Por Laura Macedo
A história de vida do compositor Cartola é bastante conhecida. Muitos já se aventuraram no relato, mas foram Hermínio Bello de Carvalho e Paulinho da Viola, utilizando-se dos seus talentos poéticos/musicais, que contaram uma das versões mais criativas, pelo menos na minha opinião.
“Obrigado, Cartola” (Hermínio Bello de Carvalho/ Paulinho da Viola)
Um dia uma rosa floresceu
E a ele segredou
Coisas que jamais imaginara
Que seu destino Deus havia já traçado
E estava entrelaçado
Em bemóis e sustenidos – que lindo!
E o bloco dos Arengueiros
Formado por companheiros
Numa escola transformou
Cartola! Foi raiz de uma Mangueira
Que em verde-e-rosa fez reflorir
E tantos artistas revelou
Poeta, semente do amor desde nascença
Cumpriu-se de Deus a sentença
Como “Divino” o povo o consagrou!
O mundo roda feito as rodas de um moinho
Vai triturando nossos sonhos de mansinho [bis]
Mas um dia lá do morro ele sumiu
Nunca mais ninguém o viu
E os boatos se espalhavam
Corria que nas trevas da paixão
Desfigurado tudo abandonara
Do pão que tanto o diabo amassou
As sobras ele mastigou
E foi aí que dona Zica apareceu
Seus brios ela então os invocou:
“Anda, levanta a cabeça
Afasta essa maré de azar!
És Cartola de Mangueira
Pra Mangueira vais voltar”
Lavando carros na madrugada
Se consumindo pra sobreviver
Foi assim que Sérgio Porto o encontrou
E o mundo do samba foi uma grande festa
E eis que nasce uma esperança
E sopra um vento de bonança
Surge então o Zicartola
É a volta do Poeta!
O mundo roda feito as rodas de um moinho
Foi triturando seus sonhos de mansinho [bis]
A casa de samba deu-lhe glória passageira
E foi um sonho (mais um que sonhou)
E um segredo que guardara a vida inteira
À sua companheira finalmente revelou: Tivera, sim
Um grande amor antes do seu, teve, sim!
Quebrou-se o encanto e uma flor então brotou:
Silente, bela, inspiradora
Fruto de um tal mistério que ninguém nunca explicou
Se as rosas falassem
Elas por certo contariam
Que uma alvorada logo romperia
E finda a tempestade
O sol nasceria!
Guerreiro pela Mangueira lutou
Pássaro de um amor extraordinário
Poeta que das cinzas ressurgiu
E em seus versos todo povo se abrigou
Depois de plantar uma rosa em nosso jardim
Esse operário do samba se eternizou
E deu-se aos ventos, se despetalou
E glorioso pode enfim adormecer!
O mundo roda feito as rodas de um moinho
E fez de pétalas de rosa o seu ninho
O mundo gira e se rende emocionado
E ao Poeta vem dizer “muito obrigado”!
Fonte: - Timoneiro – Perfil biográfico de Hermínio Bello de Cravalho, de Alexandre Pavan. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra. 2006.
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