quarta-feira, 29 de junho de 2016

VÔTE... ESCUTA SÓ: JOÃO FURIBA

Por Paulo Carvalho


Foto: Paulo Carvalho 


Poeta popular, violeiro repentista, João Batista Bernardo, o João Furiba nasceu em 04/07/1931, em Taquaritinga do Norte–PE. 

É considerado um dos grandes repentistas nordestinos, tendo iniciado a carreira ainda na adolescência. Já arrebatou inúmeros troféus, em competições entre violeiros, tendo ficado em primeiro lugar em diversas ocasiões. O apelido “Furiba” segundo ele, quer dizer coisa sem importância, e foi dado por Pinto do Monteiro inspirado na figura magra e de baixa estatura de João. Foi um dos maiores e mais constantes parceiros de Pinto do Monteiro, enquanto este era vivo, e tornaram -se também grandes amigos apesar das farpas trocadas durante os desafios. O primeiro encontro dos dois grandes poetas é descrito da seguinte maneira: 

“Lino Pedra Azul (também cantador de renome) teria agendado uma cantoria com Pinto, em Belo Jardim, mas em função de outros compromissos surgidos, pediu ao então rapazote João Batista que o substituísse. Ansioso e receoso, João que só veio a ser conhecido como Furiba anos depois, aceitou. Chegou no local e perguntou: 

JF – É o senhor que é seu Pinto? 

PM – Sou. 

JF – É que Lino me pediu pra vir lhe substituir na Cantoria… 

PM – Não sei se vai ter cantoria, não… (disse Pinto sem acreditar que estava diante de alguém que pudesse enfrentá-lo) 


Os promotores da cantoria chegaram perto de Pinto imploraram que o Gênio cantasse com o desconhecido João Batista… 

Iniciaram o baião de viola. Cada um esperando que o outro iniciasse a sextilha. 

Começaram… Lá pras tantas, Pinto termina a sextilha dizendo: 

“Não sei que tem vaca magra 
come muito e não engorda” 

Era uma referencia ao aspecto franzino e raquítico do Furiba, que respondeu: 

“É porque feijão de corda 
já ta passando de cem, 
o milho tá muito caro 
farinha cara também, 
se Jesus não pisar no frei. 
Não vai escapar ninguém” 

Ao terminar a sextilha, Pinto disse: 

– Depois “nós conversa”, viu?. 

A partir daquele momento, iniciaram uma das duplas mais fecundas da poética voleira… 

João Furiba também fez dupla com outros cantadores sempre demonstrando sua agilidade e competência na feitura dos improvisos. Cantando com João Cardoso este fez com os seguintes versos: 

Furiba fui informado 
Que você lá em Tabira 
Pega frete, dá recado 
Varre a rua mas se vira 
Agora eu quero saber 
Se isso é verdade ou mentira? 

Furiba respondeu: 

Colega eu fiz em Tabira 
O meu recenseamento 
Seis mil e quinhentas casas 
Um colégio e um convento 
Comprei agora o BANDEPE 
A CISAGRO e o FOMENTO. 

O conhecido cantador Ivanildo Vila Nova, cujo pai também era repentista, cantando com João Furiba terminou uma estrofe, dizendo: 

Não conheço cantador 
Pra ser igual a mim. 

Furiba respondeu dizendo: 

Seu pai também foi assim 
Se dizia professor 
Falava com tantos “s “ 
Que parecia um doutor 
Cantou quarenta e seis anos 
Morreu sem ser cantador. 

E assim é João Furiba, alegre, irreverente, criativo, poeta popular simplesmente. É um daqueles que faz a mais autêntica cultura nordestina. Alberto Oliveira (poeta e cordelista) afirma que João Furiba é um dos maiores poetas da história do repente brasileiro. Zelito Nunes, foi quem me apresentou a este extraordinário artista a quem eu muito admiro e prezo.

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