sábado, 18 de março de 2017

COMANDANDO O BLOCO, BEATRIZ RABELLO DEBUTA EM GRÁCIL PROJETO FONOGRÁFICO

De nobre linhagem, a intérprete estreia em disco onde dá voz a grandes nomes da música brasileira e conta com a participação de um dos ícones da MPB.

Por Bruno Negromonte


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Nos vicinais caminhos que a música popular brasileira tem a nos oferecer, é preciso estar atento para que possamos observar alguns nuances, pois nas mais distintas esquinas sonoras existentes, muitas vezes estão algumas gratas surpresas que só aqueles ouvidos mais sensíveis e atentos são capazes de alcançar. Quando tal contexto é possível, chegamos a acreditar que tal canto chega como um verdadeiro alento para uma música que ultimamente tem tido como vitrine a verdadeira desconstrução poética e sonora de um legado construído ao longo de anos a partir de alguns dos mais representativos nomes da música popular brasileira tais quais Noel RosaPixinguinhaTom JobimVinicius de Moraes, Cartola e tantos outros que a curta memória do povo brasileiro insiste em empurrá-los à vala do esquecimento. Estes novos talentos geralmente buscam fugir dos parâmetros daquilo que é convencionalmente divulgado pelos grandes meios de comunicação como música de qualidade, fazendo dos seus respectivos trabalhos uma espécie de oásis em meio a um hostil deserto sonoro, chegam adornados por características que acabam por torná-los verdadeiros heróis da resistência. Resistência esta que alimenta a esperança daqueles que acreditam que, em se tratando de qualidade musical, o pulso ainda pulsa dentro da MPB. E isso é perceptível dentro dos mais variados gêneros existentes dentro do nosso cancioneiro, e é neste contexto que se destaca o nome que hoje chega ao nosso espaço trazendo consigo a imensa responsabilidade de fazer parte de uma das clãs mais musicais existentes no país, o que por conseguinte acaba gerando uma expectativa muito grande em torno deste debute fonográfico da artista, que ao seguir a tradição familiar não fez por menos e apresenta aos amantes da boa música um trabalho pautado na qualidade inerente aos seus parentes que tanto vem engrandecendo a nossa MPB ao longo das últimas cinco décadas.



Filha do cantor, instrumentista e compositor Paulinho da Viola e neta do violonista César Faria, um dos fundadores do antológico conjunto Época de Ouro ao lado do saudoso Jacob do Bandolim; a cantora e atriz Beatriz Rabello traz ainda em sua formação genealógica o parentesco com o violonista Raphael Rabello, a cavaquinista Luciana Rabello e a cantora Amélia Rabello, de quem é sobrinha. A união de genes como estes não poderia resultar em algo diferente daquilo que resultou o "Bloco do amor", álbum que consiste nos gêneros que permeiam toda a sua formação musical tais quais o choro, o samba e a bossa nova. Inspirado no Carnaval, "Bloco do amor" traz consigo de modo muito evidente toda a alegria existente em uma das mais importantes manifestações da cultura popular do Brasil, assim como também a riqueza poética presente no samba e evidenciado de modo muito pessoal por Beatriz a partir de releituras e de canções inéditas ao longo das treze faixas que constituem o disco. "O cidadão mais importante deste país" como bem definiu o grande Nelson Sargento e toda a alegria inerente ao carnaval perpetua-se na tradição familiar a partir de composições do próprio Paulinho (que assina três faixas, sendo duas compostas exclusivamente para o disco: a canção que batiza o disco ("Bloco da solidão") e "Só o tempo") e a faixa "Solidão" (parceria com Maria Vascoprimeira porta-estandarte da Banda de Ipanema)). A faixa "Solidão" trata de cadenciado samba que, como o próprio título sugere, trata de um tema recorrente no gênero. Já no samba "Bloco da solidão", a protagonista não procura mais fingir alegria em efêmeros e furtivos amores carnavalescos pois ela já tem motivos para seguir o bloco do amor. A faixa "Só o tempo" (canção também registrada pelo autor no álbum "A toda hora rola uma estória") a intérprete aborda o amor em duo com o pai.

Resultado de imagem para BEATRIZ RABELLODeste mesmo álbum lançado por Paulinho da Viola em 1982, Beatriz pincelou a canção "Nós, os foliões" composta por Sidney Miller. Dentre as canções presentes no disco ainda há releituras clássicos do nosso cancioneiro como é o caso de "Sonho de Carnaval" (Chico Buarque), "Enredo do Meu Samba" (Dona Ivone Lara e Jorge Aragão), "Marcha da Quarta-Feira de Cinzas" (Carlos Lyra e Vinícius De Moraes). Dentre as demais faixas, há um antigo samba de bloco intitulado  "Terremoto" e que foi composto por Zorba Devagar, sambista histórico, da turma de Botafogo. Sem esquecer o samba de vanguarda, Beatriz busca a perfeita medida entre as tradições da música popular brasileira e compositores da nova geração da MPB a partir de faixas como "Sexta -feira de carnaval" (Douglas Germano e Everaldo Efe Silva), "Desistir jamais" (André da Mata), "Onde for o nosso amor" (João Callado e Moyses Marques), "Mourão que não cai" (Douglas Germano) e, uma canção de Roque Ferreira em parceria com Pedro Amorim chamada "Nem eu, nem você". Como percebe-se o futuro, o presente e o passado fundem-se no coerente repertório que compõe este debute fonográfico.

Com aquilo que há de melhor em música correndo em suas veias, a intérprete carioca apesar de estar debutando em disco agora já traz em seu currículo a participação em diversos musicais voltados para o teatro como a peça "Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha", de Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral, onde atua desde 2009, soma-se a esta experiência a sua participação como 
backing vocal no DVD "Paulinho da Viola – Acústico MTV" e o fato de estudar música desde os seis anos a partir de aulas de piano. Delineado desde 2009 de modo bastante aguerrido pela artista, "Bloco da solidão" chega ao mercado fonográfico expondo uma artista madura, onde sua verve artística é apenas um detalhe em meio a tantas adjetivos positivos que circundam a cantora. Na tessitura do álbum, a artista soube, de modo uníssono, unir peculiaridades de cada fonte na qual vem bebendo desde que resolveu enveredar para o contexto artístico e assim registrou treze cartões postais que retratam o samba, o carnaval e acima de tudo um Rio de Janeiro atemporal, onde de modo eventual novos e promissores talentos como a Beatriz Rabello nos fazem escandir em alto e bom som: Salve a boa música popular brasileira!



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