quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

CARNAVAL DO RECIFE: CRIADO POR AMIGOS APAIXONADOS PELO CARNAVAL DE RUA, GALO DA MADRUGADA COMPLETA 41 ANOS DE FUNDAÇÃO

Rômulo Meneses, presidente e um dos fundadores do Galo, conta como o clube de máscaras nasceu e se tornou o maior bloco de carnaval do mundo.


Por Luana Nova


Galo da Madrugada arrasta multidão no Sábado de Zé Pereira — Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press


O Clube de Máscaras Galo da Madrugada completa, nesta quarta-feira (23), 41 anos de fundação. A história deste que é considerado o maior bloco do mundo começou com um grupo de amigos apaixonados pelo carnaval de rua, que residiam no Bairro de São José, no Centro do Recife, onde reina com seus carros alegóricos no Sábado de Zé Pereira.

Quem conta um pouco dessa história é Rômulo Meneses, de 69 anos, um dos fundadores do Clube e atual presidente. “O Galo foi idealizado em novembro de 1977, numa reunião de amigos. Lembro que estávamos eu, Cláudio [Guerra], Mauro [Freire], Neném [Antônio Carlos Freire] e Neinha [Enéas Freire, fundador oficial do Galo] conversando e relembrando os antigos carnavais", afirma.

Eles chegaram à conclusão de que a tradição das saídas das orquestra de frevo, bem como a dos foliões mascarados, estava se perdendo. "Lembro que, na época, as escolas de samba, como a Saberé, a Donzelos e a Traquinas de São José, estavam ganhando destaque", diz Rômulo.

O grupo resolveu que sairia no Sábado de Zé Pereira, pois já havia blocos desfilando nos outros dias da festa na região.

“A priori, a ideia era sair pela Avenida Guararapes e pela Rua Nova, no bairro de Santo Antônio, e animar o comércio. Até que surgiu a ideia de sair antes de o comércio abrir, com o dia raiando, fazendo o anúncio da abertura do carnaval”, conta Rômulo, explicando que o nome Galo vem dessa intenção de despertar o povo.

No primeiro ano, em fevereiro de 1978, o bloco saiu com a Orquestra do Maestro Laércio e cerca de 70 pessoas acompanhando, segundo o presidente do Galo. Uma foto do desfile dessa época mostra diversos foliões vestidos de “alma”, fantasia típica dos blocos que saíam nas ruas só de brincadeira, bem como de papangus e palhaços mascarados.

“O pessoal entrava nas casas das famílias e só na saída tiravam as máscaras e se revelavam”, diz Rômulo.

Sobre o crescimento do bloco, Rômulo lembra que, no terceiro ano, não dava mais para desfilar com uma só orquestra, pois os foliões mais distantes não conseguiriam ouvir a música.

“Já havia cerca de 400 componentes. Neinha conhecia muito bem o folclore, mas era um pouco preso às tradições, dizia que nunca tinha visto um bloco sair com duas orquestras. Na verdade, não tinha bloco nessa época com essa quantidade de gente”, afirma.

Para o presidente, o Galo jamais teria chegado onde chegou se não tivesse adequado sua estrutura à quantidade de foliões. “Tinha pouco ambulante na época, então começamos a pagar toda a estrutura de orquestra, segurança e apoio vendendo bebidas no desfile”, diz.

A princípio, também inscreviam as fantasias para controle e análise, até que chegaram ao número de dez mil inscritos e perceberam que não dava para continuar com esse ritmo.

As alegorias do Galo começaram a fazer parte do desfile em 1985. “Inicialmente eram dois carros alegóricos, hoje são seis. De lá para cá, temos mantido as alegorias de acordo com o tema escolhido para o ano”, conta Rômulo. Um ano antes, o Galo contava com o primeiro trio elétrico, pois três orquestras não eram mais suficientes, ainda que tocassem em cima de caminhões.

“O trio era sinônimo do carnaval baiano, mas não teve jeito. Não era bem um trio, mas um ônibus com a capota cortada e uma plataforma incrementada, que embaixo contava com um gerador. Não tem nada a ver com os trios de hoje, cabiam no máximo, uns 20 músicos, bem apertados”, diz Rômulo, lembrando que subiram ao primeiro trio o cantor Claudionor Germano e a Orquestra do Maestro Guedes Peixoto.

Em 1995, o título de maior bloco do mundo foi concedido ao Galo pelo Guinness Book e não foi superado desde então. Cerca de 200 diretores organizam o desfile e há blocos que se espelham no Galo em 13 estados do Brasil e em quatro países. O mais conhecido deles é o Galo da Neve, no Canadá.

“É importante registrar que alguns diretores sempre foram voluntários e começaram como apoio, segurança… Tudo porque queriam estar no núcleo do Galo”, declara.

Apesar de focar no frevo, o bloco incorporou outras sonoridades no repertório do desfile, do maracatu ao manguebeat. Artistas de fora de Pernambuco também passaram a integrar a programação, porém permanecem como convidados de representantes locais. “Toda vez que toca ‘Praieira’, da Nação Zumbi, parece que os trios e as casas estão indo abaixo”, afirma Rômulo.

Para o presidente, a sensação de brincar o carnaval no Galo é indescritível. “É preciso vir e sentir, é muita emoção”, declara. Há dez anos na presidência, ele assumiu o posto quando Enéas Freire, mente pensante por trás das fantasias do clube, faleceu.

“A primeira sede do Galo foi na casa da minha mãe, que ficava na Rua Padre Floriano. Meu filho mais novo, Guilherme, acompanha o clube desde a barriga”, conta, sobre a relação histórica indissociável entre a sua vida e a do bloco.

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