sábado, 24 de março de 2018
PETISCOS DA MUSICARIA: ENSAIO SOBRE TEMPO E ESPAÇO NO MUNDO DO CAOS
Stephen Hawking
Queria falar de ontem. Melhor ainda, falar de amanhã, projetos. Queria falar do agora, já, imediatamente.
Às vezes, falta texto, contexto, suor/inspiração. Quando retiro o elmo que reveste o personagem, fico nu, perplexo diante de tudo, todas as coisas cruéis e gentis desse suceder de noites e dias sem fim.
A memória é o melhor reduto para se ficar equidistante de tempos e espaços. Permite viajar, arruar, imaginar, sentir, cheirar, deixar-se molhar pelos pingos de chubas, orvalhos, ares de montanha e brisa de spray à beira-mar. O cume. A Cimeira. A maior visão do mundo (Everest? K2?).
Não existe melhor sensação de poder do que estar no mais alto da pedra do Baú, na encantadora Campos do Jordão-SP.
Campos é a Mantiqueira que, vocacionada para sanatórios, se espalha em beleza, campanhas, várzeas, hectares sem fim. É o panótico do Vale do Ribeira. A encruzillhada perfeita entre São Paulo, Rio e Minas Gerais, olhando para trás.
Quem deixa Campos de trem, cuidado: a volta pela velha estrada de ferro Pindamonhangaba-Campos, pode acabar em Santo Antonio do Pinhal, por acaso.
Há momentos, como na antiga Santos-Jundiaí, que não vemos os trilhos tocarem nas dormentes, é preciso atenção no ruído.
O Mundo é um Moinho, de Cartola, por Cartola
Falar de depois de amanhã é muita pretensão para um homem comum. Quem diria que teríamos uma semana tão conturbada, esta última que terminou no sábado. Nesse caos já estabelecido, que é a sociedade que criamos.
Stephen Hawking, 76 anos, alojou-se num buraco negro e foi trabalhar, sem forma humana, já disforme por ELA, resolvendo questões no silêncio, buscando a origem da vida e apontando a necessidade de uma nova Terra, a “próxima B”.
Ainda desafiando aqueles que se escoram num Deus etéreo para resolver problemas comesinhos, gastando o tempo do Senhor. Hawking se entocou, mas a “velha” pergunta ninguem a fez.
Aqui mais no nosso quintal – e noutra dimensão – uma perda difícil para quem gosta de esportes. Bebeto de Freitas, sócio-fundador-torcedor e todo feito de Botafogo Futebol e Regatas foi bater uma bola com o primo Heleno (o dândi), ensinando o vôlei ao tio João Saldanha. Hoje, 68 anos é quase um moço.
E a vereadora Marielle Franco, esta sim, jovem de tudo, 38, assassinada com balas 9 mm, quatro delas furando-lhe o seu rosto, muito bonito, da beleza negra, da mulher, militante de mil causas e que se torna um “case” de mídia avassalador por todos os seus significados. Desde o início da notícia do fato, apreciei que falassem do Anderson Gomes, o Motorista, com igual ênfase.
Afinal, em casos semelhantes, fala-se da celebridade morta, acompanhada de um piloto, copiloto, um motorista, um guarda-costas, um anônimo que fazia as vezes de anjo da guarda. Em geral, tratado pelo pré-nome. Nota à parte: tenho pavor de Uber, embora não conheça seus serviços.
Preciso me Encontrar, de Candeia, com Ney Matogrossso
Volto ao agora e me movimento em pensares. À mente, dois pensamentos de Brecht: o primeiro – “Infeliz do povo que precisa de heróis”.
Depois, o magnífico aforismo: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons; porém, há os que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis”.
Sem entrar no mérito da monumental obra de Bertold Brecht, os dois apotegmas que proferiu, deixam-me definitivamente confuso, pois se acredito num conceito, abandono o outro, por uma razão lógica. Um propõe o mérito; o outro, o bem-estar pela inércia.
Falei de ontem, de anteontem e nem cheguei ao Planalto, ao STF e ao Congressso, masmorras onde são tramados os desenganos da nação. Nem o alento pelos encarcerados, pois, dependendo da sentença do ministro, alguns/muitos se livram em liminares e postergações, como sempre foi.
Vindo por rodovia de Campos do Jordão, passo em Taubaté-SP, ambiente onde Monteiro Lobato fez reinações e causou polêmicas, além da alegria de crianças juvenis.
Sigo e entro em São Luiz do Paraitinga-SP, terra de Oswaldo Cruz, de um belísimo carnaval (de Juca Teles, as marchinhas), o bucolismo do Vale do Paraíba, tão acolhedor.
Sei não, aqui da minha toca, onde visito passados, presentes e futuros, às vezes fico pensando: um heroizinho de vez em quando faz bem!
Até semana que vem..
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