segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

PAUTA MUSICAL: VIOLÃO, BANDOLIM E CAVAQUINHO

Por Laura Macedo


O Violão, o Bandolim e o Cavaquinho são os instrumentos de destaque neste Post, executados por grandes solistas, intérpretes de suas composições, gravadas a partir da fase do sistema elétrico de gravação no Brasil em 1927.

Destacamos, entre outros, os compositores/intérpretes: Américo Jacomino [Canhoto], João Pernambuco, Henrique Brito, Luperce Miranda, Rogério Guimarães, Levino da Conceição, Nelson dos Santos Alves e Mozart Bicalho.


Américo Jacomino - Canhoto


O paulista Américo Jacomino (1889-1928) foi um dos primeiros instrumentistas a realizar gravações de violão solo no Brasil, por volta de 1912/1913. Provavelmente foi, também, o primeiro concertista do país, em 15 de setembro de 1916, quando se apresentou no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Sua discografia abrange mais de 60 títulos, em sua maioria em gravações mecânicas.

A valsa era um dos seus gêneros prediletos. Era nela que, nas cordas de aço do violão, imprimia seu estilo em performances cheias de vibratos. Seus últimos registros fonográficos foram: “Niterói” e “Escuta minh’alma”.

Niterói” (Américo Jacomino) # Américo Jacomino. Disco Odeon (10.200-A) / Matriz (1596). Lançamento (13/03/1928).



Escuta minh’alma” (Américo Jacomino) # Américo Jacomino. Disco Odeon (10.200-B) / Matriz (2597). Lançamento (13/03/1928).



João Pernambuco

João Pernambuco (1883-1947) marcou sua passagem como um violonista de fundamental importância para a Música Popular Brasileira trazendo, em sua bagagem, todo o conhecimento adquirido na interface estabelecida com violeiros e cantadores da sua região sertaneja de Jatobá e do Recife.

Quando aterrissou no Rio de Janeiro, em 1904, logo despertou a curiosidade dos artistas cariocas que manifestavam interesse na cultura nordestina, entre o quais destacamos Pixinguinha e Donga, no início de suas carreiras, bem como o poeta Catulo da Paixão Cearense. Junto a outro grande do violão e seu conterrâneo Quincas Laranjeiras (1873-1835) lecionou na famosa loja Cavaquinho de Ouro, ponto de referência dos instrumentistas da época.

Sonho de magia” (João Pernambuco) # João Pernambuco. Disco Columbia (5.175-A) / Matriz (380.589). Lançamento (março/1930).



Magoado” (João Pernambuco) # João Pernambuco (violão). Disco Columbia (5.175-B). Lançamento (março/1930).




O lirismo do cancioneiro de Henrique Brito (1908-1935) fala alto nas suas composições. Violonista autodidata, nascido na cidade de Natal (RN) não esquentou lugar em terras potiguar. O então governador do Estado da época, impressionado com seu desempenho violonístico financiou sua viagem e estudos no Rio de Janeiro.
Foi parceiro de Noel Rosa (“Queixumes”) e integrava o conjunto “Bando de Tangarás”, cujo repertório, predominava: emboladas, cantigas, sambas e toadas sertanejas.

Segundo o pesquisador Sandor Buys: “Um fato que se destaca na biografia de Henrique Brito é que algumas pessoas atribuem a ele a invenção do violão elétrico. Ele teria dado a ideia do invento a alguns fabricantes brasileiros, mas não teve êxito. Quando, em 1932, por motivos dos jogos olímpicos, embarcou junto à Brazilian Olympic Band, dirigida por Romeu Silva, aos EUA , deixou sua ideia de violão elétrico com um industrial de São Francisco que patenteou o invento”.

Localizamos na Base de Dados da Fundação Joaquim Nabuco 16 composições solos de violão de Henrique Brito.

Alice” (Henrique Brito) # Henrique Brito. Disco Brunswick (10.087-B) / Matriz (411). Lançamento (1930).





Sonho Havanez” (Henrique Brito) # Henrique Brito (violão). Disco Brunswick (10.098-A) / Matriz (473). Lançamento (setembro/1930).



Luperce Miranda


O pernambucano Luperce Miranda (1904-1977) chegou ao Rio de Janeiro em 1927. O grande sucesso da embolada “Pinião”, de sua autoria, interpretada pelos “Turunas da Mauricéia” no carnaval de 1928, selou o início da carreira de Luperce – um dos instumentistas mais populares da Era do Rádio.

Luperce edificou sua grande carreira acompanhado grandes nomes da Música Popular Brasileira, gravando mais de 800 músicas e compondo infinitas de melodias em gêneros diversos, como frevo, choro, valsa entre outros.

Super veloz em sua palheta do bandolim, Luperce foi sem sombra de dúvidas um dos grandes em seu instrumento atuando nas principais rádios e gravadoras da época.

Certa vez, o maestro Francisco Braga, deslumbrado com sua performance disse: “Rapaz, eu o considero o Rei do Bandolim".

Segura o dedo” (Luperce Miranda) # Luperce Miranda. Disco Victor (33.795-A) / Matriz (65970). Gravação (28/03/1934) / Lançamento (junho/1934). [Na velocidade e clareza de execução desse choro podemos constatar a técnica insuperável desse grande bandolinista].


Me deixa em paz” (Luperce Miranda) # Luperce Miranda. Disco Odeon (10.615-A) / Matriz (3545). Lançamento (junho/1930).

Rogério Guimarães


Natural de Campinas, Rogério Guimarães cedo se mudou para o Rio de Janeiro e, tal como outro paulista de renome - Américo Jacomino, o Canhoto -, ele utilizava as cordas do violão às avessassendo, também, batizado de “Canhoto”.

Teve sua obra registrada nas gravadoras Odeon, Parlophon e RCA Victor. Nessa última, em 1929, se tornou diretor artístico permanecendo no cargo por três anos, período esse que admitiu a novata Carmen Miranda, primeiro sucesso da gravadora, e tantos outros artistas.

Seu regional, conhecido como “Grupo do Canhoto” foi destaque no acompanhamento de cantores da Era do Rádio, fato que impediu que fosse projetada sua carreira como solista.

Noite de prazer” (Rogério Guimarães) # Rogério Guimarães (violão). Disco Victor (33.244-B) / Matriz (50120). Gravação (25/11/1929) / Lançamento (janeiro/1930).


Aguenta o galho” (Rogério Guimarães) # Rogério Guimarães. Disco Odeon (11.912-A) / Matriz (6353). Gravação (24/04/1940) / Lançamento (outubro/1940).


Levino da Conceição


Aos seis anos de idade, Levino da Conceição teve cegueira causada pela febre amarela, em Corumbá, Mato Grosso, para onde a família havia se mudado. Essa tragédia foi amenizada pela descoberta dos sons do violão do irmão Faustino que, ao lhe perceber o talento, o presenteou com o instrumento musical no qual Levino descobriria os primeiros acordes e melodias.

Levino não ficou apenas no violão tornando-se um multiinstumentista, arranjador e regente. Foi professor de violão Dilermando Reis. Desde cedo, aos 22 anos, dedicou-se a causa da deficiência visual por toda a vida.

Quando Levino ouviu Dilermando tocar e, tendo ficado muito impressionado com o talento do jovem violonista, convidou-o a seguir viagem em companhia dele. O músico procurou os pais de Dilermando e pediu permissão para que o rapaz o seguisse em excursão. Comprometia-se a lhe ensinar música, técnicas de tocar violão, e a encaminhá-lo para a vida artística, livre de quaisquer despesas”.

O pai de Dilermando, um entusiasta da arte do filho, percebeu a grande chance que surgia, e prontamente concordou. Mestre e discípulo se apresentaram juntos por dois anos, e o excelente aprendiz contou: “No começo, eu estudava com o Levino, e ele, nos primeiros recitais, não me apresentava como aluno. Mas logo depois de três meses ele fazia a primeira parte e deixava a segunda para eu fazer”.

Meditando” (Levino da Conceição) # Levino de Conceição (violão). Disco Odeon (10.721-B) / Matriz (3427). Lançamento (dezembro/1930).


Há quem resista?” (Levino da Conceição) # Levino da Conceição (violão). Disco Odeon (122.926), 1925.


Nelson dos Santos Alves



O cavaquinista Nelson dos Santos Alves (1895-1960) se notabilizou pela sua atuação como acompanhador de vários conjuntos importantes, a exemplo do “Grupo de Chiquinha Gonzaga” e do grupo “Oito Batutas”, do qual foi um dos fundadores, em 1919, demonstrando grande desempenho como solista de cavaquinho.

Com o referido grupo viajou para Paris, em 29 de janeiro de 1922, a bordo no navio Massília. Nesse mesmo ano excursionou com os “Oito Batutas” em apresentações em Buenos Aires.

Conjunto Os Batutas [com Duque]: EM PÉ: Pixinguinha, José Alves de Lima, José Monteiro, Sizenando Santos [Feniano] e Duque. SENTADOS: China, Nelson dos Santos Alves e Donga.


Selecionamos duas composições do Nelson Alves onde fica patente sua criatividade como compositor de choros modulantes e cheios de balanço.

Ficou calmo” (Nelson dos Santos Alves) # Nelson dos santos Alves (cavaquinho). Disco Victor (33.205-A) / Matriz (50021). Gravação (19/07/1929) / Lançamento (novembro/1929).


Não pode ser” (Nelson dos Santos Alves) # Nelson dos Santos Alves (cavaquinho). Disco Victor (33.205-B) / Matriz (50022). Gravação (19/07/1929) / Lançamento (novembro/1929).


Mozart Bicalho


O mineiro Mozart Bicalho (1902-1986) foi poeta, compositor e violonista. Viveu algum tempo no Rio de Janeiro, onde foi convidado pelo então diretor artístico da gravadora Odeon,Eduardo Souto, para gravar no referido selo.

Sua estreia em discos foi em agosto de 1929 interpretando ao violão a valsa "Alma de artista" e o cateretê "Tuim, tuim", ambas de sua autoria, contando com acompanhamento de Henrique Vogeler ao piano.

Alma de artista” (Mozart Bicalho) # Mozart Bicalho (violão). Disco Odeon (10.421-A) / Matriz (2595). Lançamento (julho/1929).


Tuim Tuim” (Mozart Bicalho) # Mozart Bicalho. Disco Odeon (10.421-B) / Matriz (2596). Lançamento (julho/1929).


Mozart também era assíduo frequentador da loja de instrumentos musicais “Ao Bandolim de Ouro” onde, costumeiramente, encontrava os amigos violonistas, entre outros, Quincas Laranjeira e Rogério Guimarães.

A valsa de Mozart Bicalho “Gotas de lágrimas”, muito apreciada pelos estudiosos do violão, recebeu do professor da Universidade de Minas Gerais, o mineiro José Lucena, a seguinte apreciação:

Gotas de lágrimas formam com ‘Abismo de rosas’ e ‘Sons de carrilhões’ uma tríade exemplar de músicas populares que, durante anos, atraíram e sensibilizaram os ouvintes a ponto de tornar muitos deles cativos para sempre do instrumento".

Gotas de lágrimas” (Mozart Bicalho) # Mozart Bicalho (violão). Disco Odeon (10.585-B) / Matriz (3116), 1930.


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Agradecimentos especiais ao escritor, jornalista e pesquisador Miguel NIREZ de Azevedo pela liberação dos fonogramas: “Há quem resista” e “Não pode ser”.

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Fontes:

- Acervo Digital do Violão Brasileiro (Aqui).

- Almanaque do Choro, de André Diniz. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

- Banco de Dados do Acervo Nirez (Aqui).

- Blog Coleção Sandor Buys – Um Acervo sobre Música Brasileira (Aqui)

- Choro: do quintal ao Municipal, de Henrique Cazes. - São Paulo: Ed. 34, 1998.

- Dicionário Cravo Albin da MPB.

- Fotomontagem: Laura Macedo

- Montagem Áudios SouldCloud: Laura Macedo.

- Projeto Memórias Musicais: 15 CDs com a restauração de gravações feitas entre 1902 e 1950. Produção: Sarapuí / Biscoito Fino.

- Site YouTube/Canais: “SenhorDaVoz”, “bc1m2dl3”, “Igor Tavile”, “Sandor Buys”, "luciano hortencio".

- Violão Ibérico / Carlos Galilea. Trem Mineiro Produções. 1ª Edição. Rio de Janeiro, 2012.

- Violões do Brasil, de Myriam Taubki (Org.). São Paulo. - Ed. SENAC São Paulo, 2007.

- Uma história da música popular brasileira - Das origens à modernidade, de Jairo Severiano. - São Paulo: Ed. 34, 2008.


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