Como costumo dizer: em um país sem memória como o nosso, qualquer iniciativa em pró da lembrança daqueles que de um modo ou de outro contribuíram para a cultura brasileira é válido, por mínimo que seja o esforço. Por tal razão hoje vou lá nas mais remotas memórias da indústria fonográfica nacional para relembrar o nome da gaúcha Abigail Maia. Atriz de teatro e cantora brasileira, Abigail é um dos primeiros nomes do qual se tem notícia em se tratando de registros fonográficos femininos no Brasil. Filha de dois famosos atores de teatro de revista, nada mais natural do que houvesse uma propensão para a arte por parte da pequena Abigail, que vivia envolta a este universo artístico. Tanto que anos mais tarde seria responsável por fundar uma companhia teatral com o autor, diretor, produtor e roteirista de teatro e cinema Oduvaldo Viana, pai de Vianinha, aquele que anos mais tarde também viria a seguir o ofício paterno. Seu pai era português e resolveu transferir-se para o Rio de Janeiro, onde pretendia dedicar-se ao comércio, mas acabou seguindo a carreira no teatro, no qual estreou em 1866. Trabalhando no Teatro Recreio conheceu a atriz Balbina, na época viúva e mãe de dois filhos. Pouco tempo depois resolveram casar, e dessa união nasceram dois filhos: Magnus e Abigail. Precoce e com forte tendência às artes, Abigail aos cinco anos de idade já cantava acompanhada por seu pai à guitarra portuguesa ou por seu irmão ao violão. Essa experiência a fez tomar gosto pela coisa mesmo contra a vontade dos pais, situação que acabou aceitando até o falecimento do pai, quando passou a viajar com a mãe. Sua estreia nos palcos se deu em Porto Alegre, aos 15 anos de idade, substituindo uma jovem atriz no "vaudeville" "Maridos na corda bamba", espetáculo para o qual sua mãe era contratada como primeira atriz.
Ainda muito jovem desiludiu-se com a carreira de atriz e resolveu abandoná-la sem a intenção de voltar atrás quanto a esta decisão. Não pretendia retornar ao palco, mas em 1903, foi convidada para fazer o papel de uma menina-moça, a princesa Açucena na peça "A fada de coral", na Companhia Silva Pinto, em que a mãe trabalhava. Mesmo a contragosto, aceitou. Nesta época conhece aquele que viria a ser o seu marido, Joaquim da Silva Braga, com quem se casou aos 17 anos incompletos. O marido falece precocemente, fazendo com que a situação financeira de Abigail se agravasse, uma vez que já tinha uma filha, e essa condição acaba fazendo com que ela aderisse definitivamente a carreira artística ingressando na Companhia Luso-Brasileira atuando a princípio em revistas. Sua estreia em teatro de revista se deu na peça "Flor de junho", do paulista José Pisa, com a qual excursionou por vários estados. Acredito que a sua aproximação da música se deu a partir de 1909, quando casou-se com o maestro e compositor Luís Moreira. Ao lado do marido e do empresário Alfredo Miranda viajou para Portugal onde atuou no Teatro Sá Bandeira na cidade do Porto. Suas atuações em terras lusitanas se deu a partir de espetáculos onde apresentava operetas vienenses. Segundo o crítico Brício de Abreu, Abigail Maia chegou a interpretar toda o repertório de operetas vienenses existentes na época.Vale registrar que, ainda em terras portuguesas, a atriz (e agora cantora) ingressou na companhia de José Ricardo, mas devido ao falecimento da mãe, retorna ao Brasil. De volta ao seu país, dá início também a carreira de cantora, chegando a fazer alguns registros fonográficos como será possível tomar conhecimento em breve quando retomo a abordagem do nome de Abigail.
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