Por Laura Macedo
Por causa de problemas que tivera com o pai, Elifas Andreato estava decidido a não ter filhos. Mas, ao ser convidado para criar a capa do disco que a dupla Toquinho & Vinicius lançaria em 1975, emocionou-se com a música “O filho que eu quero ter” e conversou com Vinicius de Moraes sobre o assunto.
“A vida não será completa, e você não será capaz de perdoar seu pai se não tiver filhos”, disse o poeta a ele, que teve um menino e uma menina e passou a se sentir, desde então, em dívida com Vinicius.
A dívida foi paga com “O Haver - Pinturas e músicas para Vinicius”, exposição que foi aberta em 2012 na Galeria BNDES, no edifício do banco, no Centro do Rio de Janeiro. Também há um livro, no qual vem encartado o DVD que documenta a produção do material.
- Já quis realizar esse trabalho em 1990, nos dez anos da morte do Vinicius, e em 2010, mas não consegui por falta de tempo e de dinheiro. Agora, aos 65 anos, percebi a minha finitude e vi que corria o risco de ficar com essa dívida. Ia chegar lá em cima, ou onde Vinicius estiver, e ser cobrado - conta Elifas, artista plástico célebre por capas de discos feitas para Chico Buarque, Paulinho da Viola e outros cantores.
O projeto tem alguns aspectos: o primeiro são as 14 pinturas feitas por Elifas para as 14 estrofes do poema “O haver”, de Vinicius. “Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura/ Essa intimidade perfeita com o silêncio/ Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo/ - Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...” são os primeiros versos.
O rosto de Vinicius aparece em todas as telas, assim como está nas aquarelas que Elifas fez ao lado de artistas convidados: Toquinho, Martinho da Vila, Zeca Baleiro, Teresa Cristina, Marcelo Camelo, Carlinhos Vergueiro, Badi Assad, Renato Teixeira, Celso Viáfora, Antonio Nóbrega, Rildo Hora, Gabriel O Pensador, Edvaldo Santana, Paulinho da Viola e Chico César.
Por problemas técnicos, imagens dos dois últimos ficaram fora do DVD, em que os artistas apresentam temas musicais escolhidos para o projeto. Alguns já existiam, como os de Toquinho (uma parceria não gravada) e Renato Teixeira (uma canção feita em homenagem ao poeta). Outras são originais, caso da instrumental tocada por Camelo.
Chico Buarque preferiu participar de outra forma: lendo todo o poema. E cedeu a sua “O tempo e o artista” para Teresa Cristina cantar.
— A canção encerra o DVD, porque tudo o que foi dito antes está nela — acredita Elifas, que não teve grandes dificuldades de atrair nomes da música para o projeto. — Todos, de certa forma, também têm uma dívida com Vinicius, pois ele criou uma nova maneira de fazer letras no Brasil.
Trechos do DVD serão exibidos num painel da exposição, que irá a outros lugares.
- Paguei minha dívida, e o resultado ficou melhor do que eu imaginava — diz Elifas.
Fonte: Jornal O Globo
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