domingo, 2 de junho de 2019

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Por Luiz Américo Lisboa Junior


Luiz Gonzaga canta seus sucessos com Zé Dantas (1959) 




Ao fazermos uma análise de alguns períodos históricos da vida brasileira verificaremos que a década de trinta foi um marco divisor, não só por causa da Revolução liderada por Getúlio Vargas que lhe entronizou no poder como também pelas conseqüências políticas e sociais dessa ruptura que findou a República Velha. O Brasil partia então para um desenvolvimento que fincaria as bases de um processo de crescimento que teria seu ponto culminante com as 30 metas mais a construção de Brasília efetuadas por Juscelino Kubistschek nos anos cinqüenta. 

Os anos trinta também seria o momento em que no campo do entretenimento e das comunicações o país daria um grande salto, pois foi a época da arrancada da industria do radio e como conseqüência a formação de uma mão de obra que daria suporte a introdução da TV em 1950. No campo especifico da música popular viveríamos uma época de fartura de grandes compositores e intérpretes, como Orlando Silva, Noel Rosa, Lamartine Babo, Ary Barroso, Carmen Miranda, Mário Reis, Carlos Galhardo, Assis Valente e muitos outros. A pavimentação para a consolidação desse gigantesco trabalho artístico já estava pronta e o país iria adentrar a década seguinte, os anos quarenta, com uma perspectiva alentadora dando oportunidade e promovendo o surgimento de novos talentos.

Com o ambiente musical já estabelecido e uma rede de rádios dando o suporte necessário para a divulgação e manutenção desses artistas, principalmente através da Radio Nacional que àquela época atingia praticamente todo o país, ir ao Rio de Janeiro para conquistar um lugar nesse disputado mercado era a alternativa para todo artista que queria se dar bem na carreira. Foi vislumbrando essa possibilidade e as oportunidades que poderiam surgir que o compositor e sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga resolveu arriscar e com todo seu talento não demorou muito para ser reconhecido e aclamado como um dos maias festejados artistas brasileiros a partir da segunda metade dos anos quarenta e da década seguinte. 

Fazendo enorme sucesso no radio e vendendo muitos discos Luiz Gonzaga soube se acercar de grandes parceiros para colocarem poesia em suas canções, inicialmente com Humberto Teixeira e depois com Jose de Souza Dantas ou como é repertório que consolidava-se e consagrava-se a cada novo lançamento. Foi justamente mais conhecido, Zé Dantas. Com este último continuou fazendo clássicos e compôs um no intuito de reunir esse material disperso em discos 78 rotações que a RCA Victor, gravadora oficial do Rei do Baião, tomou a iniciativa de produzir e gravar um LP em 1959 com os maiores sucessos da dupla de compositores, surgindo assim o disco Luiz Gonzaga canta seus sucessos com Zé Dantas, com os dois na capa e um texto auto explicativo das canções escrito por Zé Dantas na contra-capa. 

São doze canções que se incluem como clássicos da música popular brasileira retratando de modo fidedigno o homem, o folclore e os costumes do Nordeste. No baião Sabiá, que abre o disco, uma homenagem a uma das aves de mais belo canto de nossa fauna; o Xote das meninas uma das mais populares canções do LP retrata a transformação da menina em mulher usando como símbolo de referencia a flor do mandacaru que quando amadurece na seca é sinal de chuva e colheita farta no sertão; A volta da asa branca é uma toada que da continuidade ao tema do famoso baião, Asa branca, composto por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira; A dança da moda, retrata com muita propriedade o sucesso do baião no Rio de Janeiro e conseqüentemente em todo o país; Riacho do Navio, homenageia um dos mais importantes afluentes do rio São Francisco, na zona do Pajeú em Pernambuco, onde em suas margens floresce uma flora e uma fauna muito rica e exuberante; Vozes da seca, é um preito de clamor as autoridades para que se sensibilizem com o drama dos flagelados nordestinos, é um dos maiores clássicos da MPB; Paulo Afonso, é uma homenagem aos homens que ajudaram a construção da usina hidrelétrica promovendo o progresso e o desenvolvimento do Nordeste, Algodão, foi composta a pedido do então Ministro da Agricultura João Cleofas, para estimular o plantio do chamado "Ouro branco" no sertão. 

Retratando ainda situações e costumes sertanejos temos sucessos como, Cintura fina, Forró de Mane Vito, A letra i e Vem morena, fechando um repertório de um disco que so traz músicas que ficaram imortalizadas como verdadeiros sinônimos da saga cancioneira nordestina, e o melhor de tudo isso, magistralmente interpretadas por Luiz Gonzaga, uma unanimidade nacional. São trabalhos como esse que nos conduzem a certeza cada vez maior que a grandeza de nosso país esta fincada na sua pluralidade cultural e no talento inequívoco de seus criadores/realizadores. 
Músicas: 
01) Sabiá 
02) O xote das meninas 
03) Vem morena 
04) A volta da asa branca 
05) A letra i
06) Forró de Mane Vito
07) A dança da moda
08) Riacho do navio 
09) Vozes da seca 
10) Cintura fina 
11) Algodão 
12) Paulo Afonso 

Todas as músicas são de autoria de Luiz Gonzaga e Zé Dantas

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