Por Elisa Eisenlohr
Participei na semana passada de um debate na Campus Party sobre o Futuro da música e dos direitos autorais. Esse exercício de futurologia é um desafio interessante e pode dar muito errado, em especial nos dias de hoje em que o amanhã chega tão rápido e a efemeridade das coisas é uma constante. Então, não vou me alongar aqui tentando prever o futuro, mas quero destacar alguns indicadores interessantes que apontam caminhos.
Crescimento do digital.
É um pouco óbvio, mas o óbvio também tem que ser dito. Como estamos focando aqui nos direitos autorais, vale dividir os resultado do último relatório global de arrecadação da Cisac, que é a Confederação de Sociedades de Autores. Eles reúnem dados de todo o mundo sobre os direitos de autores (não estão incluídos aqui os direitos conexos) e os valores referentes ao uso de conteúdo criativo nos meios digitais representa 13,2% do total arrecadado em 2017 (EUR 8,3 milhões). Cinco anos antes (2012), o digital representava 4% do total. Apesar dos números de rádio e tv superarem de longe o digital, a importância deste mercado cresce a passos rápidos e largos para o setor criativo, mas ainda há muitas distorções a serem corrigidas.
Artigo 13.
Por falar em correção de distorções, um dos mais importantes esforços neste sentido é a nova Diretiva Europeia sobre Direitos Autorais no Mercado Comum Europeu.
Sob forte ataque do lobby dos gigantes da internet apelidados de GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon), o artigo 13 desta diretiva tem o objetivo de acabar com o chamado ‘Safe Harbour’ e se resposnabilizar pelo conteúdo postado por terceiros. Se o artigo 13 for aprovado em março na União Europeia, isso vai significar que as legislações dos países membro terão que se adequar. Plataformas como Youtube e Facebook não poderão mais usar as regras de Safe Harbour para reduzir os valores devidos pelos direitos autorais do conteúdo postado.
Rankings digitais.
Como o futuro certamente é digital, vamos falar sobre os rankings automáticos de músicas mais ouvidas. Este fenômeno coloca a música brasileira em uma posição global mais privilegiada do que tínhamos há 10 anos atrás. Como vivemos em um país de proporções continentais, quando um hit vira sucesso no Brasil, ele automaticamente fica no topo global pelo simples fato de termos um número enorme de ouvintes. Mas, os rankings são um indicador frágil se levarmos em conta a facilidade que existe em burlar os resultados reais. Uma simples busca no Google, mostra como é fácil e barata a compra de visualizações nas plataformas digitais. Rankings locais, alimentam ranking globais, que por sua vez, pautam jornalistas e a mídia tradicional, além de serem dados importantes considerados nas fórmulas dos algoritmos de curadoria.
Algoritmos.
A curadoria de conteúdo feita por algoritmos gera alguns fenômenos interessantes. Em uma entrevista feita por Bob Lefsetz, Lyor Cohen, o Head of Music do Youtube afirmou que mais de 70% do conteúdo assistido no Youtube é recomendado por algoritmo. Isso significa que as playlists são o novo rádio e a importância dos algoritmos na nossa vida é imensa, mas quase imperceptível para os desavisados. O problema é que, apesar dos algoritmos facilitarem a vida de quem apenas quer ouvir música do seu gênero favorito, eles nos limitam a uma lógica mercadológica que foi desenhada na fórmula de recomendação. E essa curadoria automática também tem sua susceptibilidade à programação dos robôs que têm objetivo de colocar as músicas no topo. Por exemplo, digamos que um determinado algoritmo acrescente músicas em uma playlist automática baseado na frequência que as pessoas acrescentam aquela música em playlists pessoais. A galera do jabá digital poderia criar robôs que coloquem músicas em playlists pessoais de perfis falsos para enganar os algoritmos. É tecnologia versus tecnologia e a arte acaba ficando em segundo plano.
Existe um universo ainda maior de indicadores, mas vamos ficar por aqui. Com tudo isso em mente, tudo que sei é que nada sei. Sei também que os amantes e os trabalhadores da música têm um papel importante no direcionamento deste futuro, e que os problemas criados pela tecnologia, podem ser resolvidos por ela. E você? Para onde você quer levar a criação?
Fonte da imagem: Divulgação (Campus Party Brasil)
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