quarta-feira, 19 de abril de 2017

PEDRO SERTANEJO, 90 ANOS

Por Abílio Neto



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Resolvi fazer uma homenagem a um artista que foi um dos pioneiros do forró. E começo fazendo uma pergunta: alguém aí sabe quem foi Pedro de Almeida e Silva? Eu ajudo: ele nasceu em 26/04/1927, no município de Euclides da Cunha/BA, localidade que abrange a região onde se deu a matança de Canudos feita pelo Exército Brasileiro, dizimando os seguidores de Antonio Conselheiro. Em nome de que? Do preconceito contra os incultos que se organizaram sob a autoridade de um beato. Não eram jagunços e muito menos cangaceiros, ao contrário, seguiam os ensinamentos cristãos. O massacre final aconteceu em 05/10/1897. Mas quanto à pergunta, nada ainda? Vou ajudar. Seu pai foi um grande tocador de sanfona de oito baixos, o mestre Aureliano. Identificou agora? Ele deixou um filho chamado Oswaldo de Almeida e Silva que, segundo Zé Gonzaga, é o maior sanfoneiro do Brasil. Não matou a charada? Vou dar meu último auxílio: esse rapaz, Oswaldo Silva, é conhecido artisticamente como Oswaldinho do Acordeon. E seu pai, o nome já lhe veio na mente? Não, pois então fique sabendo que Pedro de Almeida e Silva era o Pedro Sertanejo, infelizmente, falecido em 1996 aos sessenta e nove anos.

A cidade de Euclides da Cunha tem ligação direta com o episódio de Canudos. Alguns pontos turísticos fazem referência à guerra, como a casa onde se hospedou o major Moreira César, na praça da Bandeira; o painel de azulejos, na praça Duque de Caxias, que retrata a guerra de Canudos; e o acervo do escritor e poeta José Aras, que ocupa uma sala do Educandário Oliveira Brito.

Durante a guerra de Canudos, as ditas forças republicanas antes de partirem para o ataque ao arraial de Conselheiro, permaneceram em acampamentos em Euclides da Cunha, que se chamava Cumbe, à semelhança de um quartel-general. Hoje, a cidade leva o nome do famoso jornalista-escritor que imortalizou a saga de Antônio Conselheiro através do clássico “Os Sertões”.

Pedro Sertanejo é uma lenda do forró! Menino pobre, chegou da Bahia a São Paulo para vencer na vida e se tornar um ídolo. Foi grande tocador de fole de botão, ótimo compositor, afinador de sanfonas, produtor de discos e radialista, pois tinha um programa de rádio assim como Ivan Ferraz, Ivan Bulhões, J. Luna, Elias Lourenço e outros no Nordeste. Além disso, foi dono da gravadora Cantagalo e de uma casa de forró: Forró de Pedro Sertanejo.

O forró em São Paulo só cresceu graças a ele porque teve a coragem de em 1966 fundar o forró que levava seu nome, ali no Brás, na rua Catumbi, 183. Todos os grandes nomes do gênero tocaram lá. Era uma casa feita pros nordestinos. Aquelas branquinhas paulistas de bochechinhas rosadas não visitavam sua casa de shows porque, naquela época, forró era sinônimo de paraíba, de peixeira, de briga, coisa de gente sem instrução, sem nível, que ia do Nordeste pra São Paulo a fim de fugir da seca e não morrer de fome e sede. O forró sofreu forte preconceito. Ainda hoje sofre!

Pedro foi um visionário. A sua gravadora Cantagalo foi fundada para que ele desse impulso à sua carreira, mas também para auxiliar muita gente de talento do Nordeste que não tinha voz nem vez nas grandes gravadoras. Dominguinhos começou a gravar lá. Camarão, Zé Gonzaga, Geraldo Correia, Ary Lobo e Anastácia também fizeram discos com Pedro. Até Jackson do Pandeiro! Só Luiz Gonzaga e Marinês não gravaram na Cantagalo.

Da visão de Pedro foi que veio o impulso para que o filho Oswaldinho estudasse música clássica por treze anos e tivesse mestres como Paulo Feolla e Dante D’Alonzo. O reconhecido talento do filho lhe rendeu uma bolsa de estudos no exigente Conservatório Dante de Milão. Hoje, os grandes nomes do acordeom espalhados pelo mundo afora lhe rendem homenagens. Oswaldinho é a maior obra de Pedro Sertanejo!

Se Pedro Sertanejo não tivesse composto as mais de quinhentas músicas que fez, só duas bastariam para inscrever seu nome na galeria dos grandes compositores de forró. Os forrós “Rato Molhado” e “Roseira do Norte” são verdadeiras antologias do gênero. O primeiro fez sozinho e o segundo em companhia de Zé Gonzaga.

Hoje, pouca gente fala no pai de Oswaldinho. Está condenado ao esquecimento como muitos outros. Mas alguns insistentes como eu não deixam cair a peteca e com a bênção do Portal RN em Rede, seu nome vai à praça de novo. Aquecidas as lembranças, só falta escutar a sua mais famosa composição, “Rato Molhado”, música essa que mereceu uma resposta de um cabra de Serra Talhada, também grande sanfoneiro de oito baixos, em composição de Luiz Moreno. Esse outro aí é que está esquecido mesmo, mas é tema para outra postagem.

Então, com vocês, o mestre Pedro Sertanejo com o seu “Rato Molhado”. É forró para ouvinte nenhum botar defeito. E quem não gosta de um bom “pé-de-serra” é corno porque toda mulher dança, pula, roda, mexe e ainda faz requebradinho, conforme o que disse o Mestre João Silva. Não é, seu besta admirador do forró de plástico?

Quando o genial Sivuca já estava ficando fraquinho do câncer que o acometia, aquela extraordinária figura humana que era Dominguinhos, o convenceu a gravar um disco que reuniria, a meu ver, a santíssima trindade da sanfona neste país: ele, Sivuca e Oswaldinho. Disse Dominguinhos que seria mais um tributo a Luiz Gonzaga. Não era. O homenageado seria mesmo o imortal paraibano de Itabaiana que não poderia saber dessa homenagem. Depois que ele se foi é que muita gente atentou para o fato.

O grande Zé Milton produziu o CD que foi lançado pela Biscoito Fino. É o mais arretado disco de forró instrumental lançado no Brasil. O nome do disco é “Cada Um Belisca Um Pouco”. O repertório deste CD é tudo o que há de bom no forró. E os três sanfoneiros tocam ao mesmo tempo partes de uma mesma música. Modestamente, sou capaz até de identificar o som da sanfona de cada um. A gente sem querer vai memorizando o estilo e a maneira peculiar de cada um usar o teclado e os baixos do instrumento. Do citado disco, selecionei uma faixa para tocar a título de divulgação dessa joia porque não sou de fazer pirataria.

Vamos falar nos músicos que participaram dessa gravação, além dos três mosqueteiros: João Lyra, viola; Toni, violão de sete cordas; Alceu Maia, cavaco; Durval, percussão; e Mingo Araújo, percussão. A música, aqui em ritmo de baião, é a obra prima de Pedro Sertanejo e Zé Gonzaga: “Roseira do Norte”. Zé Gonzaga que teve injustamente o nome omitido no encarte do CD como parceiro que foi do pai de Oswaldinho. Ouçam esta beleza!



Que Deus abençoe quem gosta do legítimo forró de raiz e despeje as sete pragas do Egito sobre os cornos que gostam do forró dos fuleiros que, infelizmente, tomou conta de Pindorama, porém é um tipo de música adaptada do vanerão gaúcho e feita para gente inculta e burra. Não queira fazer parte desse time ou esqueça essa gente artisticamente desprezível!

1 comentários:

Cordelizando... Poetizando... disse...

Parabéns pela iniciativa! estamos juntos nessa! Precisamos manter vivas a cultura e a tradição sertaneja.

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