segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

PAUTA MUSICAL: OBRIGADO, CARTOLA

Por Laura Macedo




A história de vida do compositor Cartola é bastante conhecida. Muitos já se aventuraram no relato, mas foram Hermínio Bello de Carvalho e Paulinho da Viola, utilizando-se dos seus talentos poéticos/musicais, que contaram uma das versões mais criativas, pelo menos na minha opinião.

“Obrigado, Cartola” (Hermínio Bello de Carvalho/ Paulinho da Viola)

Um dia uma rosa floresceu

E a ele segredou

Coisas que jamais imaginara

Que seu destino Deus havia já traçado

E estava entrelaçado

Em bemóis e sustenidos – que lindo!

E o bloco dos Arengueiros

Formado por companheiros

Numa escola transformou

Cartola! Foi raiz de uma Mangueira

Que em verde-e-rosa fez reflorir

E tantos artistas revelou

Poeta, semente do amor desde nascença

Cumpriu-se de Deus a sentença

Como “Divino” o povo o consagrou!


O mundo roda feito as rodas de um moinho

Vai triturando nossos sonhos de mansinho [bis]


Mas um dia lá do morro ele sumiu

Nunca mais ninguém o viu

E os boatos se espalhavam

Corria que nas trevas da paixão

Desfigurado tudo abandonara

Do pão que tanto o diabo amassou

As sobras ele mastigou

E foi aí que dona Zica apareceu

Seus brios ela então os invocou:

“Anda, levanta a cabeça

Afasta essa maré de azar!

És Cartola de Mangueira

Pra Mangueira vais voltar”

Lavando carros na madrugada

Se consumindo pra sobreviver

Foi assim que Sérgio Porto o encontrou

E o mundo do samba foi uma grande festa

E eis que nasce uma esperança

E sopra um vento de bonança

Surge então o Zicartola

É a volta do Poeta!


O mundo roda feito as rodas de um moinho

Foi triturando seus sonhos de mansinho [bis]


A casa de samba deu-lhe glória passageira

E foi um sonho (mais um que sonhou)

E um segredo que guardara a vida inteira

À sua companheira finalmente revelou: Tivera, sim

Um grande amor antes do seu, teve, sim!

Quebrou-se o encanto e uma flor então brotou:

Silente, bela, inspiradora

Fruto de um tal mistério que ninguém nunca explicou

Se as rosas falassem

Elas por certo contariam

Que uma alvorada logo romperia

E finda a tempestade

O sol nasceria!

Guerreiro pela Mangueira lutou

Pássaro de um amor extraordinário

Poeta que das cinzas ressurgiu

E em seus versos todo povo se abrigou

Depois de plantar uma rosa em nosso jardim

Esse operário do samba se eternizou

E deu-se aos ventos, se despetalou

E glorioso pode enfim adormecer!


O mundo roda feito as rodas de um moinho

E fez de pétalas de rosa o seu ninho

O mundo gira e se rende emocionado

E ao Poeta vem dizer “muito obrigado”!




Fonte: - Timoneiro – Perfil biográfico de Hermínio Bello de Cravalho, de Alexandre Pavan. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra. 2006.

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