Quatro décadas após sua morte, Valzinho é lembrado por sua obra e importância dentro da MPB
Por Laura Macedo
Valzinho (Norival Carlos Teixeira)
Compositor / Violonista / Cavaquinista
* 26/12/1914 – Rio de Janeiro (RJ)
+ 25/01/1980 – Rio de Janeiro (RJ)
Paralelamente participava, também, do conjunto “Clube da Bossa” liderado pelo amigo Garoto (Aníbal Augusto Sardinha), com quem compôs algumas músicas.
Peterpan e Valzinho
Sua primeira composição foi elaborada em 1938 – “Tudo foi surpresa” -, em parceria com Peterpan. Composição que fez sucesso nas gravações de grandes nomes da Música Popular Brasileira, como Aracy de Almeida (1940), Raul Moreno (1959), Elizeth Cardoso (1971), Cristina Buarque de Holanda (1979), Zezé Gonzaga (1979) e Muiza Adnet (2014). Esta é uma das minhas preferidas.
Confiram as interpretações de Dalva de Oliveira; do próprio Valzinho durante uma reunião na residência do Hermínio Bello de Carvalho, em 19/08/1970. (Colaboração de Edgard Costa [sobrinho de Valzinho]) e das jovens Muiza (voz) e Antonia (violão) Adnet.
https://www.youtube.com/watch?v=C2tRhzXONXE align:center]
Valzinho, em 1946, emplacou o sucesso de sua música – “Tormento” – gravada por Orlando Silva que, infelizmente, ficou esquecida, apesar da beleza da canção.
O outro grande sucesso de Valzinho foi “Doce veneno”, em parceria com Carlos Lentini e Esperidião Machado Goulart, gravado inúmeras vezes e título do seu único disco “Valzinho: Um doce veneno – Zezé Gonzaga & Quinteto Radamés Gnattali”, em 1979. A bendita iniciativa do disco foi do grande Hermínio Bello de Carvalho. Mencionei “bendita” porque no ano seguinte, 1980, Valzinho faleceu vitimado por uma trombose cerebral. Ele, Hermínio, teve ainda que solicitar do Serviço de Censura a liberação das músicas que comporiam o disco. (Abaixo foto do documento).
Valzinho e Zezé Gonzaga em estúdio gravando o LP Doce Veneno
“Doce veneno” ainda foi gravado por Jamelão, Gaúcho e Orquestra, Cynara, Elizeth Cardoso, Britinho e Orquestra, Humberto Aragão, Maria Creuza, em um LP que levou o nome da música, e Paulinho da Viola, entre outros.
Valzinho e a cantora Bidu Reis
Jornal O Dia / Coluna Cantinho das Canções, de Almirante, em 30/7/1972 (Fonte: Blog Os Teixeiras).
Cyro Monteiro, Radamés Gnattali, Nelson Gonçalves e Carmélia Alves.
Valzinho era muito querido por todos. Os amigos gostavam de oferecer fotos autografadas, costume muito comum na época. Como sou da década de 1950, lembro muito dos álbuns dos meus pais com as fotos autografadas.
VALZINHO 100 ANOS – COMEMORAÇÕES
As comemorações do Centenário de Valzinho foram sob a batuta do seu sobrinho Edgard Costa – historiador/programador de computadores e criador do GavezDois -, um podcast de música que já emplacou uma década.
É via GavezDois que Edgard elaborou e disponibilizou uma série especial de programas com as músicas de Valzinho, que contou com primoroso trabalho de pesquisa da violonista Antonia Adnet e um baita time de cantores (as), violonistas e pianistas sob a direção de Delia Fischer. São programas super deliciosos permeados de emoção e histórias, inclusive, inéditas relatadas pelo Edgard.
“Eu e o tio Valzinho:
Ele era padrinho de meu irmão mais velho. Mas era uma pessoa fabulosa e não havia quem não gostasse dele.
Aí nesta foto eu, com uns 4 anos a presumir pela aparência dele antes de ter um enfarte em 1965, e a mãe dele, minha avó, Niza Chaves Teixeira, pianista e uma das pessoas que incentivou a musicalidade de Valzinho.
Esta foto foi tirada em Teresópolis, na entrada de um pequeno apartamento que ele tinha nesta cidade da serra fluminense”.
(Edgard Costa/2012).
Valzinho compôs duas músicas com Orestes Barbosa – “Óculos escuros” e “Imagens”, gravadas respectivamente por Paulinho de Viola e Jards Macalé.
“Óculos escuros” (Valzinho/Orestes Barbosa) # Paulinho da Viola. LP Paulinho da Viola, 1971.
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“Imagens” (Valzinho/Orestes Barbosa) # Jards Macalé. Álbum Aprender a Nadar, 1974.
Jards Macalé fala sobre seu encontro com Valzinho, da beleza da letra de “Imagens” e sobre o centenário do compositor. Vale a pena conferir.
https://www.youtube.com/watch?v=RkU-UoVbcew align:center]
Confiram, também, os depoimentos de Zé Menezes e Omar Frazão em homenagem aos 100 Anos de Valzinho.
[video:https://www.youtube.com/watch?v=UQaGhoIX6hE align:center
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Em 1960, a cantora/compositora Alaíde Costa estava super envolvida nos ensaios do seu próximo show. A direção da RCA Victor gostou tanto dos resultados dos ensaios que resolveu transformá-los em disco. Eis que surge – “Joia Rara”, contemplando uma composição de Valzinho.
Vamos ouvir agora algumas músicas inéditas de Valzinho, exclusividade do projeto de resgate da obra de Valzinho, coordenado pelo Edgard Costa, via GazesDois.
“Minha paz” (Valzinho) # Marya Bravo (voz) / Antonia Adnet. Segundo seu sobrinho Edgard esta música era umas das preferidas de Valzinho.
“Arrependimento” (Valzinho/Delia Fischer) # Delia Fischer (voz/piano).
“Deslealdade” (Valzinho/Armando Louzada) # Marya Bravo (voz) /Antonia Adnet (violão).
“Oração” (Valzinho/Jararaca) # Alfredo Del-Penho (voz) / Antonia Adnet (violão).
Mais alguns Depoimentos de pesquisadores/admiradores de Valzinho
O texto que acompanha a foto é de uma longa entrevista que Radamés Gnattali concedeu a Dirceu Soares da Revista Afinal, em 28/1/1986, página/43.
“Valzinho foi, sem dúvida, um dos precursores da bossa nova. Era venerado tanto por Tom Jobim como também pelo Maestro Radamés Gnattali, que, aliás, fez todos os arranjos do LP “Doce veneno”, gravado por Zezé Gonzaga, e editado pelo Museu da Imagem e do Som. O LP condensa boa parte da obra daquele compositor. Esse trabalho infelizmente, ainda não foi reeditado. Quanto a Zezé, era – isso eu tenho a declaração gravada – a cantora favorita de Radamés”. (Hermínio Bello de Carvalho).
“Valzinho é um desses milagres brasileiros que acontecem por aí sem que a gente perceba. As inovações harmônicas e melódicas que adotou atravessaram todas as fases ditas revolucionárias (inclusive a bossa nova) desse período sem que ficassem superadas. E são inovadoras mesmo. Não nasceram como resultado de modismos”. (Sérgio Cabral – Jornal O Globo, em 9/5/1979).
Sobre o LP Doce Veneno o crítico musical José Ramos Tinhorão escreveu: “O disco mostra como Zezé e Valzinho são atuais”.
“Alguns artistas mais abertos e sensíveis, especialmente os novos, gravaram suas músicas. São registros preciosos para quem quiser desvendar o mistério de um artista à frente de seu tempo. O precursor não é necessariamente bem sucedido, mas apresenta ferramentas que serão fundamentais no sucesso de quem virá depois. Valzinho é, seguramente, um desses casos”. (Mario Adnet).
Um grande presente para os fãs de Valzinho é o resgate que Edgard Costa fez das gravações que o Hermínio Bello de Carvalho produziu em sua casa, em 19 de agosto de 1970, onde Valzinho toca violão e canta suas inovadoras composições.
Edgard observa que o documentário histórico “incluí somente as músicas que estavam em melhores condições de audição, pois muitas delas estavam bastante estragadas por causa de defeitos na fita em que foi feito o registro. Justiça feita a obra deste compositor e violonista genial que passou, como disse o recém-falecido Zé Meneses, como um ET por nosso planeta, e parece que pouca gente viu”.
– “Apresentação, com Hermínio Bello de Carvalho e Valzinho”
– “Três de setembro” (Valzinho / Renato Batista)
– “Imagens” (Valzinho / Orestes Barbosa)
– “Amar e sofrer” (Valzinho)
– “Teu olhar” (Valzinho / Garoto)
– “Óculos escuros” (Valzinho / Orestes Barbosa)
– “Viver sem ninguém” (Valzinho / Marcelo Dória Machado)
– “Gostar de Ninguém” (Valzinho / Hugo Almeida)
– “Não convém” (Valzinho / Jorge de Castro)
– “Minha paz” (Valzinho)
– “Não sei porque” (Valzinho / Luperce Miranda)
– “Tudo foi surpresa” (Valzinho / Peterpan)
Em dezembro de 2013, fiz uma pequena homenagem ao Valzinho, motivada pelo Hermínio Bello de Carvalho e sua “Oficina de Coisas e Reparos”. A partir daí iniciei uma garimpagem sobre sua vida/obra, inicialmente sem muito sucesso, até encontrar o Blog dos Teixeiras e, logo depois, a página “Os Teixeiras: Valzinho, Newton Teixeira e família”, mantida no Facebook por Edgard Costa.
Quando pesquisamos, por algum tempo, sobre um determinado artista acabamos estabelecendo um vínculo afetivo com o homenageado. Com Valzinho não foi diferente. A cada nova descoberta uma alegria, a exemplo da abordagem feita por Mario Adnet e a seleção de músicas de Valzinho, publicadas no site do Instituto Moreira Salles (IMS).
A indagação é inevitável: Por que um compositor do quilate de Valzinho não é tão conhecido do grande público? Eu, sinceramente, não sei responder. O que eu sei é que ele foi um gigante no seu mister de compor, antecipando o que viria a ser chamado de movimento bossanovista. O Brasil precisa redescobrir a gênese da Bossa Nova pela obra de Valzinho, resgatando-o e colocando-o entre os grandes nomes da nossa Música Popular Brasileira.
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