quinta-feira, 12 de novembro de 2020

MÚSICA BREGA - A JOVEM GUARDA REPAGINADA

Talvez você seja dos mais puristas e encare essa definição como estapafúrdia. Será que os reinados de Roberto Carlos e Reginaldo Rossi são mais próximos do que se pode imaginar? Eu diria que sim e trarei alguns argumentos que talvez te levem a refletir sobre o assunto.

Um bom começo seria determinar que a Jovem Guarda não é e nunca foi um gênero musical, mas sim um movimento cultural.

A base comportamental e a moda ditada por aqueles jovens não caberia no contexto atual, mas a música atravessa gerações e ainda hoje a sonoridade que embalou Roberto Carlos e sua trupe "em ritmo de aventura" mantém uma legião de velhos e novos fãs; talvez por isso a associação entre o "Splish Splash" e um gênero musical.

Mas um instante, maestro! O que nos leva a considerar os artistas de maior visibilidade e sucesso como Jovem Guarda e desconsiderar dentro desse contexto tantos outros que surgiram no mesmo período? Talvez exista a tal resposta e ela gire em torno da proximidade, ou não, com o rei, o rei Roberto.

Antes de seguir lendo esse humilde e questionador artigo, pense em cinco nomes que você se lembra quando o assunto é Jovem Guarda...

(Pense mais um pouco)

Pensou? Dentre esses nomes estava Nelson Ned? Antônio Marcos? Márcio Greyck? Nilton Cesar? Alguém pensou em Paulo Sérgio, que para muitos imitava Roberto Carlos? Creio que não! Todos surgiram no período em que a Jovem Guarda era uma febre e hoje sequer são relacionados ao movimento, tendo sido assim "amparados" pelo que viria a ser conhecido como "Música Brega".

Mas havia já naqueles tempos o artista Jovem Guarda e o artista "Brega"? Existem algumas teses acerca da etimologia sobre o termo, mas dentro de um contexto musical, segundo o historiador Paulo Cesar de Araújo (2002) passou a ser utilizado a partir dos anos 80 e de modo pejorativo. Sendo assim, a diferenciação é recente.

E você? Já se perguntou o que de fato é a tal "Música Brega"? A resposta seria músicas de apelo mais popular, em sua maioria com uma temática romântica e muito executadas no norte e nordeste do Brasil; ou seja! Em termos mais atuais vemos aí o mainstream e o underground.

Vamos mudar a rádio e falar sobre o outro rei, o rei Reginaldo Rossi que em nada é menos importante do que o já citado Roberto Carlos.

Antes de dar continuidade, eu os convido a ouvir a faixa “Jamais Farei Você Sofrer” lançada por Reginaldo Rossi no álbum Festa dos Pães do ano de 1967.


Harmonicamente falando, há diferenças entre a canção de Reginaldo Rossi e os grandes sucessos da Jovem Guarda? Não! Definitivamente não.

A Jovem Guarda foi marcante, mas teve vida curta. Com a dissolução do movimento seus artistas tomaram rumos distintos, mas em sua grande maioria seguiram o mesmo caminho que o rei, o Roberto, enveredando de vez no romantismo.

Realizar uma análise isenta de qualquer preconceito musical pode mostrar o quanto de Jovem Guarda há em clássicos do "Brega". “Mentira” (Evaldo Braga), “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” (Odair José), e “Ainda Queima a Esperança” (Diana); são ótimos exemplos.

A “Música Brega” acabou por ganhar elementos próprios e novas abordagens; já que também é difícil ser definida como um gênero musical. Dentre suas obras mais aclamadas encontramos, por exemplo, boleros e o samba-canção. Talvez seja mesmo melhor classificá-la como Música Romântica. Por um outro lado surgiram artistas que incorporaram elementos regionais, como o paraense Alípio Martins e a Lambada e o alagoano Sandro Becker e seu forró cheio de malícia.

Em meio a enorme diversidade promovida pelo Brega, cabe uma reflexão. Seria assim tudo aquilo repudiado, tendo em vista seu grande apelo popular? O que para muitos foge de um conceito de erudição? Uma enorme dose de preconceito? Muito provavelmente.

A música Romântica ganhou destaque nos anos 70 e viveu seu apogeu graças à popularização atingida pelo Brega, bem distante do ar, digamos, mais elitista sob o qual a Jovem Guarda foi construída.

O valor de Roberto Carlos para a música popular brasileira é inegável. Sua influência sobre uma quantidade imensa de artistas. Seus recordes de vendagem, premiações, composições; inquestionáveis. Mas e o seu reinado? A coroação aconteceu pelas mãos de Chacrinha, de quem recebeu o título de o "Rei da Juventude". Mas e ao fim da Jovem Guarda? O Rei seria deposto ou o advento do "Brega" foi o que consolidou esse status? Sendo assim, Roberto é Brega? E o reinado de Rossi? Aclamação popular x Reino midiático? Deixo essas questões para que cada um pense sobre...




Fonte: Immub

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