sábado, 12 de setembro de 2020

ALMANAQUE DO SAMBA (ANDRÉ DINIZ)*

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• CAPÍTUL O6 •

O SAMBA DOS FESTIVAIS


“Senhoras e senhores telespectadores, boa noite.

A PRF3 – TV Emissora Associada de São Paulo orgulhosamente apresenta neste
momento o primeiro programa de televisão da América Latina.”
Voz da atriz IARA LINS, em 18 de setembro de 1950, às 22h, anunciando que a
TV Tupi de São Paulo entrava no ar.


Ao leitor persistente que conseguiu chegar até aqui, uma dica para o capítulo que se inicia: pegue tudo o que leu sobre o impacto do rádio na cultura nacional, multiplique por dez, adicione um bom punhado de interação visual, alguns milhões de dólares e terá configurado o instrumento midiático mais difundido de todos os tempos: a televisão.

Descoberta tecnológica da década de 1930, mas popularizada sobretudo nos Estados Unidos a partir da década seguinte, a TV veio, como sucessora do rádio, desalojar o cinema como principal meio de entretenimento da população. A primeira vez que se pôde ver no Brasil uma imagem transmitida com som remonta ao ano de 1935. Um público ainda atordoado com a novidade viu e ouviu os sambas cantados por Francisco Alves e Marília Batista, acompanhados, entre outros, pelo regional de Benedito Lacerda. Entretanto, foi o polêmico Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, um misto de empresário e patrono da cultura, dono dos Diários Associados (cadeia de jornais, revistas e rádios), quem financiou o pioneiro empreendimento da TV Tupi. O Brasil tornou-se, em 1950, o quarto país do mundo a ter televisão. Durante os primeiros anos, na falta de trabalhadores qualificados para operar e programar os novos equipamentos, a TV brasileira importou do rádio a mão-de-obra necessária. Nas palavras de José Ramos Tinhorão, sempre cirúrgico em suas análises, “o que fazia sucesso não era ainda a televisão, como passaria a ser entendida depois, mas o rádio filmado ... Durante pelo menos os primeiros dez anos de sua instalação, a televisão do Brasil desenvolveu-se montada sobre uma infra-estrutura de rádio”. A prática do erro foi um caminho necessário para o acerto da programação.


Roda e avisa

“Roda, roda, roda e avisa; um minuto pros comerciais; alô, alô, Teresinha, é um barato a buzina do Chacrinha.” Ninguém imaginava que as toscas experiências em um estúdio de rádio em Niterói, onde o equipamento dividia espaço com galinhas ciscando, fossem a semente de um dos programas televisivos mais populares de todos os tempos: O Cassino do Chacrinha.
Atirando bacalhau, bananas e abacaxis para o auditório, e com o xiste “Eu vim para confundir e não para explicar”, o programa do Chacrinha ficou mais de 30 anos no ar, revelando compositores e intérpretes do nosso cancioneiro. Dele participavam como juradas Araci de Almeida e a eterna “chacrinheira” Elke Maravilha. Queiramos ou não, ele cumpriu um enorme papel na divulgação do samba.

Superado o amadorismo inicial, a televisão revelou-se o principal canal de comunicação de massa da sociedade brasileira contemporânea. Ela está hoje presente em mais de 90% dos lares e, segundo o IBGE, o número de televisores nas residências é maior do que o de bens como o rádio, o filtro de água e a geladeira.
A telinha virou elemento de integração nacional indispensável em quaisquer políticas educacionais e culturais de nosso país. Ela é tão importante nesse aspecto que algumas pessoas preferem ver a programação dos canais abertos mesmo podendo ter acesso aos fechados, para conversar depois sobre o que viram, para ter assuntos em comum, e não apenas pelo fato de gostarem da programação. É o ritualístico sentido de pertencimento, que nossas sociedades complexas produzem, evitando, felizmente, a “guetização” da cultura.
Quando a televisão não era mais um bebê recém-nascido e já começava a caminhar com as próprias pernas, os concursos de música que faziam sucesso em teatros e universidades país afora foram transportados e adequados à nova linguagem televisiva. Geralmente organizados pelas TVs Record, Excelsior e Globo, os festivais de música popular brasileira tiveram início na segunda metade da década de 1960 e chegaram ao fim nos primeiros anos da seguinte. A produção musical da época era marcada pela influência estética da bossa nova, mesmo para aqueles que optavam pelo engajamento político e pela denúncia social em suas composições. Esse período ficou conhecido como a Era dos Festivais, e é dele que trataremos a seguir.




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