Por Laura Macedo
Noel Rosa e Vadico – Feitiço da Vila, por Laura Macedo
Noel Rosa foi um dos inventores da samba urbano, com letras sem leteratices, usando da linguagem coloquial das ruas em rimas elaboradas, que continuam atuais quase um século depois de criadas.
Composto em parceria com Vadico [Oswaldo Gogliano/1910-1948] e lançado em disco em dezembro de 1934 pelo cantor João Petra de Barros (1914-1948), ‘Feitiço da Vila’ é exemplar da força e da beleza alcançadas por sua arte.
Com essa declaração de amor ao samba e ao bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, onde nasceu e viveu, Noel de Medeiros Rosa (1910-1937) dava prosseguimento à sua célebre polêmica com o compositor Wilson Batista (1913-1968), que rendeu grandes canções de ambos os lados.
Em 1933, o então iniciante Batista tinha apresentado suas armas com ´Lenço no pescoço’, samba que fazia apologia à malandragem. Noel não gostou da associação e deu início à com briga ‘Rapaz folgado’. E, quase dois anos depois, reafirmou sua posição, acenando com um samba de ´feitiço decente, sem farofa, sem vela e sem vintém´.
Houve quem enxergasse, na referência pejorativa ao candomblé, traços de racismo na canção, mas a obra e a vida de Noel não deixam dúvidas. Boêmio e farrista inveterado, o Poeta da Vila esteve mais perto da malandragem, que constatou a polêmica com Batista, do que da classe média, cujo balde chutou sonoramente. Largou o curso de Medicina para fazer samba numa época em que artista era considerado sinônimo de vagabundo e malandro.
Teve convivência estreita com sambistas negros, entre os quais Cartola e Ismael Silva, numa relação de parceria e amizade, sem a exploração e a compra de músicas que, estão, era prática comum de tantos intérpretes e compositores brancos. Ele também trocava o dia pela noite transitando entre a Lapa, o Estácio e os morros do Rio, e a sua paixão pela boêmia é exaltada em ‘Feitiço da Vila’.
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