FERNANDA E PAULO
Paulo esquivou-se. Fez que ia, não foi e terminou por mudar de calçada. O que temia? Aquele reencontro já fora seu sonho dourado, mas, àquele dia, não seria apropriado: ele estava triste, sem muita motivação e não queria que ela percebesse que ele envelhecera, que seus cabelos ficaram brancos e que as rugas já haviam lhe visitado. Fernanda, também, já tinha o branco a cobrir-lhe a cabeça e, pernas cansadas, andava lentamente, num compasso de valsa bem diferente do baião que outrora melodiava a trilha sonora de seu andar. Fernanda percebeu Paulo mas fez que não. Olhou pro lado de dentro das casas e pro lado de dentro de si enquanto ele, do outro lado, também virou o olhar pro lado contrário da rua e pro seu lado interior, cansado e desesperançado. Fernanda desapareceu no final da rua. Paulo sumiu do outro lado da mesma rua do mesmo mundo tão parecido e tão diferente. A exemplo de Fernanda, Paulo também andava lentamente, num compasso de valsa bem diferente do baião que outrora melodiava a trilha sonora de seu andar. De seus andares.
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