terça-feira, 17 de julho de 2018

ENTRE GÊNEROS E RITMOS UM NOME SE DESTACA

De uma criatividade singular, o autor e cantor bonjardinense sabe como poucos transitar pelas mais distintas veredas musicais existentes.

Por Bruno Negromonte


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Quem considerar que fazer uma música é uma tarefa fácil, arrisque-se. Não é fácil... Gilberto Gil, autor de inúmeros sucessos e que traz sua indelével marca dentro da composição brasileira costuma dizer que a música é tirana. Muitos autores em dado momento já perceberam que a inspiração é melindrosa, pois em dado momento facilmente usa o compositor como elo para deixar-se registrar de algum modo e em outros não, a mesma tortura o autor tirando-lhe o máximo, exigindo do posta ou instrumentista um sacrifício singular. Talvez seja por isso haja autores que buscam dedicar-se a apenas um gênero, pois de tanto exercitar as métricas daquele determinado ritmo acaba por habituar-se a compor de modo redondinho aquela marchinha, aquele samba ou qualquer outro ritmo. No entanto há aqueles que se arriscam a passear pelos mais distintos ritmos, debruçando-se muitas vezes em gêneros bastante diferentes. É válido salientar que tal contexto em sua maioria não traz como característica aquilo que se preza e define-se como qualidade, pois nesse cenário de compositor "clínico geral" tais autores (muitas vezes por pura soberba) dispensam o refinamento e apuro estético para apresentar quantidade em detrimento à qualidade, pois atendendo aos ditames do mercado fonográfico atual é o que importa, um cenário musical composto por sucessos efêmeros, mas de cifras astronômicas. A sorte e salvação de nossa música ainda é a existência de um contexto que destoa totalmente dessa triste realidade e que buscam obstinadamente prezar por características maiores mesmo fazendo que tais autores fiquem à margem dos principais canais midiáticos. Infelizmente é o preço que se paga por ir de encontro as regras de jogo.



Indo de encontro ao mercado, batendo de frente com a falta de apuro estético, melódico e poético é que surgem os melhores autores. Compositores que por essas características acabam tornando-se atemporais ao ponto de permanecerem no conhecimento popular por décadas como é o caso de relevantes nomes de nossa música. Quem hoje não conhece Noel Rosa e a obra deixada por ele em tão pouco tempo de vida? Prova inconteste dessa afirmação são canções como "Com que roupa?", "Feitio de oração", "Último desejo" entre outras que caíram no gosto popular e perduram nesse contexto por características que vão além do que se ver. Outro destaque no universo do ecletismo autoral brasileiro da primeira metade do século XX foi  Lamartine Babo, que passeou por valsas (como a clássica "Eu sonhei que tu estavas tão linda"), marchinhas carnavalescas e outros gêneros sem nunca deixar de prezar pelo apuro estético. Nomes como estes citados serviram e vem servindo como exemplo para muitos daqueles que enveredaram para a música popular brasileira no passar dos anos, principalmente a partir da década de 1960, onde começaram a predominar dentro da nosso cancioneiro distintos gêneros musicais sobre a influência dos mais variados elementos. Foi neste cenário, onde a partir de uma profícua conjuntura geográfica e familiar, que surge o jovem autor Bráulio de Castro, pernambucano que bebeu da fonte de compositores como Levino Ferreira, um dos mais representativos nomes do frevo. Daí para passear por outros representativos gêneros de nossa música foi um passo. E ao tomar conhecimento de sua capacidade de que o seu ecletismo estava aliado a características mais nobres, o autor começou uma produção de fazer inveja a muitos autores nacionais.

Hoje, sem sombra de dúvidas, Bráulio de Castro encontra-se presente neste panteão dos grandes e diversificados autores da música popular brasileira. Um feito merecidamente conquistado ao longo de mais de cinco décadas de carreira e que pode ser atestado na voz dos mais variados nomes (inclusive muito destes intimamente atrelado a gêneros como é o caso do "sambista" Cyro Monteiro e do "forrozeiro" Genival Lacerda). Em centenas de composições, um dos mais representativos nomes da música pernambucana dos últimos 50 anos traz como único elemento de ligação e coerência nestes "passeios" pelos mais distintos gêneros o apuro estético e o zelo. Bráulio parece trazer em seu matulão os elementos precisos para compor sambas, bossas, frevos e seu variantes, emboladas, forrós, maracatus entre outro sem precisar apelar para aquilo que não preza por qualidade, e pautado nesta característica não só sabe, mas passeia como poucos na vasta colcha de retalhos que é a nossa cultura. Poucos são os nomes que conseguem tamanha façanha como é passivo de pesquisa tal afirmação, reafirmando a sua importância como autor.

Uma característica interessante na obra do autor bom jardinense é a fuga de suas ideologias. A obra de Bráulio busca enfatizar outras características inerentes a canção. Enaltecer a alegria e outros elementos de características mais simplórias e muitas vezes mais nobres não o faz fugir de temas relevantes como é possível perceber na canção "Consertar o mundo", parceria sua com J. Costa. As sensações que busca transmitir naquilo que faz é a prova inconteste de que a música transcende estigmas, vai além do óbvio e daquilo que temos por visão. Para que isso seja observado é preciso sensibilidade, mas para se fazer isso é preciso ir além da observação. É preciso trazer consigo elementos maiores... uma carga de emoção, sensibilidade e poesia dosada com elementos de características não menos secundários pautados em contextos humorísticos, melódicos entre outros. Coisas muito presentes na produção deste compositor aqui apresentado. Cinco décadas de música, centenas de intérpretes e a certeza de que, mesmo sob as mais distintas adversidades existentes o ofício de compor vale a pena. A abnegação em nome da arte, da alegria e de outros elementos de contextos muitas vezes pessoais, só nos traz a certeza de que aqueles que dedicam-se de corpo e alma à Deusa música não são apenas privilegiados, mas sim escolhidos como representantes maiores de um dom o qual são poucos aqueles que de fato são agraciados e fazem jus a este desígnio. Que bom que a música brasileira sempre foi pródiga neste sentido. Que bom que Pernambuco é celeiro de grandes autores, cantores e compositores. Que bom ser conterrâneo de Bráulio de Castro e, ao ouvir determinada canção sua em qualquer lugar do planeta, poder encher o peito e dizer: "Sabia que esta música foi composta por um conterrâneo meu?"












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