Por Elisa Eisenlohr
Não é novidade que o consumo de música online teve um papel fundamental na recuperação financeira da indústria fonográfica na última década. Mas o que pouco se fala é na maneira como os serviços de streaming têm afetado a criação musical em si.
Além do crescimento econômico, outro grande ativo que a música digital nos trouxe são as informações detalhadas sobre como ela é ouvida. Este é o novo ouro da indústria. Hoje é possível saber onde, quando e como sua música é consumida. Quais são os artistas que aquele fã também ouve, de quais ele ou ela não gostam. É possível saber até que tipo de produção musical mais agrada seu público. A informação está toda lá. Só é preciso interpretá-la.
Essas informações acabam influenciando compositores, artistas e produtores na hora de criar. À partir do skip rate, por exemplo, que é a frequência com que o usuário passa para a próxima música nas plataformas de streaming, é possível saber se o início da música agrada ou não e corrigir na próxima faixa lançada. Alguns artistas, na hora de fazer uma nova produção, escolhem ir para o refrão mais rapidamente para captar mais rápido a atenção do ouvinte.
Conversei recentemente com a cantora, compositora e produtora Mahmundi sobre produção musical para uma série de entrevistas em vídeo que a UBC está produzindo e ela me disse que costumava seguir uma linha cool waveeletrônica nas suas produções, mas percebeu que suas músicas mais ouvidas são as acústicas. E saber disso acaba influenciando as escolhas dela para a produção da próxima faixa, porque o que o artista quer, no final, é se comunicar com seu público.
Para esta mesma série de vídeos, quando perguntei se os novos tempos mudaram a forma de produzir música, o produtor Liminha respondeu que, na verdade, o que mudou foi o nível de paciência das pessoas com tudo. Não é um fenômeno restrito à música. E isso obviamente influencia na hora de produzir uma faixa simplesmente porque influencia em tudo.
Mas, se sua música tem um skip rate alto, não se preocupe. Na verdade, ninguém consegue se livrar desse famigerado dedo nervoso dos ouvintes. Pular a música é quase um cacoete. Quase metade dos ouvintes do Spotify, por exemplo (48,6%) passam para a próxima música antes de a anterior acabar. Parece que estamos vivendo a era do déficit de atenção coletivo.
Brincadeiras à parte, é claro que as plataformas de streaming mais populares são moldadas especificamente para o pop e a relação que os ouvintes têm com a música é influenciada pelo aparelho onde a música é ouvida, o momento e, talvez, até o gênero musical. Os metadados são importantes, mas é sempre mais importante ter qualidade. Usar este mar de informação de forma inteligente só ajuda a melhorar o que já é bom em sua essência.
Para quem ficou curioso e quer saber mais sobre as entrevistas com os produtores musicais, vale conferir o canal de YouTube da UBC (clique aqui). Já foram lançados os vídeos com Kassin, Gorky e Dudu Borges, mas ainda tem mais por vir. Inscreva-se no canal!
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