Parceria que deu certo na música e na vida, o casal traz no currículo mais de 70 canções compostas
Por Bruno Negromonte
A história das parcerias dentro da música popular brasileira vem desde os primórdios da canção tupiniquim. Se partimos para a pesquisa em busca de informações acerca desse detalhe veremos inúmeras duplas que fizeram história dentro da MPB como é o caso de nomes como o do polêmico casal Herivelto Martins e Dalva de Oliveira. Essa relação talvez tenha sido aquela que mais tenha contribuído com o nosso cancioneiro popular. Se em um primeiro momento a dupla era responsável pelo registro de antológicas canções, ao se separar, Herivelto expressou no papel toda a mágoa e ressentimento existente em seu âmago enquanto Dalva respondia com sua belíssima voz as mais distintas provocações. São dessa época clássicos como "Tudo Acabado", "Que Será", "Errei Sim", "Falso Amigo", "Calúnia" e "Palhaço", para citar apenas alguns. Outras parcerias exitosas existiram dentro da MPB como é o caso da dupla Clara Nunes e Paulo César Pinheiro, nome este responsável não apenas pela produção de oito long plays da saudosa cantora como também por escrever alguns dos seus maiores sucessos. Parcerias que vão para além do palco, dentro de nossa música, podemos citar diversas outras, dentre as quais nomes como o da dupla Cascatinha e Inhana, sucesso absoluto na década de 1950 a partir da gravação de guarânias e outros ritmos ligados as raízes musicais brasileira; do casal Roberto de Carvalho e Rita Lee, responsáveis por inúmeros hits de relevância nacional a partir da segunda metade da década de 1970; Lucinha e Ivan Lins, Baby Consuelo e Pepeu Gomes, Jane e Herondi entre tantas outras que estendem-se dentro da música brasileira até os dias atuais como é o caso da parceria entre os cantores e compositores Mallu Magalhães e Marcelo Camelo.
Dentro desse contexto, na música nordestina podemos destacar alguns casos de extrema relevância para o cancioneiro da região. Acredito que o primeiro a ser notoriamente relevante tenha sido a parceria entre Abdias dos 8 baixos e Marinês (que ainda deixaram como herança musical para a nação nordestina o produtor, cantor e músico Marcos Farias, filho da saudosa dupla), essa talvez tenha sido a primeira parceria palco/vida pessoal realmente de expressão dentro da música popular nordestina de merecido destaque. No entanto, dentro do forró, ainda é possível citar outros casos como o da dupla Glorinha Gadelha e Sivuca, responsáveis por diversas parcerias musicais, dentre elas a já clássica "Feira de Mangaio", gravada inicialmente pelo próprio Sivuca, e posteriormente incorporada ao repertório de Clara Nunes no LP "Esperança", de 1979, tornando-se um dos grandes sucessos da cantora. Dentro deste contexto ainda há a dupla Antônio Barros e Cecéu, autores de mais de 700 canções e dezenas e dezenas de regravações, constituindo assim um dos mais expressivos acervos do forró a partir da década de 1960, onde muitos tornaram-se clássicos nordestinos. Muitas dessas músicas que ganharam notoriedade não apenas na região, mas consagraram-se nacional e internacionalmente, na voz de diversos intérpretes ao longo dos anos de casamento e parceria musical dessa dupla de paraibanos. Na hora de animar um arrasta-pé, não há quem não recorra a alguma produção da dupla, pois como diz Cecéu: "O repertório passa pela tradição nordestina". é de autoria da dupla canções como "Bate coração", "É proibido cochilar", "Homem com H", entre outras canções que ganharam o gosto popular.
É nesse contexto que também se destaca uma outra parceria músico-afetiva aqui da região: Bráulio e Fátima de Castro, casal que estão envolto ao universo musical há mais de cinco décadas. Uma característica de merecido destaque é o fato de que, diferente das duplas anteriormente citadas aqui da região, a dupla para a felicidade geral de todos, não restringe-se a compor apenas determinado gênero e nem busca pautar-se em apenas um ritmo para constituir aquilo que tem por obra. No rico acervo da dupla pode-se citar quase oito dezenas de canções registradas em discos que vão do contagiante ritmo do frevo, perpassando por sambas, forrós, bossas e sambas e música de cunho romântico. Para ser mais exato e preciso, em números, a exitosa parceria apresenta registrado 32 frevos de bloco, 16 frevos-canção, 8 sambas, 4 forrós e 15 músicas românticas, comprovando em definitivo que a parceria foge de qualquer tipo de rótulo que possa vir existir e mostrando um ecletismo pouco comum a este tipo de parceria musical a ter por exemplo todos os exemplos citados ao longo desta matéria.
Exímia instrumentista, Fátima de Castro em duo com Bráulio mostra-se capaz de atender ao manancial de inspiração do compositor a partir do seu instrumento. Já Bráulio, tendo ao seu lado uma violonista refinada e de bom gosto como a esposa mostra-se singular ao oportunizar-se abordar as mais recônditas emoções existentes na figura humana, assim como os mais distintos estados de espirito. Uma dupla realmente feita sob medida um para o outro e para nos agraciar com aquilo que melhor e mais abrangente a música pode nos oferecer como é possível atestar dentro das composições existentes. Essa afirmação se faz verídica a partir de registros de autoria da dupla canções como, por exemplo, o frevo de bloco "Foliando" (lindamente registrada por Fátima em duo com Walmir Chagas) e tantas outras que encantam e que eternizaram-se em discos a exemplo do último álbum gravado por Fátima cujo título (Bossas e blues) apresenta em seu título a abrangência característica na produção da dupla. Tal característica é possível observar também no bojo do trabalho em canções como "De repente", "Minha presa", "Palavras mal ditas", "Deixa doer" como já vimos aqui mesmo no Musicaria Brasil. São contextos como este que nos fazem piamente acreditar que na máxima cantada em verso e prosa pelo saudoso cantor, instrumentista e compositor baiano Raul Seixas: "Sonho que sonha só, é só um sonho que se sonha só... Mas, sonho que se sonha junto é realidade".
1 comentários:
Gigante Fátima 🌹
Postar um comentário