sexta-feira, 18 de setembro de 2020

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Em década que reinou absoluto como um dos maiores cantores do país, Silvinho deu início aos anos de 1960 com este projeto emblemático em sua trajetória. Em 2020 o disco completa 60 anos

Por Luiz Américo Lisboa Junior


Miltinho - Um novo astro (1960)

A safra de cantores que se notabilizaram na década de 50 e início dos anos 60 foi muito grande, eles formaram um time de primeira na música popular brasileira e construíram um patrimônio musical para o nosso país dos mais notáveis. Os mais jovens por certo não conhecem esses artistas, ou quando muito ouviram falar seja por seus país ou avós ou por outras pessoas de mais idade, talvez até em raros momentos em que puderam assistir algo de mais útil nas televisões abertas quando elas se prestam a realmente divulgar a nossa cultura, hoje em dia cada vez mais difícil de ser veiculada, ou então em canais específicos de difusão cultural, mas que sabemos tem um público restrito.

O certo é que não há mídia para nossos astros de ontem, mesmo aqueles que ainda de certo modo procuram manter uma certa atividade apesar da idade já avançada. Essa triste realidade de um país cuja população esta a procura de algo que satisfaça de imediato seus anseios de consumo e são estimulados a isso todo dia e toda hora realmente tende a desconhecer seu passado, mesmo aquele considerado recente, e o que é pior, verifica-se então um profundo desconhecimento da verdadeira história do país, ou seja, uma população alienada e alheia a sua própria definição de identidade, é muito triste se constatar tais fatos, mas não adianta mascarar a realidade, ela existe e esta aí sendo comprovada a cada dia.

Ocorre que não se pode também viver lamentando, é preciso fazer algo, muitos já o fazem e com competência, mas é imperioso que se faça ainda mais em prol da divulgação da cultura brasileira em todos os seus níveis, e no nosso caso específico pela música popular que sempre foi a porta voz dos anseios de nossa gente, e mais do que tudo, nosso maior orgulho, principalmente quando verificávamos que outros povos aplaudiam, admiravam e respeitavam nossos artistas. Infelizmente essa admiração diminuiu muito, mas o mundo também mudou e reviu seus conceitos, para isso basta ouvirmos planetariamente a canção dos dias atuais e a que era feita a 25 ou 30 anos atrás, apenas para não ir muito além do tempo e constataremos uma diminuição qualitativa impressionante.

Esta introdução não busca se ater a conceitos meramente cristalizados ou opiniões já por mim amplamente divulgadas, afinal quem lê os artigos que escrevo sabe de sobra o que penso da música atual, com ressalvas é claro, e do mercado fonográfico capitaneado pelas multinacionais e dos meios de comunicação principalmente o rádio e a TV os mais nocivos elementos da banalização cultural que se opera no Brasil. Portanto não vou me alongar e irei direto ao ponto principal, nevrálgico, que para mim é e sempre será uma luta incessante pela preservação e divulgação da boa música popular brasileira mesmo considerando que há aqueles que me chamam de conservador, não me importo, afinal, prefiro ser um conservador autêntico do que um moderno que não sabe nem ao menos distinguir concepções musicais, que eu resumo de duas formas muito simples e tenho certeza outros hão de concordar comigo, ou seja, que só existem dois tipos de música, a boa e ruim, eu prefiro ficar com a primeira.

E por falar em música boa nada melhor do que relembrarmos um artista que se enquadra perfeitamente neste perfil, o carioca Milton dos Santos Almeida, ou simplesmente Miltinho, nascido em 31 de janeiro de 1928. Começou sua carreira ainda nos idos dos anos 40 integrando o conjunto vocal Cancioneiros do Luar, de curta duração, passando depois a fazer parte de outros grupos vocais que naquele tempo faziam sucesso, seja como cantor e pandeirista ou substituindo algum outro integrante em função das modificações em que passavam esses grupos em suas estruturas.

Dessa forma Miltinho em 1946 juntamente com Arnaldo Humberto de Medeiros e Francisco Guimarães Coimbra, ex-integrantes do Cancioneiros do Luar, participa da segunda formação do conjunto Namorados da Lua, que tinha entre seus componentes o também estreante cantor Lucio Alves. Em 1948 integra Os Anjos do Inferno apresentando-se nos Estados Unidos com Carmen Miranda e depois por dois anos no México. Em 1952 substitui Esdras Vieira no grupo Quatro Azes e 1 Coringa.

Atuou ainda como crooner da Orquestra Tabajara de Severino Araújo e do Conjunto Milionários do Ritmo de Djalma Ferreira, sendo ao lado deste o período em que se destacou como excelente intérprete gravando alguns discos e partindo depois para sua carreira solo. Em 1960 Miltinho grava seu primeiro LP individual na gravadora Sideral com o título de Um Novo Astro consagrando um de seus grandes sucessos, Mulher de trinta de Luis Antonio. Seu disco de estréia ainda traz as canções Eu e o Rio; Ri; Menina moça; Fica comigo e Volta, todas de Luis Antonio, este, aliás, um dos compositores prediletos de Miltinho e responsável pela grande maioria de seus sucessos, Murmúrio, de Djalma Ferreira e Luis Antonio; Ultimatum, de Waldemar Gomes e Alcebíades Nogueira; Idéias erradas, de Dolores Duran e Ribamar; Fechei a porta, de Sebastião Mota e Ferreira dos Santos; Triste fim, de Carlos Santana e Jaime Storino; Teimoso, de Luiz Bandeira e Ary Monteiro e Você só você, de Waldemar Gomes e Luis Bandeira. Apesar de ter sido lançado por uma pequena gravadora o disco fez um grande sucesso e cristalizou definitivamente a carreira de Miltinho, tornando-se emblemático em sua trajetória, merecendo sucessivas reedições, inclusive uma com o sugestivo título de Os grandes sucessos de Miltinho também lançada em CD.

Hoje aos 77 anos é um dos raros artistas brasileiros que conservam o talento e o carisma intactos. Uma jóia rara da música popular brasileira que merece de todos nós aplausos constantes.

Itabuna, 10 de novembro de 2005.


Músicas:
01) Ri (Luis Antonio)
02) Ideias erradas (Jose Ribamar/Dolores Duran)
03) Teimoso (Luis Bandeira/Ary Monteiro)
04) Menina moça (Luis Antonio)
05) Ultimatum (Waldemar Gomes/Alcebíades Nogueira)
06) Triste fim (Carlos Santana Lima/Jaime Storino)
07) Mulher de trinta (Luis Antonio)
08) Fechei a porta (Sebastião Mota/Ferreira dos Santos)
09) Você só você (Waldemar Gomes/Luis Bandeira)
10) Fica comigo (Luis Antonio)
11) Volta (Luis Antonio)
12) Eu e o Rio (Luis Antonio)

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