Transversal Frevo Orquestra lança disco de estreia
Por José Teles
Transversal Frevo Orquestra, o protagonismo da flauta
Foto - Roberto Riegert/Divulgação
Embora o repertório que se toca e se canta no Carnaval seja resumido a, no máximo, a duas dezenas de títulos, paradoxalmente o frevo continua num processo de renovação contínuo, o que pode ser comprovado nesta quinta, no Teatro Apolo, no Bairro do Recife, onde acontece o show de lançamento do disco de estreia da Transversal Frevo Orquestra, criada e dirigida pelo flautista César Michiles. O músico trouxe este instrumento apreciado pela suavidade para um gênero musical em que trombones e trompetes sempre deram as ordens: “Eu sempre tive vontade de participar de uma orquestra de frevo, mas com flauta não dava. Vivi isto desde pequeno, meu pai fazendo frevo, o maestro Duda indo lá em casa. Até que senti que poderia tirar a flauta dos instrumentos da família da madeira, e trazer para os metais”.
A Transversal Frevo Orquestra tem trombones, trompetes, piano, contrabaixo, bateria, e o diferencial: seis flautas transversais. Músico desde a adolescência, César Michiles acha que não tinha o dom da composição, sobretudo porque o pai dele, J. Michiles é um dos mais festejados autores contemporâneos de frevo: “Depois de tanta pressão decidi compor, mas não gostava de nada que saía. Fiz uma viagem à Europa, quando voltei soube que um ladrão tinha entrado na casa da minha mãe. Isto me deu inspiração para terminar um frevo, que foi batizado de Pega Ladrão”, conta Michiles, que tirou o primeiro lugar no concurso da prefeitura, em 2007, com a composição.
A ideia da orquestra com naipe de flautas foi cultivada por César Michiles durante alguns anos, até que se viu obrigado a materializá-la: “Fui com o Pernambuco Quartet para uma turnê na Europa, a gente estava na Radio France quando a diretora disse que quera trazer uma orquestra de frevo para tocar em Paris. Perguntou se eu conhecia alguma, eu disse que sim, a minha. Então tive que montar a orquestra”. Claro, não se trata apenas de trazer as flautas para o universo do frevo rasgado, com cada instrumento cumprindo sua tarefa convencional: “Precisamos modificar a estrutura. Os trompetes por exemplo não tocam com aquela estridência que é comum no frevo, enquanto as flautas procuram se aproximar o máximo possível dos metais. Daí a gente vai jogando com esta estrutura sonora”, explica.
REPERTÓRIO
Músico da banda de Geraldo Azevedo, há alguns anos, autor respeitado de frevos de rua (ganhou o concurso da prefeitura novamente em 2011, com Pipocando, acompanhado pela Spokfrevo Orquestra), Cesar Michiles dividiu a tarefa da composição com músicos da Transversal Frevo Orquestra, e regravou o clássico Vassourinhas no Rio (1955), Rasgando a Sede, de Zé da Flauta (uma de suas influências), Braulio Araújo, baixista da orquestra, é autor de uma faixa, Bomba de Corda, enquanto pianista Romero Medeiros assina Frevo Encantado (o primeiro que compôs). O disco tem ainda frevos de Hamilton de Holanda (A Saudade Vai Passar).
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