Na final em mais um evento envolvendo o frevo, Bráulio de Castro traz no sangue a paixão pelo gênero
Por Bruno Negromonte
Como todos já devem ter conhecimento, Bráulio de Castro nasceu no município de Bom Jardim, terra culturalmente abençoada e considerada por muitos como um dos mais relevantes torrão da música. Isso se dá, por exemplo, ao fato do município ser o berço de importantes nomes de nossa música como é o caso do saudoso maestro Levino Ferreira, que aos oito anos de idade já dava os seus primeiros passos no contexto musical ao apresentar-se na banda do Maestro Tadeu tocando trompa. Na música erudita, sua maior obra é a "Dança do cavalo-marinho", composta para a Orquestra Sinfônica do Recife e conhecida internacionalmente, tendo sido executada na França e na Inglaterra, mas foi no frevo que ganhou o gosto popular a partir de sua incursão no gênero através de composições como "Diabinho de saia", "Entra na fila", "Satanás na onda", "Lágrima de folião", "Meche com tudo" dentre outras como o irrepreensível sucesso "Último dia", frevo imprescindível nas festividades carnavalescas. A cidade ainda é também torrão natal de de outros grandes nomes de reconhecimento nacional como é o caso do não menos importante Dimas Sedícias, que tem algumas de suas composições largamente executadas por orquestras e conjuntos de câmera de todo o mundo; e do Airton Barbosa, fundador do Quinteto Villa-Lobos no Rio de Janeiro e fagotista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do RJ. Levando em consideração os exponentes coletivos é válido destacar o octogenário Grêmio Lítero Musical Bonjardinense, uma das mais antigas sociedades musicais da região do agreste setentrional de Pernambuco. Como vemos, o município traz consigo uma relevante importância para a música não apenas pernambucana, mas nacional desde a primeira metade do século XX. E quando se fala de música pernambucana é impossível não fazer nenhuma referência ao contagiante gênero do frevo e seus variantes, vitrine maior da música do Estado ao lado do ritmo que elevou Luiz Gonzaga ao panteão dos grandes nomes da música popular brasileira.
Ciente dessa importância e trazendo consigo além de inspiração a experiência de ter convivido com alguns desses nomes citados, Bráulio tem também conhecimento de sua responsabilidade a partir de diversos aspectos. Primeiro ele sabe que cabe a si, elo entre a tradição e o que está por vir, dar continuidade as reverências ao gênero. Em segundo lugar também tem conhecimento que não cabe apenas dar continuidade a este contexto, mas prezar por um padrão de qualidade semelhante aos que escreveram a história musical do seu município e por seguinte ao seu Estado. Bráulio de Castro ao longo de cinco décadas dedicado à composição aprendeu a dosar como poucos esse misto de responsabilidade e prazer. Sua obra expandiu-se para além das especificidades e hoje é possível afirmar que seu nome está no mesmo patamar daqueles que o serviram de inspiração. Reflexo daquilo que o fundamentou enquanto cantor e compositor, Bráulio buscou ir além de seus conterrâneos não apenas diversificando aquilo que culturalmente vem ainda hoje produzindo, mas também por enaltecer como poucos a cidade que embasou a sua produção artística e muitos dos personagens que a constitui. Por essas e outras, hoje Bráulio de Castro tornou-se uma das maiores referências artística viva de Bom Jardim e é sem sombra de dúvida, um daqueles que, que de modo indelével, escreveu o seu nome na cultura não apenas do município, mas de toda a região e do país como já revelamos em matérias anteriores.
Quanto ao carnaval, o artista faz-se presente de modo muito constante enquanto compositor e idealizador de projetos diversos que envolvem temas referentes a essa festividade. Envolto de corpo e alma no carnaval, Bráulio de Castro é autor de frevos canções, frevos de bloco entre outros variantes que nos remetem à folia de momo, sem contar a sua participação em contextos como os blocos "O homem quando nasce", o bloco "Bacia d'água". Participante ativo dos últimos grandes festivais de frevo existentes no Estado, Bráulio nesse contexto soma vários prêmios como o primeiro lugar no "Festival Recifrevo" com "Bloco para Getúlio Cavalcanti", defendido pelo Coral Recifrevo. Neste mesmo festival alcançou o 4º lugar com a música "Moysés, o Menino da Sombrinha" e conseguiu destaque com a música "Tire a Jangada da Frente", "Faísca" (composta em parceria com Dimas Sedícias) e "Descompassado", parceria com Fátima de Castro. Em outros festivais do Recife como "Frevança", ganhou o 1º lugar com a canção "Maracatu Quilombo", provando em definitivo que a sua relevância para a música pernambucana e para esta festividade que expressa tanta alegria e autenticidade do nosso povo.
Essa inspiração mantém-se presente na vida e na obra do artista como é possível presenciar no próximo dia 13 deste mesmo mês, no Teatro de Santa Isabel, quando o cantor e compositor Ed Carlos participará da grande final do Festival Nacional do Frevo defendendo o Frevo Canção "Claudionor, o Menino do Frevo", de autoria de Bráulio de Castro e João Araújo, com arranjo de Fábio Valois. A canção trata-se de uma homenagem ao maior baluarte vivo do gênero que é Claudionor Germano, que prestes a completar 86 anos traz consigo 70 carnavais em sua bagagem artística como ele mesmo costuma dizer: "Tenho 70 anos de atividade artística; quando comecei já cantava frevo". Essa canção em homenagem ao maior intérprete não apenas de compositores como Capiba e Nelson Ferreira, mas do gênero; é uma prova inconteste de que o frevo não pode esmorecer... mas para que não aconteça tal fatalidade faz-se necessário valorizar aqueles que ainda insistem em buscar em manter viva essa chama da cultura que muitos insistem em tentar apagar. O ideal é que possamos partir do princípio de que a valorização do frevo vai muito além do simples reconhecimento, devemos apreender que a valorização deve partir do reconhecimento do frevo como identidade de um povo que tem um gênero musical como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Nesse aspecto, Bráulio de Castro despretensiosamente faz um papel que caberia não a ele enquanto artista, mas a muitos nomes que regem o contexto político-cultural do nosso Estado.
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