domingo, 2 de abril de 2017

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB

Resultado de imagem para JÚLIA MARTINS cantora

Eu sempre busco trazer para esta coluna alguns nomes relegados ao limbo do esquecimento dentro da música popular brasileira. Há um tempo atrás eu abordei o nome da Abigail Maia, hoje gostaria de apresentar aos amigos que acompanham esta coluna o nome da carioca Júlia Martins, uma das cantoras pioneiras nas gravações de discos no Brasil. Assim como Abigail, Júlia também foi atriz do teatro de revista existente naquela época e foi a partir dele que deu início a carreira de cantora. Em 1909 é contratada pela Victor Record e nesta gravadora, uma das primeiras multinacionais a atuar no Brasil, estreia em discos cantando em dueto com o intérprete João Barros. Os dois, só no ano de 1090, registram as canções "Brasileiro pancrácio", "Os paraguas", "A aliança" (de autoria de Eustórgio Wanderley), "Pst, pst", "Ali...a preta" (composta por Luis Filgueiras), "A despedida" e por fim "A Capital Federal", composta por Nicolino Milano. Desvinculada da Victor Record, em 1910, grava por um selo de menor expressão a sua primeira canção como solista, trata-se da música "O Chico", só vindo a atuar em uma grande gravadora quando três anos depois é contratada pela Odeon. Em janeiro de 1913 gravou em dueto com Eduardo das Neves "A cocote e o marchante", do próprio Eduardo das Neves. Em seguida, gravou a canção "Minha Caraboo", composição do norte americano Sam Marshal e que fez enorme sucesso na versão de M. Albuquerque no carnaval do ano anterior. Ainda em 1913 gravou o lundu "A flor da pitangueira", música que cantava na revista "República do amor", um destaque de seu repertório teatral e, em dueto com o cantor Bahiano, as canções "A vassourinha" (Felipe Duarte e Luiz Filgueira), e "O engraxate" (B. Esfolado), "O retrato e a flor", e "A cigana e o feiticeiro", de autores desconhecidos, e de autoria do próprio Bahiano as faixas "Cidade Nova e Saco do Alferes", "Ai que gostos", e "O vagabundo e a mulata". 

Uma curiosidade acerca da discografia da atriz e cantora se a partir da gravação da canção"A viola está magoada", que contou com acompanhamento do Grupo da Casa Edison e que traz em seu selo pela primeira vez a denominação de "samba", ou seja, quatro anos antes da gravação de "Pelo telefone", que ficou consagrada como o primeiro samba gravado, talvez pelo sucesso maior. Em sua discografia ainda consta a gravação da cançoneta "A mulatinha", de Chiquinha Gonzaga e Patrocínio Filho, e com Eduardo das Neves, o batuque sertanejo "Cabocla de Caxangá", de Catulo da Paixão Cearense, que caracterizou pela primeira vez uma composição designada como de cunho regional, reiterando o seu pioneirismo dentro da música popular brasileira. Ainda em 1913, atuou na revista "Chegou o Neves", juntamente com Ciniro Polônio, Brandão Velho, e Mercedes Vila. Foi nessa revista, que Pixinguinha, então com apenas 16 anos estreou nos palcos. Seu último registro fonográfico que se tem notícia ocorreu por volta de 1914, quando gravou em dueto com o tenor Tomaz de Souza a canção "A vassourinha", de Felipe Duarte e Luiz Filgueira. Nas décadas seguintes não se tem notícias registradas (ao menos na internet) a respeito da atriz e cantora. Talvez seja esta, uma das razões pela qual não se conhece e nem se fala de Júlia Martins no cenário musical contemporâneo. Se artistas de extrema relevância no cenário musical de outrora não são lembradas, seria muita pretensão daqueles que acompanham a história da MPB acreditar que uma cantora que fez os seus registros a mais de um século, queira ser lembrada.

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