SÉRIE DOSE DUPLA – CRÔNICAS SÁTIRAS E LETRAS JOCOSAS – PAULO VANZOLINI
Paulo Vanzolini, nosso zoólogo e compositor
Entre os indvíduos da zoologia que receberam seu nome estão Alpaida vanzolinii; Alsodes vanzolinii; Amphisbaena vanzolinii e Anolis vanzolinii.
Paulo Emílio Vanzolini se encaixaria perfeitamente no dito popular que afirma “a ciência perdeu uma grande nome, mas a música ganhou um mestre”.
Qual nada, Paulo Vanzolini, embora sempre afirmasse ser um cientista em primeiro lugar e que fazia música, de vez em quando, pela vocação de boêmio, foi grandioso nas duas atividades.
Um compositor de observação aguda do cotidiano, cronista, que fez também músicas belíssimas e marcantes.
Um dos fundadores da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Vanzolini foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico; e premiado pela Fundação Guggenheim, em Nova Iorque, em virtude de suas contribuições para o progresso da ciência.
Entre suas grandes contribuições, adaptou a ‘Teoria dos Refúgios’, a partir de estudos com o geógrafo Aziz Ab’Saber e o norte-americano Ernest Williams.
Feitas as devidas e necessárias referências ao cientista Vanzolini, passemos a parte que aqui queremos abordar. Paulistano de 1924 (faleceu em 2013) fez muito mais do que ‘Ronda’, ‘Volta Por Cima’ e ‘Praça Clovis’. É compositor, por exemplo, de ‘Samba Erudito’.
Aliás, como boa parte dos ouvintes comuns, eu não tinha a mínima ideia de que ‘Ronda’, com Bola Sete e Marcia e ‘Volta por Cima’, por Noite Ilustrada eram da autoria de um zoólogo.
Primeiro aprendi a cantar e memorizei a deliciosa “Samba Erudito”, na voz, vejam só, de Chico Buarque, que nem tinha tirado ainda a carteirinha de cantor..
Mas ouvi demais. Achava as informações históricas surpreendentes para uma canção popular. Ficava muito confuso quando se referia a um “tal” de velho Pickard?”. Eu sei lá quem é Picar, rapaz!
Fui à enciclopédia e aprendi. Ouçam como ouvi a primeira vez….
Samba Erudito, de Paulo Vanzolini, 1967, com Chico Buarque
Andei sobre as águas
Como São Pedro
Como Santos Dumont
Fui aos ares sem medo
Fui ao fundo do mar
Como o velho Piccard
Só pra me exibir
Só pra te impressionar
Fiz uma poesia
Como Olavo Bilac
Soltei filipeta
Pra ter dar um Cadillac
Mas você nem ligou
Para tanta proeza
Põe um preço tão alto
Na sua beleza
E então, como Churchill
Eu tentei outra vez
Você foi demais
Pra paciência do inglês
Aí, me curvei
Ante a força dos fatos
Lavei minhas mãos
Como Pôncio Pilatos
Andei sobre as águas (…)
Samba Erudito, de Paulo Vanzolini, 1967, pelo autor
Ah, ia me esquecendo. Afinal quem foi o tal Piccard, a que Vanzonlini, entre tantos inventores, descobridores e personalidades da história, introduziu em seu samba?
Confesso que, além de desconhecer o Piccard referido, digo que a família do sujeito é enorme e todos com alguma história para contar.
Vamos, então a ela: Auguste Antoine Piccard (é assim que escreve). Nasceu na Basileia, na Suíça, em 1884, e morreu em Lausanne, em 1962. Foi físico, inventor e explorador suíço.
Entre suas principais invenções está o batiscafo, espécie de submarino, utilizado para pesquisas em grandes profundidades. Ele e seu irmão gêmeo (olha aí!) Jean Picard foram também balonistas.
Calma, tem mais: seu filho, Jacques Piccard, desceu ao fundo das ‘Fossas Marianas’, no Pacífico, além de ser conhecido como hidronauta e explorador. Sim, tem mais: Bertrand Piccard foi aeronauta e balonista; Jean-Felix Picard, químico orgânico, aeronauta e balconista; Jeanette Piccard (mulher de Jean Felix) aeronauta e balonista; e dom Piccard, balonista. Espero ter sido fiel à brilhante família!!!
Feliz ano novo! Semana que vem tem mais…
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