) seguia rumo ao parque do Ibirapuera quando "Chega de saudade" tocou no rádio da perua Dodge: "Na mesma hora, encostei e fiquei ouvindo aquilo, extasiado. 'Chega de saudade' era uma novidade em todos os sentidos".
Autor de "Chega de saudade" (Companhia das Letras, 1990), Ruy Castro lança mão de uma referência bíblica para ilustrar a sensação dos que ouviram "Chega de saudade" pela primeira vez: "Charlton Heston descendo do Sinai com os 'Dez Mandamentos' debaixo do braço".
Quem também não se esquece da primeira vez em que ouviu o samba-canção composto por Tom Jobim em parceria com Vinicius de Moraes é o jornalista, escritor e letrista Nelson Motta. Foi nas férias de 1958, em São Paulo, num radinho de pilha. Nelson tinha, à época, 14 anos.
"Foi como um raio. Aquilo era diferente de tudo que eu já tinha ouvido", relata no livro "Noites tropicais" (Objetiva, 2000). "Fiquei chocado, sem saber se tinha adorado ou detestado. Mas, quanto mais ouvia, mais gostava". Hoje, aos 74, solta uma risada ao se intitular um "gilbertômano terminal". "'Chega de saudade' é um dos discos mais influentes de nossa história", afirma. "Não houve propriamente uma ruptura. O samba-canção já produzira muitas canções que antecipavam a bossa-nova. Só faltava a batida revolucionária do João".
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