A cada nova edição, o Festival mostra-se mais imprescindível tanto para a o calendário cultural da cidade quanto por aqueles ávidos por boa música
Por Bruno Negromonte
Na cidade que é um dos símbolos maiores do carnaval em nosso país há quem passe o ano inteiro esperando um outro festejo que vem desde 2004 (com exceção apenas de um ano nesse ínterim) ornamentando a cidade a partir dos mais belos adjetivos culturais existentes. Quando surgiu em 2004, a Mostra Internacional de Música de Olinda chegou não apenas como uma nova proposta de entretenimento, mas como algo para além dos púlpitos onde artistas do Brasil e do mundo apresentavam-se. Arregaçando as mangas e partindo para a concretização desse aparente utopia estava lá Lú Araújo, pessoa intimamente ligada à música desde a infância, onde teve a oportunidade de crescer no contexto musical a partir do contato com grandes ídolos da música popular a partir da loja de discos do seu pai. A identificação foi tão grande com a música que anos depois Lú abriria a sua própria loja de discos, destacando-se mais uma vez pelo modo visionário de enxergar as coisas, pois foi responsável pela primeira loja do Brasil só para independentes, a In-dependente. Tudo isso confluiu e muito para o conceito desse festival que nasceu com apenas 4 concertos e chegou a ter mais de 40 ao longo de sua trajetória. "Vi num carnaval uma pessoa jogando uma garrafa de cerveja na porta da Igreja da Sé. Aquilo me fez pensar que Olinda merecia ser conhecida em outro momento, com outro espírito. A primeira Mimo teve só cinco concertos. Mas o primeiro teve duas mil pessoas na plateia. Não é um festival mofado, não tem o pé no antigo. Fico feliz de ver na plateia crianças, tatuados, rastafáris.", comenta Lú que já pensa nas edições do ano que vem sempre buscando manter uma característica inerente ao festival desde a sua primeira edição: a fusão do erudito com o popular.
2017 começou com o festival aportando em janeiro na terceira mais populosa do Reino Unido, Glasgow, a maior cidade da Escócia. Ainda no primeiro semestre do ano permaneceu em terras europeias, dessa vez na cidade de Amaranto, onde ocorreu a primeira edição do festival em terras portuguesas buscando manter os mesmos moldes das edições realizadas no Brasil. Depois de ter edições realizadas em cidades como Recife e João Pessoa, o MIMO mantém em seu calendário no Brasil as cidades mineiras de Tiradentes e Ouro Preto, no Rio de Janeiro, além da capital, a cidade litorânea de Paraty e, em sua última parada, a cidade que deu origem ao evento. Na edição portuguesa nomes como Hamilton de Holanda, Richard Bona, Anne Paceo e Herbie Hancock; no Brasil artistas de relevância nacional e internacional fizeram parte da grade de programação do evento este ano a exemplo de Didier Lockwood, Baby do Brasil, 3ma, Laura Perrudin entre outros atrativos que sacramentam o Festival MIMO como algo imprescindível para o calendário cultural nacional. Plural, o MIMO faz-se valer de tal adjetivo a partir dos mais variados prismas, seja na abrangência de sua programação, seja na diversidade do seu público assim como também nos objetivos buscados desde a primeira edição do evento. Em tempos polaridades aguçadas nos mais variados sentidos, só a música para apresentar uma proposta agregadora, fazendo-nos acreditar que a língua da música apazigua e nos traz o alento necessário para encararmos dias e situações hostis. Só provas concretas como estas nos conduz à certeza de que "Sem música a vida seria um erro" como bem observou o filósofo e crítico cultural Friedrich Nietzche. Valeu MIMO! Valeu Lú Araújo por arregaçar as mangas e sair do campo do devaneio, do abstrato para levar ao mundo não apenas um sonho a ser realizado, mas evento que gera receita e renda para dezenas de pessoas envolvidas.
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