Fim do Sem Censura afunila mais a difusão do setor cultural na mídia, mas não surpreende
De uma coisa os eleitores de Jair Bolsonaro não podem se queixar: o capitão reformado cumpre o que prometeu em campanha. Ao menos no que diz respeito à cultura. A gestão do presidente eleito, após extinguir o Ministério da Cultura e ameaçar reformar a Lei 8.313/91, popularmente (des)conhecida como Lei Rouanet, deu fim ao programa mais antigo da TV Brasil, não por acaso, um dos que mais promovia o mercado cultural.
O Sem Censura, no ar desde 1985 – quando estreou na TVE Brasil –, era um dos principais meios de divulgação do setor cultural, principalmente em praças como o Rio de Janeiro. Ainda que estivesse no ar em uma emissora pública, com audiência abaixo do considerado “competitivo” na TV, o programa era um celeiro de discussão e divulgação que dava prestígio a seus participantes.
Com seu fim decretado, se afunila ainda mais o espaço que a cultura tem para se divulgar frente a mídia nacional ou não. Os espaços têm se dedicado, com mercadológica justiça, apenas a materiais que já sejam amplamente aprovados pelo público. Mesmo no fecundo setor do sertanejo universitário, nomes de menor expressão também sofrem com a falta de divulgação (para acabar com a falácia de que apenas um gênero é posto de escanteio).
Pelo estúdio do programa já passaram nomes como Maria Bethânia, Nana Caymmi, Gilberto Gil, Sérgio Britto (o ator e o Titã), Tônia Carrero, Walmor Chagas, Pedro Cardoso, Wagner Moura, Alice Caymmi, Zizi Possi, Edu Lobo, Bibi Ferreira, Lília Cabral, entre uma série de outros nomes de peso, como filósofos, escritores, diretores, produtores, enfim, a chamada “intelectualidade”.
Não surpreende, portanto, que o fim de um programa apto a discussões, entrevistas e divulgação de cultura se dê sob a mesma gestão que abriga o ministro da educação que declara, ipsis litteris, que “as universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual”. Tempos difíceis…
0 comentários:
Postar um comentário