quarta-feira, 27 de março de 2019

'Ainda quero viver mais, sou gulosa!', celebra Angela Ro Ro em seus 40 anos de carreira

Por Jonas Feliciano 



Nos palcos do Brasil, uma das vozes mais marcantes da MPB vem comemorando seus 40 anos de carreira. Angela Ro Ro, a menina moça do colégio de freiras e a mulher fêmea hippie do Arpoador, pretende cantar e escandalizar com a sua presença e voz inigualáveis.

"Angela Ro Ro-40 anos de Amor à Música" é um passeio por gravações que fazem da artista uma compositora contundente, instrumentista espontânea e dona de um canto raro e emocionante.

Ao portal Eu,Rio!, a cantora contou um pouco do seu momento atual, das suas histórias inspiradoras e do que está preparando para o seu público. Confira!


São 40 anos de carreira, sucesso e grandes composições. O que mudou desde o início. Quem é a Angela Ro Ro em 2019? 

Hoje, eu sou uma mulher extremamente feliz, pois eu habito em mim. Até mesmo nos piores momentos da minha vida, naqueles mais tristes e decepcionantes, eu estou sempre feliz. Quando digo isso, me refiro a qualquer coisa. Incluindo a minha obra que acredito carregar uma boa pitada de humor e alegria, mesmo quando sou poeta e trato das dores do amor. Eu adoro ter vivido esse tempo todo e ainda quero viver mais, sou gulosa!


Foi difícil chegar até aqui?

Eu ia nascer em um lugar muito pobre. Vivíamos eu, papai, mamãe e uma tia agregada. Na época, Vila Isabel era bastante pobrezinha. Mas, houve um milagre. Ele aconteceu quando a minha mãe foi ao jóquei com os meus padrinhos, levou todo o dinheiro do meu pai e apostou em uma dupla de cavalos azarões. Os números eram 40 e 42, os cavalos de São Jorge. 

O que aconteceu?

Os dois venceram a corrida e mamãe ganhou uma pequena fortuna. Foi assim, que saímos de um pequeno quarto, sem pia e privada, para viver em um apartamento com dois quartos e sala de frente para a Vieira Souto, em Ipanema. Aliás, naquele tempo, o bairro nem era tão chique. Porém, hoje, eu sou muito feliz em ter sido premiada como uma das primeiras gerações da família que não precisou passar fome. 

Hoje em dia, você está confortável com a sua trajetória e contribuição para a MPB ou ainda sente a necessidade de se reinventar?

Não, me reinventar como cantora não. Eu tento cuidar da minha voz, tento manter a minha interpretação bacana, até a hora que a natureza me deixar. Agora, sou incessantemente inquieta em relação à minha obra. Estou o tempo todo escrevendo. No último mês, acabei de compor três músicas, dois sambas e uma canção. O próximo disco que está em edição, por exemplo, eu fiz sozinha. Então, eu não paro de inventar. Estou muito satisfeita, não somente com o que eu fiz musicalmente, mas também com as barreiras que rompi, as portas que arrombei. Os hipócritas sempre gostam de mencionar os defeitos alheios. A hipocrisia transforma portas fechadas em falsas portas abertas. Eu me sinto muito feliz com as coisas polêmicas e escandalosas que eu causei, causo e que também fui vítima. Eu não me acovardo, não me intimido, dou meu peito a qualquer lança e me sinto um pouco Zumbi dos Palmares.


E o nosso Brasil: inspirador ou desolador? 

Inspirador sempre, pois o meu Brasil amado ninguém vai esculhambar. Estão fazendo uma miséria há muito tempo. Inclusive, desde que descobriram esta terra. Tudo sempre de uma forma truculenta e selvagem. Hoje em dia, vemos o mesmo estilo cruel, covarde e assassino do passado. Contudo, o Brasil e o povo brasileiro não são essa vergonha. Somos pessoas maravilhosas, a nossa terra é maravilhosa!

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